Conversamos com Avi Gelberg, fundador da S.Y.L Pastilhas, indústria brasileira presente também no mercado internacional com atuação em diversos países das Américas, Europa e Oriente Médio. Fique a seguir com esse batepapo super esclarecedor e, porque não dizer, motivador sobre negócios, garra, trabalho, pluralidade de ideias, educação e cultura.
Avi, como é ser um empresário em um momento global tão crítico?
Realmente não é fácil nesses momentos, ainda mais aqui no Brasil que tem setores que estão se comportando até de uma maneira não colaborativa para o momento. O setor automotivo, de reposição, está de uma maneira praticamente normal, apesar de passarmos no começo por alguns momentos mais difíceis. Temos que saber lidar com isso, ter calma e cuidar dos colaboradores. Temos um quadro de quase 600 funcionários e estamos tomando todos os cuidados higiênicos e de controle da pandemia. Temos a felicidade de não ter problemas maiores mas, no setor, temos problemas de abastecimento, já que é um setor que usa bastante aço, que no momento está escasso. Os preços subiram de uma maneira absurda. Mais do que dobraram. Então, temos que se virar. Mas, de modo geral, estamos passando por essa crise de uma maneira razoável.
O quanto de resiliência é necessário para triunfar nesse momento em especial?
Então, já coloquei um pouquinho na primeira pergunta e volto a dizer: precisa muito de resiliência e muita tranquilidade. A empresa tem que ser estruturada. No nosso caso, graças a Deus, a nossa empresa é bastante estruturada economicamente e em todos os setores. Conseguimos, realmente, levar o momento de uma maneira muito tranquila. Temos que manter a tranquilidade e tentar, nesse momento, ajudar quem podemos ajudar. Estamos com programas de ampliação de cestas básicas dentro da empresa, dobramos a cesta básica, praticamente, para os funcionários, e estamos ajudando várias e várias campanhas mandando cestas básicas para outras pessoas e para outros grupos de necessidade. Realmente temos que ter resiliência, paciência e muita calma nessa hora.
Como a S.Y.L está se “equilibrando” na atual conjuntura?
As nossas vendas estão com normalidade. Temos um bom crescimento. Tivemos até um crescimento em 2020, apesar de tudo. O crescimento para 2021, logo no começo do ano vigente foram muito bons. E vamos seguir, né? Esse caminho, estamos conseguindo através da nossa estrutura, através dos nossos relacionamentos com o mercado, ser abastecido, tomamos decisões corretas nas horas certas. Então, a empresa está se equilibrando de uma maneira até muito além da expectativa dentro desse cenário.
E como o seu mercado de atuação está operando durante essa pandemia?
Só reforçando, o nosso mercado está dentro de uma normalidade. É considerado um setor que é necessário para a economia e não pode parar, né? Porque você não pode parar os carros, não pode parar os caminhões circulando, entregando mercadoria, não pode parar as oficinas que tratam desses caminhões, ônibus, carros, etc. O nosso setor está, relativamente, passando por esta fase de uma maneira mais tranquila do que outros setores que conhecemos.
Qual o Norte que o senhor segue à frente da Universidade de Haifa Brasil?
A Universidade é um modelo hoje, tanto em Israel como no mundo, de uma atuação muito boa no sentido de procurar e aceitar todos os modelos que temos dentro da sociedade. A cidade de Haifa é uma cidade de convivência muito boa entre árabes, judeus, enfim, eu que nasci lá sou testemunha: tenho muitos amigos árabes, tanto cristões como muçulmanos, amigos que eu passei a infância junto. Isso é um modelo da universidade, modelo de tolerância, modelo de convivência, um modelo de paz, e esse modelo é o que estamos tentando espalhar pela Universidade de Haifa no mundo e, principalmente, aqui no Brasil, agora. Tentando mostrar que através de tecnologia, através de estudo, de aceitação, do ser humano próximo e não importa a origem, podemos ter um mundo melhor. Isso é o nosso principal objetivo aqui: trazer o modelo da Universidade de Haifa para o Brasil. Obviamente criar contextos em conjunto com universidades locais, em conjunto com empresas locais, na área de tecnologia e em outras áreas, como energia marítima, Meio Ambiente, literatura e terceira idade, por exemplo. Temos tudo isso como objetivos para trazer aqui para o Brasil.
Como a nova diretoria trará ainda mais solidificação para a Universidade?
Como é o nosso modus operandi: trouxemos uma diretoria bastante eclética, que cobre muitos seguimentos em diversas áreas. Tanto a diretoria como o nosso board. E a área de ensino, seja econômica, ou nas áreas sociais, ou outras áreas. Solidificamos os nossos pontos através dessa multiplicidade.
