Estudo mostra jovens assumindo protagonismo na liderança industrial

Pesquisa revela jovens liderando transformação na indústria

Novas Lideranças na Indústria Brasileira

A presença de jovens entre 21 e 40 anos no comando das indústrias brasileiras tem impulsionado um novo ciclo de crescimento e inovação no setor. Atualmente, eles representam 27,9% do total de sócios na indústria nacional e foram responsáveis por 8,1% das contratações formais entre 2022 e 2023 — quase três vezes mais do que as empresas sem participação jovem.

Esses dados são do estudo Empreendedorismo Industrial – O perfil dos novos líderes, realizado pelo Observatório Nacional da Indústria em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL). A pesquisa destaca como as novas gerações estão transformando o setor industrial com uma mentalidade mais digital, ousada e orientada à sustentabilidade, mesmo em organizações com culturas tradicionais.

Diana Castro, sócia da Hebert Uniformes — indústria de confecções com 63 anos de história e uma das mais antigas da Bahia — representa essa nova geração de lideranças à frente de empresas familiares. Para ela, assumir o negócio da família foi uma decisão consciente, mas o preparo para liderar veio com amadurecimento pessoal e a compreensão das diferenças entre gerações.


“Aprendi a valorizar o que há de melhor em cada geração, transformando essa diversidade em um diferencial para o fortalecimento e continuidade do nosso negócio”, afirma Diana.


O estudo do Observatório revela que empresas industriais com mais de uma geração no quadro societário apresentam crescimento três vezes maior. Diana destaca que esse dado reforça a importância de uma sucessão bem planejada.

“Ela não só garante a sobrevivência da empresa, mas também impulsiona seu crescimento”, conclui. Além disso, estima-se que mais de 100 mil empresas industriais passarão por transição de liderança nos próximos anos.

Segundo Diana, um dos pontos cruciais para uma sucessão eficaz é o papel da geração anterior na estruturação da governança. “É fundamental estabelecer regras claras que permitam ao novo líder compreender sua função antes de aceitar a missão. A transição precisa respeitar a riqueza construída por diferentes gerações, unidas pelo mesmo propósito”, completa.

Atualmente, quatro gerações convivem nas empresas: Baby Boomers (1945-1964), Geração X (1965-1984), Geração Y ou Millennials (1985-1999) e Geração Z (a partir de 2000). Embora não haja consenso absoluto sobre os limites de cada geração, as divisões são baseadas em contextos históricos e culturais que moldam comportamentos e valores.

O estudo aponta que existem 108 mil empresas industriais com pelo menos um sócio com 61 anos ou mais — período em que Baby Boomers e parte da Geração X iniciam uma saída gradual do mercado, abrindo espaço para a ascensão dos Millennials e dos primeiros representantes da Geração Z.

Michelle Queiroz, gerente de carreiras do IEL, explica que essa transição vai além da simples troca de cargos: “Estamos vivenciando uma transformação cultural, estratégica e tecnológica.” Empresas com ao menos um sócio jovem têm se destacado na geração de empregos formais e em desempenho nos campos da inovação, produtividade e sustentabilidade.


“As novas lideranças demonstram maior tolerância ao risco, domínio das tecnologias emergentes e uma gestão mais diversa e colaborativa”, reforça Michelle.


Apesar dos avanços, a renovação geracional na indústria ainda é mais lenta em comparação a outros setores. Millennials e jovens da Geração Z já representam mais de 35% da força de trabalho industrial, enquanto no comércio e serviços esse percentual chega a 40%. Os Baby Boomers ainda ocupam 21,7% dos cargos de liderança na indústria, acima da média nacional de 17% em outros segmentos.

A resistência à renovação está ligada às especificidades do setor, que valoriza conhecimento técnico, experiência acumulada e uma curva de aprendizado mais longa. “O perfil técnico e conservador da indústria contribui para uma transição geracional mais lenta, mas ela já está em andamento e tende a se intensificar nos próximos anos”, explica Michelle.

