Especialistas esclarecem: a função Start-Stop não é o que você espera
Por Nicole Ronzani
A economia de combustível é um assunto que interessa a todos os motoristas. No entanto, quando falamos da função Start-Stop, ela se torna uma das tecnologias mais rejeitadas pelos consumidores. Muitas pessoas, assim como eu, preferem desativar o sistema sem refletir muito sobre o tema.
O funcionamento do Start-Stop é simples: o motor é desligado automaticamente quando o veículo para, como em semáforos ou congestionamentos, e religa assim que o motorista tira o pé do freio. Em versões mais avançadas, o motor já religa quando o carro à frente começa a se mover. O objetivo principal é reduzir o consumo de combustível e, consequentemente, as emissões de gases poluentes.
Mas será que essa tecnologia funciona adequadamente no trânsito brasileiro?
Segundo a Society of Automotive Engineers (SAE), referência mundial em engenharia automotiva, a economia de combustível proporcionada pode variar entre 7,27% e 26,4%, dependendo das condições de uso. Em ambientes urbanos, com paradas frequentes, o sistema é mais eficiente, enquanto em estradas ou trajetos mais fluidos, seu impacto é menor.
No trânsito intenso das grandes capitais brasileiras, o Start-Stop pode até trazer algum benefício no consumo. Parece ótimo, não é? Porém, essa visão muda quando consideramos todo o contexto — ou melhor, o carro como um todo.
Um ponto crítico que não foi aprimorado com essa tecnologia é o motor de arranque. Tradicionalmente, ele foi projetado para ser acionado em média duas vezes ao dia — ao sair de casa e ao retornar — garantindo uma vida útil entre 100 e 150 mil quilômetros.
Com o Start-Stop, o número de partidas diárias aumenta drasticamente, fazendo o motor ligar e desligar dezenas de vezes, especialmente em vias urbanas.
A questão é que a indústria não adaptou o motor de arranque para esse uso intensivo, o que tem reduzido sua durabilidade. Na prática, falhas têm sido registradas em veículos com apenas 30 mil quilômetros rodados, devido ao desgaste das escovas, componentes automáticos e outros elementos. Ou seja, o motor de arranque pode falhar até quatro a cinco vezes mais rápido em carros equipados com Start-Stop.
Outro problema bastante relatado por motoristas brasileiros é a perda de eficiência do ar-condicionado. Quando o motor desliga, o compressor do sistema também para, interrompendo a refrigeração. Isso gera desconforto, especialmente em dias quentes ou durante o verão.
Imagine ficar parado no trânsito, sob o sol escaldante, com o painel fervendo e o interior do carro esquentando. Nada agradável, não é mesmo?
A função Start-Stop pode ser desativada temporariamente durante o uso, mas cabe ao motorista lembrar de desligá-la. A maioria dos veículos não permite o desligamento permanente, pois o sistema volta a funcionar automaticamente toda vez que o carro é ligado.
Apesar de ser uma solução inteligente em termos conceituais, o recurso precisa ser avaliado dentro do contexto real do trânsito brasileiro e das condições de uso dos motoristas locais.
Na oficina, já observei diversos casos de reparos prematuros no motor de arranque diretamente relacionados ao uso do Start-Stop. Essa é uma discussão que muitos motoristas ainda não tiveram.
Assim, a economia gerada por um lado pode ser compensada pelo custo antecipado de manutenção. Vale a pena? Para decidir, o motorista precisa estar bem informado e considerar o conjunto completo, não apenas a economia na bomba de combustível.