Crescimento do comércio registra alta de 0,9% no segundo trimestre, aponta IBGE

Comércio cresce 0,9% no segundo trimestre, revela IBGE

Análise do PIB do Segundo Trimestre – IBGE

Dados do IBGE sobre o PIB do segundo trimestre indicam um crescimento anual de 2,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, totalizando R$ 3,2 trilhões. A agropecuária apresentou a maior alta anual, de 10,1%, impulsionada por ganhos de produtividade e alinhada ao crescimento do primeiro trimestre (10,1%). Os serviços cresceram 2%, permanecendo praticamente estagnados e levemente abaixo do primeiro trimestre (2,1%). Já o comércio sentiu mais fortemente os impactos, resultado, segundo economistas, das políticas monetárias e da pressão sobre a renda do consumidor. No segundo trimestre de 2024, comparado ao mesmo período de 2023, o setor havia registrado alta de 4%. Este ano, a variação foi de 0,9%.
É uma preocupação para o varejo, afirmou Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School. As razões são o endividamento das famílias, a compressão do consumo e a taxa de juros.

Para Felisoni, a assimetria nos resultados do comércio indica uma contração real do setor, impulsionada pelo endividamento acumulado das famílias e pela compressão do consumo, cenário que deve se agravar nos próximos meses. A proporção de famílias com contas a vencer aumentou de 78,2% em maio para 78,4% em junho, segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o que, segundo o economista, aponta para um estrangulamento do poder de compra. Analistas como Fabio Ramos, Alexandre de Azara e Rodrigo Martins, autores do relatório do UBS BB — banco de investimentos resultante da parceria entre o banco global UBS e o Banco do Brasil —, também corroboram essa visão, projetando uma provável desaceleração do PIB nos próximos trimestres. Esperamos crescimento próximo de zero no terceiro e quarto trimestres.

Embora as perspectivas não sejam tão otimistas, dados anteriores mostram outra realidade. O Banco Central divulgou um panorama do crédito para empresas e consumidores em julho, revelando que o saldo do crédito ampliado ao setor não financeiro atingiu R$ 19,5 trilhões (158,5% do PIB), com alta de 0,9% no mês. Em doze meses, o crescimento foi de 10,5%. O crédito ampliado às empresas somou R$ 6,7 trilhões (54,6% do PIB) em julho, com avanço mensal de 1,2% e anual de 9,1%. Já o crédito ampliado às famílias atingiu R$ 4,5 trilhões (36,4% do PIB), com expansão de 0,7% no mês e 11,4% em doze meses, refletindo o desempenho dos empréstimos do Sistema Financeiro Nacional (SFN).
No que diz respeito ao consumo das famílias, o IBGE destaca um aumento de 1,8% na comparação do segundo trimestre de 2024 com o mesmo período do ano anterior, impulsionado, segundo o instituto, pelos aumentos na massa salarial real, pelo crédito disponível e pelas transferências de renda às famílias.

Apesar do aumento na oferta de crédito para empresários, mesmo com a Selic em dois dígitos, Felisoni ressalta que o principal obstáculo para o desempenho atual do comércio é a política monetária. O capital de giro está comprometido devido ao aumento e manutenção da taxa de juros, afirmou. O indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) do IBGE, que mede investimentos em ativos fixos — como máquinas, equipamentos e construções — que aumentam a capacidade produtiva, apontou queda de 2,1% entre o primeiro e o segundo trimestre do ano. No entanto, na comparação anual, houve avanço de 4,1%. Com isso, os investimentos realizados pelos empresários nos diversos setores para expansão dos negócios somaram R$ 532,9 bilhões.

Crescimento do comércio registra alta de 0,9% no segundo trimestre, aponta IBGE
(Fonte: IBGE)

REFLEXO TARDIO – Ulisses Gamboa, economista-sênior do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), destaca que, no lado da produção, os serviços foram o ponto positivo, impulsionados por renda e emprego, enquanto a indústria extrativa avançou e a indústria de transformação permaneceu estável. No lado da demanda, o consumo das famílias sustentou o crescimento, ainda sem refletir totalmente os efeitos tarifários dos EUA. O consumo governamental e os investimentos caíram, pressionados pelas altas taxas de juros. Veio dentro do esperado para uma desaceleração, afirmou. A tendência é que continue desacelerando até o fim do ano, fechando o período com crescimento próximo a 2%. A expectativa é que o setor de serviços sinta os impactos dos juros elevados e da desaceleração econômica nos próximos balanços.

Segundo o IBGE, o valor adicionado dos serviços avançou 2,0% em relação ao mesmo período do ano anterior, com resultados positivos em todos os setores: Informação e comunicação (6,4%), Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (3,8%), Outras atividades de serviços (2,7%), Atividades imobiliárias (2,2%), Transporte, armazenagem e correio (1,3%) e Administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,2%). O comércio, que o IBGE inclui dentro do setor de serviços, também contribuiu para esse resultado.

Para a Associação Paulista de Supermercados (Apas), dada a política monetária restritiva vigente, esse resultado já era esperado. Felipe Queiroz, economista-chefe da Apas, afirmou em comunicado que o resultado do PIB também reflete a conjuntura internacional. A demanda agregada e a taxa de juros neste patamar funcionam como um freio para a economia, explicou. Segundo ele, o Brasil tinha potencial para apresentar crescimento anual superior a 2,2%, mas com a manutenção da taxa de juros em 15% ao ano, é inviável manter um crescimento robusto do PIB. A Apas projeta uma desaceleração ainda maior caso não ocorra alteração na curva de juros nos próximos trimestres. Se isso se confirmar, o PIB deve ficar entre 2,2% e 2,4%, no máximo.

A agropecuária liderou o crescimento anual do período, impulsionada por aumentos na produção e produtividade de culturas como milho (19,9%), soja (14,2%), arroz (17,7%), algodão (7,1%) e café (0,8%). A indústria cresceu 1,1% na comparação anual, com destaque para as Indústrias Extrativas, que avançaram 8,7% devido ao aumento da extração de petróleo, gás e minério de ferro. A construção civil registrou variação positiva de 0,2%, apesar da queda na produção e comercialização de insumos típicos.

As Indústrias de Transformação mantiveram estabilidade (0,0%) no período, resultado da compensação entre altas em setores como metalurgia, máquinas e equipamentos, química e têxtil, e quedas na fabricação de caminhões e ônibus, coque e derivados de petróleo, alimentos e indústria farmacêutica. O setor de eletricidade, gás, água, esgoto e atividades de gestão de resíduos recuou 4,0%, impactado pela piora nas bandeiras tarifárias e pela redução no consumo total de energia.