O ritmo dessa sucessão depende de fatores como localização geográfica, segmento, cultura organizacional e o tipo de sucessão — familiar, trabalhista ou via aquisição. Por exemplo, o Sul do país concentra a maior parte dos líderes da Geração X (49,2%), enquanto o Centro-Oeste apresenta maior proporção de sócios Millennials (41,9%), indicando uma renovação mais ágil. Setores como comércio e serviços são majoritariamente comandados por líderes jovens, ao passo que a agropecuária ainda é dominada por gerações mais antigas.

Para o economista Vinicius Saragiotto, sócio da FINC, empresa de construção civil em Mato Grosso, o debate geracional ganhou destaque ao conviver com diretores experientes e gestores que enfrentam a sucessão familiar. “Vejo pessoas experientes tentando realizar uma transição geracional harmônica, algo que exige muito mais do que apenas vontade entre sucessor e sucedido”, comenta.

Vinicius, que é Millennial aos 36 anos, acredita que o principal desafio das gerações Y e Z é liderar com competência, equilibrando inovação e tradição. “Os ambientes ainda são naturalmente conservadores, com hierarquias rígidas. É preciso visão digital, agilidade e foco em resultados para navegar nesse cenário”, analisa.

Ele ressalta que cada geração é moldada por seu tempo e que compreender essas diferenças é essencial para uma convivência intergeracional harmoniosa. Vinicius defende que essa diversidade etária é um diferencial competitivo:

“É uma vantagem enorme quando líderes experientes oferecem visão estratégica e de longo prazo, enquanto os mais jovens trazem energia, questionamento e inovação. O segredo está em promover ambientes com escuta ativa e cultura colaborativa entre gerações para somar experiências e gerar resultados”, destaca o economista.

Habilidades como resiliência, autoconhecimento e comunicação eficaz são essenciais para jovens que assumem a liderança. Vinicius observa que, apesar da alta conectividade e capacidade de adaptação, muitos ainda não encontram espaço para aplicar o que aprenderam. Assim como as gerações anteriores tiveram que se preparar, os jovens também precisam fortalecer competências pessoais e profissionais para liderar com propósito.

Além dos resultados econômicos, a presença de líderes jovens traz uma nova abordagem de gestão. Fatores como a pandemia de COVID-19 aceleraram a digitalização dos negócios, abrindo espaço para perfis mais familiarizados com tecnologia, inovação e mudanças rápidas.


“Hoje, o líder precisa unir inteligência emocional, visão estratégica e domínio de temas complexos, que vão da política à sustentabilidade. Em empresas familiares, entender a dinâmica da sucessão é fundamental para preservar e ampliar o legado”, avalia Saragiotto.


O crescimento acima da média das empresas com jovens no comando reflete essa nova postura. Para muitos desses líderes, o impacto social e a busca por propósito são tão importantes quanto os resultados financeiros. Vinicius conclui:

“O trabalho duro ainda é um diferencial, mas conquistar o respeito da equipe exige responsabilidade, coerência e profissionalismo. Ser jovem não basta: é preciso estar à altura da confiança que se deseja conquistar.”

Como o IEL forma novas lideranças?

O IEL Nacional ampliou sua atuação na formação de novas lideranças industriais com iniciativas que abrangem desde a educação básica até a executiva. Destaca-se o Movimento Novos Líderes Industriais, que promove debates estratégicos sobre sucessão empresarial e recebeu apoio institucional do IEL em 2024. A agenda inclui fóruns, encontros, estudos e capacitações.

Outro projeto é a Jornada de Sucessão Empresarial Familiar, que oferece workshops, mentorias e acompanhamento para empresários e herdeiros.

Na base da formação, o IEL firmou parceria com o Serviço Social da Indústria (SESI) para implementar o Projeto de Vida e Carreira no Novo Ensino Médio, contemplando oficinas, testes vocacionais, visitas às indústrias e capacitação de professores.

Já na educação executiva, o destaque é o Programa de Educação Executiva Global, que já levou mais de 70 empresários ao Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA, com foco em liderança, inovação e tendências de mercado. Novos ciclos do programa estão previstos até 2026.

Além disso, o IEL prepara talentos para a indústria do futuro por meio do IEL Carreiras, que desenvolve estagiários com perfil de liderança, e do Inova Talentos, que conecta estudantes pesquisadores de nível superior a projetos inovadores em áreas estratégicas. Conheça as iniciativas que estão moldando as lideranças da nova indústria brasileira.