Um dos seus objetivos é trazer pluralidade para o centro do debate. Como enxerga essa pluralidade em nosso país?
Acredito que nosso país é bastante tolerante. Apesar de ter grupos extremos, apesar de ter vozes, às vezes, intolerantes, temos um povo relativamente tolerante. Acredito que vem muito da educação. E a Universidade de Haifa trabalha muito com educação. Teremos que mostrar em ações, em cursos, em eventos. Vejo que a demonstração é um modelo que iremos praticar. É a melhor maneira da implantarmos aqui no Brasil. Na época, já trouxe para cá. Temos uma ONG que chama Corrida da Paz, que é feita de vários clubes aqui no Brasil: a Hebraica de SP, o Monte Líbano, o Sírio, o Clube Pinheiros, entre outros (entre elas entidades muçulmanas). E temos essa entidade, que trouxemos já. Eu trouxe há alguns anos, corredores da Palestina e Israel que correram juntos. Foi um fim de semana muito bonito de ver e muita gente viu essa demonstração… procuramos o caminho da paz. Isso é um modelo que trouxemos, mas temos muitas tolerâncias para implantar ainda aqui no Brasil. Tanto de cor, de religião, de gênero. E vamos trazer todas essas discussões à tona fazendo ações que demonstrem a maneira que enxergamos isso. O ser humano tem que ser respeitado e não importa o gênero, a cor, não importa a religião, não importa nada. É ser humano. E todos somos iguais, nós somos iguais e na nossa religião falamos: você veio da terra e você volta para terra, e a nossa passagem tem que ser uma passagem que prega o bem e é isso que vamos fazer junto com a Universidade de Haifa no Brasil.
Como fazer com que essa pluralidade seja ainda mais sentida?
Através de ensino e cursos. Abriremos cursos para várias universidades, cursos tanto online quanto presenciais em Israel, para conviver com essa pluralidade que temos lá. Acredito que através de ações demonstraremos essa parte.
A pesquisa científica deve ser ainda mais incentivada pela Universidade?
Sem dúvida. Não só pela universidade aqui no Brasil. Temos também órgãos governamentais, como FAPESP, OPOS, que procuram incentivar a pesquisa. A pesquisa, hoje, mais do que nunca, é de extrema importância. Vimos perante esse caso, infelizmente, na parte médica, como é fundamental ter pesquisa e evolução, porque na hora que pesquisamos algo, que nem foi agora na área da saúde, na parte da Covid-19, se não tiver uma pesquisa forte, se não tiver algo estruturado, ficaríamos mais alguns anos esperando uma vacina. A pesquisa, tanto no Brasil como no mundo, é uma base importante. Acredito que essa importância veio à tona mais do que nunca nesse momento de pandemia.
Quais outros processos que devem ser fomentados pela Universidade?
Procurar grupos que não têm a possibilidade de atingir esse tipo de educação. Grupos de necessidade, grupos que, às vezes, não têm poder aquisitivo para fazer uma faculdade. Também temos que buscar esses processos para ver como traremos para perto da gente, das universidades atuais. Também atuar em conjunto com algumas maneiras de presença da Universidade de Haifa dentro dessas universidades, através de acordos e através de ações em conjunto. Temos processos seletivos que estão buscando alunos para fazer estudos em Israel. Temos um trabalho enorme ainda pela frente, até para implantar outros procedimentos e processos. Estamos nesse caminho. Penso que o caminho é longo, mas promissor.
Avi Gelberg é israelense, empresário, CEO da S.Y.L e atual diretor da Universidade de Haifa Brasil desde fevereiro de 2021 até 2023. O corpo de diretores da UHB conta com o diretor Jurídico, Fernando Rosenthal, o diretor Científico, Floriano Pesaro, o tesoureiro, Eduardo Aizenstein, o diretor Cultural, Olivio Guedes, os conselheiros fiscais, Eduardo Grytz e Isy Rahmani e a conselheira fiscal, Isabel Cohn. O objetivo da nova diretoria é coordenar ações e projetos locais, ativar e incentivar a pesquisa científica brasileira em parceria com Israel, bem como buscar o apoio e o suporte financeiro de parceiros e entidades interessadas em fomentar o crescimento da Universidade. Avi Gelberg, que assumiu essa missão, nasceu e cresceu em Haifa e, portanto, tem como objetivo trazer a pluralidade da terceira maior cidade de Israel, bandeira da Universidade, bem como a convivência sem diferenças de cor ou gênero respeitando sempre o melhor do ser humano. “Abriremos cursos para várias universidades, cursos tanto online quanto presenciais em Israel, para conviver com essa pluralidade que temos lá”, afirma o empresário.