O varejo brasileiro está decidido a se digitalizar. Segundo um relatório recente da consultoria global Infor, 79% dos empresários do setor têm como meta ampliar em pelo menos 20% seus investimentos em tecnologia nos próximos três a cinco anos.
Esse movimento acompanha uma tendência global: somente neste ano, o setor deve investir US$ 285,7 bilhões na digitalização, com expectativa de crescimento médio anual de 17,3% até 2030. Os principais fatores por trás desse avanço são o aumento das exigências dos consumidores e a busca por maior eficiência operacional.
No lado do consumo, a ascensão do e-commerce e a integração entre ambientes físicos e digitais criaram novos padrões de comportamento: experiências personalizadas, compra fluida em múltiplos canais, rapidez na entrega e interação inteligente com as marcas já são vistas como requisitos básicos pelo público.
Para melhorar a eficiência, a pesquisa reforça a importância de investimentos em estoques em tempo real, plataformas logísticas em nuvem e soluções de inteligência de dados que antecipam demandas e otimizam a distribuição. Só em 2023, a cadeia logística focada em e-commerce movimentou mais de US$ 426 bilhões globalmente, de acordo com dados da Global Market Insights.
No entanto, o relatório alerta: boas intenções não garantem sucesso. Aproximadamente 70% das iniciativas de transformação digital não prosperam por questões como resistência interna, falta de visão estratégica e cultura pouco propensa à inovação.
Aftermarket automotivo: digitalização avança em ritmo mais lento, mas com novas iniciativas
Com um segmento que movimenta mais de R$ 100 bilhões por ano, o Aftermarket Automotivo ainda está no início dessa transformação. Apesar de grandes marketplaces, como Mercado Livre e Shopee, estarem investindo pesado na venda online de autopeças, apenas 8,7% das transações do setor acontecem em canais digitais atualmente.
Ao perceber esse potencial, o empresário Iago Átila criou o Compre Sua Peça, autodenominada a primeira autotech brasileira. A empresa oferece soluções que atendem desde a indústria até a reparação, abrangendo todos os elos da cadeia.
Para os lojistas, o serviço mais popular é o cadastro de produtos em marketplaces, que aumenta a presença digital das lojas, eliminando tarefas manuais. Outro destaque é a precificação de itens, essencial em um mercado cuja demanda é impulsionada mais pela necessidade do que pelo desejo do consumidor.
A proposta do Compre Sua Peça busca democratizar o acesso às ferramentas digitais, sem exigir faturamento mínimo. As soluções têm custo médio de cerca de R$ 1.000 por mês, permitindo que até pequenas lojas possam embarcar na transformação tecnológica.
Adotando o conceito de filial digital, a empresa oferece um modelo que reduz custos de expansão para negócios de qualquer porte, evitando o investimento necessário para abertura de uma loja física.
A operação é sustentada por tecnologia proprietária: robôs com inteligência artificial baseada na combinação de mais de dez modelos LLMs, além de parcerias com mais de 500 provedores de tecnologia, oferecendo soluções sob medida conforme o perfil de cada cliente.
Segundo Rogério Santucci, CEO da empresa, um dos principais diferenciais da plataforma é a agilidade e precisão no cadastro de produtos. “Manualmente, é possível cadastrar cerca de 20 peças por dia. Com a automação, esse número pode chegar a 10 mil”, ressalta.
Apesar dos resultados — como 98% de assertividade na compatibilidade dos anúncios e, em alguns casos, tempo de venda inferior a 20 horas —, o Compre Sua Peça ainda enfrenta certa resistência do mercado, acostumado a processos mais analógicos.
Diante desse desafio, o fundador Iago Átila destaca o investimento em iniciativas de educação, como webinars, participação em feiras e campanhas de tráfego pago com vídeos curtos nas redes sociais, visando acelerar a curva de adoção tecnológica do setor.
Em 2024, esses esforços trouxeram resultados concretos: o Compre Sua Peça registrou crescimento de 27% na carteira de clientes, impactando direta e indiretamente mais de 700 mil empresas. Para 2025, a expectativa é manter ritmo de crescimento anual entre 25% e 30%.