Bate-papo com Ranieri Leitão: Tudo sobre inspeção técnica veicular no Brasil

No ano de 2011, o Brasil se comprometeu com a Organização das Nações Unidas (ONU) a cumprir com a redução das mortes no trânsito pela metade. Infelizmente, a promessa não foi cumprida. Há 9 anos, o Brasil registrou 44.553 mortes resultantes de acidentes de transporte. O número baixou para 33.625 em 2018 (último balanço divulgado). A redução foi de 24,53%, mas ainda com cem mil óbitos a mais que o previsto para 2020.

Regularmente, uma tragédia causada por um veículo sem freios vem lembrar ao país que falhas mecânicas também devem ser combatidas. Outros fatores como respeito às leis de trânsito (por exemplo, respeitar os limites de velocidade) também são fundamentais para que os acidentes no tráfego sejam evitados. No entanto, o problema vai além. A Inspeção Técnica Veicular torna-se essencial para proteger os cidadãos de acidentes que acontecem devido à falta de manutenção nos veículos. Automóveis em baixas condições de manutenção trafegando em vias públicas podem causar estragos, que muitas vezes, são irreversíveis.

Durante este período de pandemia do coronavírus na qual estamos vivendo – e até mesmo quando ocorrer o pós-pandemia, muitas pessoas evitarão se deslocar via aérea e investirão mais em viagens por rodovias. E é aí que a inspeção veicular se torna ainda mais importante, além de, consequentemente, manter o nosso mercado de reposição aquecido.

Para falar sobre o assunto com mais propriedade, entrevistamos o Presidente do Sincopeças Brasil, Ranieri Leitão, para nos contar mais a respeito da importância da Inspeção Técnica Veicular, como será realizada no Brasil e também sobre outros temas relevantes, como tendências e perspectivas para as feiras automotivas.

O que faz a Inspeção Técnica Veicular? Qual é a sua importância e as suas vantagens?

Ranieri Leitão: A Inspeção Técnica Veicular (ITV) tem um objetivo primordial, que é a conservação dos veículos no País, nos quais precisam estar aptos para o uso adequado. Ou seja, ao realizar a manutenção preventiva em sintonia com as exigências da ITV, você vai ter um país rodando muito melhor: sem carros criando problemas de trânsito por conta de pane, estradas menos obstruídas, além de evitar muitos acidentes que acontecem por causa da falta de manutenção dos veículos.

Por exemplo, imagine que você está dirigindo em uma estrada e há uma curva de aproximadamente 60 graus. Se você for fazer essa curva há 80km/h e esse carro estiver com seus amortecedores em bom estado, a curva será feita de uma maneira. Se os amortecedores estiverem ruins, será feita de uma forma completamente diferente e também mais perigosa, podendo até mesmo sair com o veículo da estrada.

“Hoje Em Dia, Temos Uma Imensidade De Veículos Que Causam Acidentes Por Defeitos Mecânicos, Os Quais Poderiam Ser Totalmente Evitados.”
O que é verificado na ITV?

RL: Prioritariamente, é verificada a parte de suspensão, que é a parte under car (debaixo do carro), de freios, de gases, de luzes, limpador de para-brisas e pneus – é totalmente diferente a projeção de um carro quando se faz a frenagem com os pneus em perfeito estado comparado a um veículo com o pneu “meia vida” ou pneu careca.

Neste primeiro momento da ITV no Brasil, já foi solicitado ao DENATRAN (Departamento Nacional de Trânsito) que coloque como prioridade a inspeção na parte de suspensão e freios, que são primordiais.

Também incluiremos a manutenção de luzes, que é bastante simples. Veja bem, uma coisa é você dirigir um carro com faróis em ordem, e outra é você dirigi-lo com as luzes apagadas, queimadas, o que é extremamente arriscado. Por isso, a inspeção nas luzes também é fundamental.

A ITV é funcional no Brasil?

RL: Sem dúvidas. A ITV é funcional em qualquer país que tenha a atitude de promover e entender a sua importância, pois é essencial para evitar os desastres e acidentes de trânsito. Atualmente, a ITV existe e já está em prática na Argentina, no Chile, México, Estados Unidos, Alemanha, França, Inglaterra e Espanha.

Existem inspeções técnicas veiculares para diferentes tipos de veículos: os de linha leve, de linha pesada, veículos que transportam estudantes, outros que transportam cargas, os coletivos, etc. Todos são inclusos. E no Brasil vai funcionar muito bem, é só questão de atitude. Deixar a politicagem de lado e pensar no País.

Os números das revisões dos veículos aumentarão?

RL: Irão aumentar consideravelmente no primeiro momento devido a um fator muito simples: em sua grande maioria, os proprietários de veículos no Brasil não fazem a manutenção preventiva, fazem apenas a manutenção corretiva. A manutenção corretiva é quando o carro é levado à oficina ou ao centro automotivo apenas quando apresenta falhas. A manutenção preventiva é aquela em que o proprietário do veículo realiza inspeções com o objetivo de reduzir ou impedir falhas.

Muitas vezes, as pessoas só se lembram de verificar as pastilhas ou discos de freio do carro quando eles começam a apresentar defeito, fazendo barulho ao frear, por exemplo. Quando isso acontece, é sinal que já houve um desgaste muito grande na pastilha e a troca do disco será inevitável. Já quando ocorre a manutenção preventiva, é possível avaliar o desgaste da pastilha e realizar a troca sistemática sem precisar trocar o disco. Então, além da economia que os proprietários terão ao fazer a manutenção preventiva, também se evita acidentes e desgastes prematuros.

No atual cenário de pandemia, o mercado de reposição segue se sustentando? Se sim, de qual forma?

RL: Sim. Em quase todo o País, mesmo quando os governos decretaram quarentena ou lockdown, o setor de reposição desempenhou uma função essencial. Os próprios veículos do governo – como ambulâncias e carros de polícia – precisam semanalmente visitar oficinas para realizarem suas revisões e reparações. Do contrário, a cidade não funciona. Portanto, as oficinas são essenciais mesmo em um cenário de pandemia.

Além disso, quase não houve infectados neste setor. Em todo o País, profissionais deste segmento tomaram os cuidados necessários: distanciamento, uso de máscaras e mãos higienizadas abundantemente.

É claro que a pandemia atrapalhou um pouco sim, é incontestável e ninguém pode negar isso, mas o mercado de reposição conseguiu trabalhar bem.

As feiras automotivas também terão seu espaço neste momento em que a pandemia ainda é uma realidade? Haverá versões digitais dessas feiras?

RL: Absolutamente. A AUTOP deste ano será 100% digital. Devido à pandemia, ainda não existe nenhuma garantia de que este ano possa ter uma feira de grande porte presencial.

“Na Minha Opinião, Nesses Próximos Dez Ou Doze Meses, Todas As Feiras De Autopeças Deverão Ser Digitais. Enquanto Não Existir Uma Vacina Que Dê Segurança A Todos Nós, Devemos Apostar No Digital.”
A melhor coisa do mundo é a feira presencial: olho no olho e ombro no ombro é a melhor coisa que tem para se fazer negócio. Mas enquanto não pode, não queríamos deixar passar em branco. Por isso, a AUTOP 2020 será a primeira feira digital da América do Sul.

Por Julia Pessoa