A incerteza no ambiente econômico resultou em uma queda de 1,5% no Índice de Confiança do Consumidor (ICC) em setembro, na cidade de São Paulo. Calculado mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o índice apresentou uma redução de 10,6% em comparação com o mesmo período do ano anterior, situando-se agora em 110,2 pontos. O ICC varia de zero a 200 pontos, onde valores abaixo de 100 indicam pessimismo e acima, otimismo. Apesar de ainda demonstrar confiança, o resultado revela uma perda de fôlego.
Entre os subíndices que compõem o ICC, o Índice das Condições Atuais (ICEA) teve a maior influência nas variações mensais e anuais. Em setembro, o ICEA caiu 2,1% em relação a agosto, atingindo 105,8 pontos. Anualmente, a queda foi de 9,3% [gráfico 1].
            [Gráfico 1]
            Índice das Expectativas do Consumidor (IEC)
            Índice das Condições Atuais (ICEA)
            Série histórica (13 meses)
            Fonte: FecomercioSP
        

            Alimentos e habitação impulsionam a queda da confiança
            O aumento dos preços de itens essenciais, como alimentos e habitação, continua a ser o principal fator que afeta a percepção dos consumidores sobre o poder de compra. Além disso, o custo da energia elétrica impacta o orçamento familiar. O crédito permanece restrito e com juros elevados, limitando a aquisição de bens de maior valor agregado, como os duráveis. Também é importante mencionar os altos índices de endividamento e inadimplência, que deterioram a confiança, especialmente porque o endividamento está concentrado no cartão de crédito rotativo, o mais caro e arriscado para o orçamento familiar.
        
As condições fiscais e políticas, marcadas por incertezas sobre a sustentabilidade das contas públicas, também contribuíram para enfraquecer as expectativas. Em comparação com setembro de 2024, a queda reflete, sobretudo, uma revisão do otimismo. Segundo a FecomercioSP, no ano passado, havia expectativas de cortes de juros e uma retomada econômica mais sólida, projeções que não se concretizaram com a intensidade esperada em 2025. Embora o emprego permaneça elevado, a renda real pouco avançou — o rendimento médio cresceu apenas cerca de 1% em termos reais —, enquanto a informalidade permanece próxima de 40% da força de trabalho.
Além disso, indicadores recentes apontam uma desaceleração no ritmo de crescimento econômico, afetando significativamente a percepção dos consumidores. No cenário internacional, barreiras comerciais e tensões geopolíticas aumentaram a percepção de risco e limitaram a recuperação doméstica. O momento atual é de expectativa em relação às negociações entre Brasil e Estados Unidos sobre as tarifas de 50% impostas pelo país norte-americano a produtos brasileiros. No entanto, o impacto é mais psicológico e de expectativas, pois afeta o sentimento de estabilidade do mercado, mesmo sem efeitos diretos imediatos no consumo doméstico. Esse descompasso entre expectativas e realidade resultou em um consumidor mais desconfiado e seletivo.
            [Tabela 1]
            Índice de Confiança do Consumidor (ICC)
            Classe Social, gênero e idade
            Setembro
            Fonte: FecomercioSP
        

            Último trimestre sem grandes expectativas
            Segundo a FecomercioSP, o final do ano deve ser mais moderado para o comércio. Embora o calendário inclua datas importantes, como a Black Friday e o Natal, a tendência é de um comportamento mais racional, com foco em itens de necessidade imediata e maior sensibilidade a preços e condições de pagamento. Nesse contexto, empresas que oferecerem facilidades financeiras, ampliarem a eficiência logística e investirem em estratégias de retenção e fidelização terão vantagens competitivas.
        
            Intenção de consumo estável
            Enquanto o ICC mede a confiança no futuro e o ambiente econômico geral, o ICF captura a disposição imediata das famílias para consumir — ou seja, traduz o sentimento em comportamento. A Intenção de Consumo das famílias permaneceu estável em setembro, com uma queda de 0,4% em relação ao mês anterior, atingindo 105,8 pontos e recuando 0,1% no comparativo anual [gráfico 2].
        
            [Gráfico 2]
            Intenção de Consumo das Famílias (ICF)
            Série histórica (13 meses)
            Fonte: FecomercioSP
        
No comparativo mensal, dos sete subíndices que compõem o indicador, três registraram resultados negativos: perspectiva profissional (-2,9%), perspectiva de consumo (-2%) e nível de consumo atual (-0,9%). Na escala de pontuação, três subíndices ficaram na zona de pessimismo: perspectiva de consumo (95,1 pontos), nível de consumo atual (84,2 pontos) e momento para duráveis (70 pontos). Na comparação anual, momento para duráveis (-12,5%) e renda atual (-5,4%) apresentaram quedas expressivas [tabela 2].
            [Tabela 2]
            Índice de Consumo das Famílias (ICF)
            Setembro
            Fonte: FecomercioSP
        
            Consumo por faixa de renda
            Entre as famílias com renda de até dez salários mínimos, a intenção de consumo caiu 0,5% no mês, atingindo 104 pontos. O endividamento, o crédito caro e o aumento dos preços de itens essenciais pressionaram esses lares. No entanto, no comparativo anual, houve um aumento de 2,6%. Esse movimento reflete, segundo a Federação, a comparação com resultados mais baixos em 2024 e uma recuperação gradual da renda, devido à desaceleração do ritmo inflacionário [tabela 3].
        
            [Tabela 3]
            Índice de Consumo das Famílias (até dez salários mínimos)
            Fonte: FecomercioSP
        

No grupo de renda acima desse valor, houve estabilidade na comparação mensal (-0,1%), com 111 pontos. Entretanto, em comparação com setembro do ano passado, a intenção de consumir caiu 6,7%. De acordo com a FecomercioSP, esse resultado pode ser explicado pela forma mais intensa com que o ambiente macroeconômico afeta essa parcela da população. Muitos consumidores revisaram as expectativas diante da frustração com a lentidão na redução dos juros e das incertezas fiscais e internacionais.
            [Tabela 4]
            Índice de Consumo das Famílias (mais de dez salários mínimos)
            Fonte: FecomercioSP
        

            Contexto exige estratégia diferenciada no varejo
            No geral, os resultados do ICF apontam um cenário de descompasso entre curto e longo prazos, além de diferenças entre os estratos de renda. Enquanto as famílias de menor poder aquisitivo mantêm relativa resiliência em relação ao ano passado — sustentadas por ganhos marginais de renda e estímulos sazonais —, o público de maior poder aquisitivo mostra uma retração mais acentuada nas expectativas, o que pode comprometer o consumo agregado nos próximos meses.
        
No varejo, os empresários precisam se atentar principalmente a duas estratégias: apostar em preços acessíveis, condições facilitadas de pagamento e promoções sazonais para consumidores mais sensíveis à renda; e investir em produtos de maior valor agregado — aliados a confiança, estabilidade e diferenciação na experiência de consumo —, voltados para as pessoas de maior poder aquisitivo.
Conforme a FecomercioSP já vem alertando, a recuperação do consumo e da confiança deve ocorrer de forma lenta e gradual, dependendo da consolidação da desaceleração inflacionária, da retomada gradual do crédito ao consumo, do avanço das reformas fiscais e da estabilidade no ambiente externo. Esses fatores continuam pressionados por uma política monetária contracionista, com a taxa Selic em 15% ao ano, e por expectativas de inflação ainda acima da meta (apesar da desaceleração do ritmo de alta do IPCA), o que dificulta uma reversão rápida do pessimismo.
 
			















