Para o Brasil, mercado emergente no consumo de automóveis eletrificados, o debate europeu pode antecipar tendências regulatórias e estratégicas que em breve impactarão o setor local.
Claudio Milan
11 de setembro de 2025
Leitura de 2 minutos

Na abertura dos trabalhos da União Europeia após o recesso, em 10 de setembro, a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destacou a necessidade do bloco competir de forma mais firme contra a ofensiva chinesa no setor de veículos elétricos. Essa posição tem impactos que vão além do continente europeu.
Para o Brasil, um mercado emergente no consumo de veículos eletrificados, o debate europeu pode antecipar tendências regulatórias e estratégicas que chegarão em breve ao setor local.
Von der Leyen enfatizou a importância de uma ação coordenada diante da rápida expansão das montadoras chinesas. “A Europa precisa estar em condições de competir de igual para igual. Não podemos permitir que um setor estratégico como o automotivo dependa apenas de tecnologias importadas”, afirmou, referindo-se ao avanço de grupos como BYD e MG, que conquistam espaço com modelos acessíveis e fortemente subsidiados.
A dirigente ressaltou que a resposta deve ir além de incentivos pontuais, incluindo investimentos estruturais em inovação, semicondutores, baterias e energia limpa. “Se queremos que nossos filhos e netos conduzam carros feitos na Europa, precisamos investir agora em baterias, semicondutores e energia limpa”, destacou.
Para o Brasil, o discurso europeu funciona como um termômetro. A rápida penetração dos elétricos chineses no mercado europeu — com preços agressivos e forte apoio governamental — sinaliza uma tendência que poderá pressionar cada vez mais as montadoras e fornecedores locais, como evidenciado pelo recente embate entre Anfavea e BYD sobre políticas de incentivo para importação de veículos CKD e SKD.
A indústria nacional de autopeças, já desafiada por margens apertadas e necessidade de atualização tecnológica, precisará se preparar para uma nova configuração de mercado, na qual baterias, softwares e eletrônica embarcada ganham relevância frente à mecânica tradicional.
Além disso, von der Leyen deixou claro que medidas contra concorrência desleal estão sendo consideradas em Bruxelas. “A abertura de mercado é um valor europeu, mas não seremos ingênuos. Precisamos garantir condições justas para nossos fabricantes”, afirmou. Esse posicionamento pode inspirar debates semelhantes na América do Sul, onde a presença crescente de players asiáticos vem alterando a dinâmica competitiva tanto no mercado de veículos novos quanto no de reposição.
Para o aftermarket brasileiro, a mensagem é clara: a transição energética está em curso, e a disputa global entre China, Europa e EUA moldará também o futuro das oficinas, distribuidores e varejistas de autopeças no país. Compreender o ritmo da eletrificação e antecipar ajustes na oferta de produtos e serviços será fundamental para manter a competitividade em um setor que, cada vez mais, não pode se limitar a reagir.