Potencial do Regime de Lucro Real para Retíficas de Motores e Empresas de Autopeças

Análise do Potencial do Regime de Lucro Real para Oficinas de Retífica e Autopeças

Vantagens do Lucro Real no Setor Automotivo

No setor automotivo, a concorrência acirrada e a volatilidade dos preços dos insumos pressionam as margens, obrigando oficinas de retífica e lojas de autopeças a buscar máxima eficiência fiscal. Embora muitos negócios ainda optem pelo Lucro Presumido ou Simples Nacional, o regime de Lucro Real tem ganhado destaque como alternativa estratégica, especialmente quando a margem de lucro efetiva é modesta — característica comum neste segmento, cuja rentabilidade média varia entre 10% e 28%. A seguir, confira como esse enquadramento pode fortalecer a competitividade dessas empresas.

1. Tributação sobre a margem efetiva

No Lucro Real, IRPJ e CSLL incidem sobre o lucro contábil ajustado, e não sobre um percentual presumido da receita. Para retíficas, que trabalham com matérias-primas caras (bronze, ferro fundido, aço especial) e mão-de-obra intensiva, a margem é baixa e sujeita a oscilações sazonais. Caso a lucratividade fique abaixo das faixas presumidas (8% ou 32%), a carga tributária diminui proporcionalmente, liberando caixa para reinvestimento em estoque, equipamentos e qualificação de pessoal.

2. Créditos de PIS e COFINS no regime não cumulativo

O Lucro Real adota o regime não cumulativo para PIS (1,65%) e COFINS (7,6%), permitindo que a empresa desconte créditos gerados na compra de peças de reposição, óleos, abrasivos e serviços terceirizados, reduzindo o desembolso mensal de tributos federais. Para autopeças, cujo giro de estoque é elevado, esses créditos podem alcançar dezenas de milhares de reais anuais, aumentando a competitividade frente a importadores informais.

3. Compensação de prejuízos fiscais

O setor de retífica é sensível à atividade industrial. Em períodos de retração, podem ocorrer prejuízos que, no regime de Lucro Real, podem ser compensados nos exercícios seguintes, abatendo até 30% do lucro líquido ajustado de cada período. Esse mecanismo funciona como um colchão de liquidez, suavizando os impactos dos ciclos econômicos e evitando a descapitalização nos anos de retomada.

4. Depreciação acelerada para modernização do parque fabril

A Lei 14.871/2024 instituiu a depreciação acelerada para máquinas e equipamentos novos adquiridos por empresas no Lucro Real. Retíficas que necessitam de tornos CNC, retificadoras cilíndricas ou dinamômetros podem depreciar esses ativos mais rapidamente, reduzindo a base de cálculo do IRPJ e CSLL e antecipando o retorno do investimento. O benefício é válido até 31 de dezembro de 2025, incentivando a adoção de tecnologias de usinagem de alta precisão, que diminuem retrabalho e elevam a qualidade final.

5. Acesso a incentivos regionais (Sudene/Sudam)

Empresas optantes pelo Lucro Real são elegíveis aos programas de desenvolvimento regional que oferecem redução de até 75% do IRPJ por até dez anos, desde que instaladas ou ampliadas em áreas da Sudene ou Sudam. Lojas de autopeças que estabeleçam centros de distribuição no Nordeste ou na Amazônia podem reinvestir a economia tributária na expansão da malha logística, melhorando prazos de entrega e ampliando sua participação no mercado.

6. Melhoria na governança e no acesso a crédito

A obrigatoriedade da escrituração digital completa (ECD e ECF) no Lucro Real pode parecer um custo adicional, mas eleva a qualidade das demonstrações financeiras, facilitando a gestão de indicadores como giro de estoque, margem de contribuição por produto e taxa de retrabalho. Bancos e programas de fomento (BNDES Finame, FINEP) valorizam essa transparência, resultando em linhas de crédito com juros menores e prazos mais longos — diferencial importante para o financiamento de capital de giro ou aquisição de equipamentos.

7. Planejamento tributário contínuo

Ao tributar o lucro efetivo, o Lucro Real permite estratégias legítimas de planejamento tributário, como reorganizações societárias, aproveitamento de incentivos à inovação (Lei do Bem) e exclusão de receitas de exportação na apuração do lucro. Com o monitoramento mensal do resultado contábil, é possível ajustar preços e promoções sem comprometer a saúde financeira da empresa.

Conclusão

Para retíficas de motores e empresas de autopeças que operam com margens estreitas, alto custo de insumos e necessidade constante de modernização, o Lucro Real oferece vantagens concretas: redução imediata da carga tributária por meio de créditos de PIS/COFINS, compensação de prejuízos, depreciação acelerada de máquinas e acesso a incentivos regionais e tecnológicos. Embora exija contabilidade rigorosa, o regime proporciona um sistema tributário alinhado à realidade operacional, capaz de sustentar crescimento, inovação e competitividade de longo prazo no dinâmico mercado automotivo brasileiro.

IFCT – Inteligência Fiscal Consultoria Tributária.