Na redação do Novo Varejo, temos acompanhado com grande interesse a chegada de diversas montadoras, muitas delas até então desconhecidas, que estão iniciando suas operações no mercado brasileiro. Durante cerca de 20 anos, o Aftermarket Automotivo conviveu com a comodidade de contar apenas com quatro marcas principais — Fiat, Ford, GM e Volkswagen — além da presença da Chrysler por um período. Essas marcas prolongavam a vida útil dos modelos oferecidos no país quase indefinidamente. Hoje, porém, torna-se praticamente impossível listar todas as opções disponíveis para o consumidor.
Um dado divulgado no final desta edição chama bastante atenção: conforme a ABVE — Associação Brasileira do Veículo Elétrico —, no primeiro semestre deste ano, 57 fabricantes de veículos eletrificados atuaram no Brasil.
Quantos desses você conseguiria nomear agora, sem recorrer ao Google? Embora a frota eletrificada ainda seja pequena e tenha impacto reduzido no mercado de reposição, esses veículos já representam cerca de 8% das vendas de zero quilômetro. Por quanto tempo ainda poderemos repetir esse cenário?
Além da propulsão alternativa, o mercado conta com nada menos que 26 fabricantes associados à Anfavea, além de cerca de uma dezena de filiados à Abeifa (importadores). Isso cria um grande desafio para a gestão de estoques, qualificação de mão de obra e aquisição de equipamentos e ferramentas no setor de reposição.
Este é um cenário que, ao contrário do passado, está em constante transformação. Por isso, os números apresentados aqui podem já estar desatualizados no momento em que você estiver lendo este texto.
A multiplicação de marcas é apenas um dos elementos do ecossistema atual conhecido como “indústria da mobilidade”, que traz desafios cada vez maiores. Trabalhar com previsão de demanda diante da incrível diversificação da frota é complexo. Ainda mais difícil é desenvolver estratégias de negócios baseadas nas rupturas que surgem hoje e cujo impacto futuro poucos conseguem prever.
Um exemplo marcante: talvez você não conheça a Lucid, mas certamente já ouviu falar da Uber. A Lucid é uma montadora norte-americana de carros elétricos, da qual a Uber adquiriu 3% das ações. Será que a Uber quer se tornar uma montadora? Já pensou na transformação que isso representaria? Por enquanto, parece que não é essa a intenção.
O fato concreto é que a Uber está investindo 300 milhões de dólares para comprar 20 mil carros elétricos da Lucid, com o objetivo de lançar no mercado americano robotáxis autônomos a partir do segundo semestre de 2026. Essa notícia reúne várias inovações tecnológicas: aplicativo de transporte, direção autônoma e veículos elétricos. Além disso, é possível imaginar essa iniciativa como um projeto piloto para expansão futura em outros mercados onde a Uber atua. Por que não?
Reparou na quantidade de perguntas que este editorial levantou? Vivemos tempos em que há mais dúvidas do que certezas. Agora, imagine a conversão global da frota da Uber para carros elétricos autônomos, atendendo exclusivamente em oficinas autorizadas pela montadora parceira. Melhor nem pensar.















