BC mantém taxa básica de juros em 15% ao ano pela terceira vez consecutiva

A queda da inflação e a desaceleração da economia levaram o Banco Central a manter inalterada a taxa básica de juros. Por decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (Copom) preservou a Selic em 15% ao ano, movimento já esperado pelo mercado financeiro.

Em comunicado, o Banco Central destacou que o cenário internacional segue incerto, especialmente devido à conjuntura e à política econômica dos Estados Unidos, o que impacta as condições financeiras globais.

No Brasil, a inflação permanece acima da meta, mesmo com o ritmo mais lento da atividade econômica, sinalizando que os juros devem continuar elevados por um período prolongado. Segundo o BC, “o cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. O comitê avalia que a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta”.

O Copom também não descartou a possibilidade de voltar a elevar os juros, caso considere necessário.

Esta é a terceira reunião consecutiva em que o Copom mantém a Selic no patamar atual, o mais alto desde julho de 2006, quando estava em 15,25% ao ano. Após atingir 10,5% ao ano em maio do ano passado, a taxa começou a subir em setembro de 2024 e chegou aos atuais 15% em julho, permanecendo nesse nível desde então.

Selic e inflação

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em setembro, o IPCA acelerou para 0,48%, puxado pelo aumento na conta de energia elétrica. Com isso, o índice acumula alta de 5,17% em 12 meses, ultrapassando o teto da meta contínua de inflação.

Por outro lado, o IPCA-15 de outubro, considerado uma prévia da inflação oficial, ficou abaixo das expectativas, influenciado pela queda dos preços dos alimentos pelo quinto mês consecutivo.

Pelo novo sistema de meta contínua, em vigor desde janeiro, o objetivo de inflação definido pelo Conselho Monetário Nacional é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo – ou seja, entre 1,5% e 4,5%. Agora, a meta é apurada mês a mês, considerando a inflação acumulada em 12 meses, e não mais apenas em dezembro de cada ano.

No último Relatório de Política Monetária, divulgado no fim de setembro, o Banco Central reduziu para 4,8% a previsão do IPCA para 2025, mas a estimativa pode ser revista conforme o comportamento do dólar e da inflação. A próxima edição do relatório será publicada no fim de dezembro.

As projeções do mercado são um pouco mais otimistas. De acordo com o boletim Focus, pesquisa semanal do BC junto a instituições financeiras, a inflação oficial deve fechar o ano em 4,55%, levemente acima do teto da meta. Há um mês, a expectativa era de 4,8%.

Crédito mais caro

O aumento da Selic contribui para conter a inflação, já que juros mais altos encarecem o crédito e desestimulam produção e consumo. Por outro lado, taxas elevadas dificultam a expansão econômica. No último Relatório de Política Monetária, o Banco Central reduziu de 2,1% para 2% a projeção de crescimento do PIB para 2025.

O mercado, no entanto, projeta um desempenho um pouco melhor: segundo o Focus, a expectativa é de expansão de 2,16% do PIB no próximo ano.

A Selic serve de referência para as demais taxas de juros da economia e é utilizada nas negociações de títulos públicos. Ao elevar a taxa, o Banco Central busca conter o excesso de demanda que pressiona os preços, pois juros mais altos encarecem o crédito e incentivam a poupança.

Por outro lado, ao reduzir a Selic, o Copom torna o crédito mais acessível e estimula produção e consumo, mas pode enfraquecer o controle sobre a inflação. Para cortar os juros básicos, a autoridade monetária precisa ter segurança de que os preços estão sob controle e não há risco de alta.