Novo aumento do biodiesel gera preocupação no setor sobre desgaste dos caminhões

Novo aumento do biodiesel preocupa setor com desgaste acelerado dos caminhões

Aumento do Percentual de Biodiesel no Diesel: Impactos e Desafios

Executivos alertam para riscos operacionais decorrentes do aumento da mistura de biodiesel no diesel

O Governo brasileiro estabeleceu o aumento do percentual de biodiesel na mistura com diesel, passando de 14% para 15% (B15). Essa medida, aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), entrou em vigor em 1º de agosto. As justificativas oficiais destacam motivos econômicos e ambientais. No âmbito econômico, as tensões no Oriente Médio têm causado instabilidade no preço do petróleo, o que pode elevar os custos de combustíveis para o Brasil. Ambientalmente, o governo afirma que a maior proporção de biodiesel reduz a emissão de poluentes.

A Federação acredita que o aumento da produção nacional de biocombustíveis pode minimizar as instabilidades externas e fortalecer a sustentabilidade, apoiando a indústria local.

Em comunicado divulgado em junho, a Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística) manifestou preocupação com o aumento do percentual. A entidade ressaltou as reclamações das transportadoras e apresentou um estudo técnico próprio que constatou impactos negativos. Segundo a análise, o intervalo para troca dos filtros de combustível diminuiu, provocando um aumento de 7% nos custos de manutenção por veículo, o que representa 0,5% no custo total das operações.

Os transportadores demonstram discordância quanto à medida, priorizando a preservação das frotas e alertando para possíveis gastos futuros com manutenção devido a falhas e danos nos caminhões. Eles destacam a importância de avaliar todas as consequências da mudança, defendendo planejamento e estratégias para sua implementação e investimento adequados.

Marcel Zorzin, CEO da Zorzin Logística e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Carga do ABC (SETRANS), considera a ação do governo compreensível, mas enfatiza a necessidade de cautela antes de decisões que possam afetar financeiramente setores essenciais da economia.

“Essa medida precisa ser avaliada com cautela. Entendemos a intenção do Governo em reduzir a dependência de importações e buscar maior estabilidade nos preços internos, especialmente diante das incertezas internacionais. Contudo, qualquer alteração na mistura exige atenção quanto à sua aplicabilidade no transporte rodoviário de cargas. Na prática, mudanças como essa impactam diretamente a operação, especialmente na manutenção dos veículos e no desempenho dos motores”, analisa o CEO.

O transporte rodoviário de cargas enfrenta desafios para manter sua regularidade operacional. Implementar mudanças abruptas, sem adaptações, pode resultar em dificuldades financeiras e prejudicar o fluxo de caixa das empresas. Segundo Marcel Zorzin, o aumento do biodiesel pode prejudicar os veículos e gerar custos adicionais com manutenção e outras necessidades.

“Existem riscos técnicos que precisam ser considerados. O aumento do teor de biodiesel pode provocar entupimentos nos filtros, maior oxidação e formação de borras nos sistemas de injeção, principalmente em veículos mais antigos. Isso resulta em mais manutenções preventivas e corretivas, afetando custos e disponibilidade da frota. Muitas transportadoras, como a Zorzin Logística, já utilizam bactericidas nos tanques para evitar contaminações por combustíveis inadequados. Por isso, é fundamental que o setor seja ouvido e que haja acompanhamento técnico contínuo dessas mudanças”, destaca Marcel Zorzin.

Diante dessa alteração, diversas empresas já se preparam para reestruturar suas frotas e monitorar de perto o desempenho dos veículos. A Zorzin Logística, por exemplo, busca antecipar-se aos desafios.

“Na Zorzin, trabalhamos para estar sempre um passo à frente. Reforçamos o acompanhamento técnico com fabricantes, promovemos treinamentos para as equipes de manutenção e revisamos protocolos internos de monitoramento do desempenho dos combustíveis. Também intensificamos a análise da qualidade dos combustíveis adquiridos e o controle dos intervalos de manutenção, principalmente dos sistemas de filtragem e injeção”, conclui o presidente da SETRANS.