Indústria brasileira encerra terceiro trimestre com estagnação na produção e estoques em alta, aponta CNI
O setor industrial terminou o terceiro trimestre de 2025 com sinais persistentes de dificuldade, segundo a Sondagem Industrial divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta segunda-feira (20). O levantamento aponta que a produção ficou estagnada em setembro, os níveis de estoque aumentaram e o emprego no setor recuou. Além disso, os empresários demonstraram maior preocupação com a demanda interna insuficiente.
O índice de evolução da produção registrou 50,1 pontos em setembro — praticamente no limite de estabilidade (50 pontos) —, indicando que a produção se manteve estável em relação a agosto. Já o índice de evolução do emprego caiu para 48,9 pontos, sinalizando redução no número de trabalhadores da indústria. Segundo a CNI, esse comportamento é atípico, já que desde 2020 o mês de setembro apresentava crescimento nesse indicador, com exceção de 2023.
Por outro lado, os estoques continuaram em alta. O índice de evolução dos estoques atingiu 50,8 pontos, mostrando acúmulo maior entre agosto e setembro. Já o índice de estoques efetivos subiu de 48,8 para 50,7 pontos, o que indica volumes acima do considerado adequado pelos empresários.
“Os números revelam um cenário desafiador para a indústria. Há acúmulo indesejado de estoques, mesmo com a produção estagnada — um sinal claro de que a demanda interna enfraqueceu”, explica Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.
A utilização da capacidade instalada (UCI) permaneceu em 70%, abaixo dos 72% registrados em setembro do ano passado.
Condições financeiras melhoram, mas ainda preocupam
O índice de satisfação com a situação financeira das empresas passou de 48,4 para 48,9 pontos no terceiro trimestre, mostrando melhora leve, mas insuficiente para indicar satisfação. Ainda assim, o nível de insatisfação foi menor e menos disseminado do que no trimestre anterior.
O índice de satisfação com o lucro operacional também subiu, de 42,8 para 43,6 pontos, recuperando parte das perdas entre o primeiro e o segundo trimestres — porém segue distante da marca de 50 pontos, mostrando que a rentabilidade segue baixa.
O índice de facilidade de acesso ao crédito teve leve alta de 0,4 ponto (de 39,9 para 40,3), aproximando-se dos níveis observados no início do ano, mas permanece abaixo de 50 pontos, refletindo dificuldade persistente na obtenção de financiamento.
Por outro lado, o índice de preços médios de matérias-primas caiu 1,8 ponto, de 57 para 55,2 pontos. Mesmo assim, o indicador ainda permanece acima de 50, o que significa que os custos dos insumos seguem em ritmo de alta.
Principais desafios: impostos, juros e baixa demanda
Quando questionados sobre os três principais problemas enfrentados pelo setor no trimestre, 37,8% dos empresários citaram a alta carga tributária, que segue no topo do ranking. Logo depois aparecem a demanda interna insuficiente (28,8%) e os juros elevados (27,3%).
A falta ou alto custo de mão de obra qualificada preocupa 22,9% dos industriais, enquanto a concorrência desleal foi mencionada por 19,1% dos entrevistados.
Exportações desaceleram, mas expectativa melhora
Em outubro, o índice de expectativa para o volume de exportações subiu 2 pontos, chegando a 48,6 pontos. Apesar da melhora, o valor segue abaixo da linha de estabilidade, indicando que a expectativa ainda é de queda nas exportações nos próximos seis meses, embora em ritmo menor do que em setembro.
As expectativas de emprego e de compra de matérias-primas recuaram 0,3 ponto cada. O índice de expectativa de emprego caiu para 49,3, sugerindo redução no quadro de pessoal, enquanto o de compras de insumos ficou em 51 pontos, mantendo tendência positiva moderada.
Já o índice de expectativa de demanda avançou 0,2 ponto, de 52,3 para 52,5, mostrando otimismo moderado quanto ao aumento da demanda por bens industriais nos próximos meses.
Intenção de investimento mostra recuperação
O índice de intenção de investimento da indústria subiu de 54,4 para 54,8 pontos, recuperando parte das perdas observadas entre dezembro de 2024 e setembro de 2025, quando havia caído 4,4 pontos.
Segundo a CNI, o resultado demonstra que a confiança do setor começa a se recuperar gradualmente, ainda que em um ambiente de incertezas e juros altos.
 
			















