Transporte individual supera opções públicas como meio de deslocamento ao trabalho, mostra Censo 2022
De acordo com dados do Censo 2022 divulgados na quinta-feira (9), o transporte individual é hoje o principal meio para deslocamento ao trabalho no Brasil. O meio mais utilizado é o carro, com 32,3% dos trabalhadores. Os ônibus vêm em seguida, com 21,4%. Caminhar é a terceira opção mais frequente, representando 17,8%. Veículos de duas rodas — motocicletas (16,4%) e bicicletas (6,2%) — vêm logo depois. Apesar de comuns em centros urbanos, trens e metrôs são a principal escolha de apenas 1,6% dos deslocamentos.
Em números absolutos, quase 49 milhões de pessoas utilizam transporte motorizado para ir ao trabalho: 22,6 milhões de carro, 14,9 milhões de ônibus e 11,4 milhões de motocicletas.
Panorama e análise
“Esse cenário reflete a tradição brasileira de priorizar rodovias para ligar cidades e regiões”, explica o analista de pesquisa Mauro Sergio Pinheiro. “Também evidencia a incompatibilidade entre o crescimento urbano e a infraestrutura de transporte público.”
Pinheiro enfatiza que os dados sobre os deslocamentos para trabalho e estudo são essenciais para o planejamento urbano em todos os níveis territoriais.
Modos de deslocamento e diferenças regionais
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Caminham para o trabalho 12,4 milhões de pessoas, e 4,4 milhões utilizam bicicleta — ambos muito superiores aos 1,1 milhão que usam trem ou metrô.
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Cerca de 945 mil usam vans e transportes similares, equivalendo a 1,4% dos trabalhadores.
Regiões apresentam diferenças marcantes:
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No Centro-Oeste (58,8%) e Sul (57,1%), predomina o transporte individual motorizado.
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No Norte (28,5%) e Nordeste (26%), motocicletas são o principal veículo.
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No Sudeste, 26,6% (8,3 milhões) dependem de ônibus.
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Dos 1,1 milhão que usam trem ou metrô, 1 milhão (quase 90%) está no Sudeste, representando apenas 3,3% dos deslocamentos na região — o que evidencia a baixa prevalência de transporte público de alta capacidade mesmo na área mais populosa do país.
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No Rio de Janeiro, o transporte coletivo é mais forte: 35,8% utilizam ônibus, 1,8% usam BRT, e 4,8% trens ou metrô.
Tempo de deslocamento
Segundo o censo, 40 milhões de pessoas (56,8% dos que saem de casa para trabalhar) levam de seis minutos a meia hora para chegar ao trabalho. Por outro lado, 1,3 milhão gastam mais de duas horas no trajeto.
As cidades de Rio de Janeiro, São Paulo e Manaus têm os maiores percentuais de deslocamentos acima de 30 minutos:
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No Rio, 5,6% das viagens ultrapassam duas horas.
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Em São Paulo, 3,4% levam mais de duas horas; 24,5% duram entre uma e duas horas; 31,6% de meia a uma hora.
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No total, quase 60% dos trabalhadores em São Paulo levam pelo menos 30 minutos para o trabalho, embora 36,6% gastem entre seis e 30 minutos, e 3,9% menos de cinco minutos.
Trabalho e residência
Entre os empregados, 88,4% trabalham no mesmo município onde residem, e 16,9% atuam em regime de teletrabalho.
“Aproximadamente 1% dos trabalhadores possuem empregos em mais de uma cidade ou país, e cerca de 0,04% trabalham em país estrangeiro,” afirma o analista Raphael Rocha.
















