Geralmente antes de comprarmos algo, pesquisamos sobre aquilo, certo? Isso acontece em compras comuns do nosso dia a dia, mas é recomendável que também tenhamos esse cuidado quando o assunto é a manutenção do veículo. Há tantos anúncios e ofertas com preços excelentes que acabam despertando aquela pulga atrás da orelha a respeito de sua qualidade.
Um caso muito comum dessa situação é com o amortecedor recondicionado. O valor dele, é claro, chama muita atenção. Mas realmente vale a pena? Ou o barato sai caro?
Confira a nossa análise a seguir…
Na maioria das vezes, empresas que fazem o serviço de recondicionamento do amortecedor realizam apenas a substituição do retentor de haste, injeção do gás (oxigênio/nitrogênio) e/ou troca do fluído hidráulico (óleo) por um de viscosidade mais alta. Isso ocorre pois os desgastes internos que o amortecedor sofre são verificados nas válvulas internas de carga, nas vedações do pistão e no tubo de pressão que, depois de desgastados, não existe retrabalho que consiga fazer com que estes componentes voltem às condições ideais de segurança e funcionamento.
Nas válvulas de carga, existem pelo menos 7 anéis de aço inox conformados a frio de cada lado da carcaça (compressão e extensão) que permitem a passagem controlada de óleo de acordo com a velocidade de funcionamento da suspensão. Depois que esses anéis de aço perdem a tenacidade, só voltam a condição funcional se forem substituídos. Além disso, a vedação do pistão principal (banda de teflon PTFE*) também sofre desgaste e ocasiona o efeito de perda de ação.
Sabemos que existem mais de 180.000 modelos de veículos fabricados hoje em dia e, para cada modelo de veículo, existe uma “receita” de funcionamento (cargas) que são desenvolvidas de acordo com as características exigidas pelas montadoras. Portanto, é praticamente impossível para um uma empresa que faz o serviço de recondicionamento ter aceso a esse gigantesco banco de dados pertencentes aos fabricantes de amortecedores e garantir que o produto por ele retrabalhado volte a apresentar as condições de segurança e desempenho necessárias.
A substituição do fluído hidráulico por um de maior viscosidade só faz com que o óleo tenha uma maior dificuldade em passar pelo interior das válvulas de carga, dando a impressão de que voltou ao seu pleno funcionamento – no entanto, é só uma impressão mesmo.
Acreditar que um amortecedor recondicionado é seguro é o mesmo que estar nadando num mar infestado de tubarões com um corte na perna. Para os fabricantes de amortecedores OEM (montadoras), a segurança é primordial mesmo em amortecedores que por ventura não sejam por eles fornecidos para a linha de montagem; a qualidade do produto que vai para o mercado de reposição mantém exatamente as mesmas especificações exigidas no produto original. Se fosse tão fácil e valesse a pena, os fabricantes de amortecedores fariam eles mesmo a remanufatura de seus produtos, mas o custo dessa operação – incluindo transporte e armazenagem – pode, na maioria das vezes, ser superior ao de um produto novo.
Precisamos lembrar de algo muito importante: o desgaste em amortecedores de um mesmo eixo nunca é igual, pois cada roda segue um caminho distinto. É natural que, com o passar dos quilômetros rodados, a diferença de ação em amortecedores do mesmo eixo cause um desequilíbrio na dinâmica veicular quando essa diferença percentual for maior que 35%. Por isso, a indicação de verificação e de troca é a partir de 50.000 km – e nos produtos recondicionados certamente já existe essa diferença.