O índice de famílias endividadas atingiu 79,5% em outubro, marcando o terceiro mês consecutivo de alta e estabelecendo um novo recorde na série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), divulgada nesta terça-feira (4) pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O levantamento, realizado desde 2010, considera famílias que possuem dívidas a vencer em modalidades como cartão de crédito, cheque especial, carnês, financiamentos e crédito consignado.
Entre os entrevistados, 30,5% relataram estar com pagamentos em atraso, enquanto 13,2% afirmaram não ter condições de quitar suas dívidas — também o maior patamar já registrado pela pesquisa. A CNC projeta que o cenário de endividamento deve continuar avançando nos próximos meses.
Outro dado que chama atenção é o aumento no tempo de inadimplência. Quase metade das famílias inadimplentes (49%) está com dívidas em atraso há mais de 90 dias, o maior índice desde dezembro do ano passado. Além disso, 32% estão com débitos pendentes há mais de um ano. O percentual de famílias que se consideram “muito endividadas” chegou a 16,8%, um dado que reflete a percepção individual, mas que preocupa os especialistas. Segundo José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, a combinação de endividamento, inadimplência e sensação de insuficiência financeira é um sinal claro de alerta, especialmente para a necessidade de ajustes fiscais, a fim de evitar que a situação se agrave em 2025 e 2026.
O comprometimento da renda também aumentou. Agora, 19,1% das famílias destinam mais da metade de sua renda mensal ao pagamento de dívidas, ante 18,8% no mês anterior. A maioria (56,3%) compromete entre 11% e 50% da renda, com uma média de 29,6% — o maior nível desde maio.
A inadimplência é mais acentuada entre as famílias de menor renda: no grupo com até três salários mínimos, 39,2% têm dívidas em atraso. Esse índice cai para 29,3% entre três e cinco salários mínimos, 21,8% entre cinco e dez, e 16,2% para quem recebe acima de dez salários mínimos. Entre os que ganham até três salários mínimos, 18,7% afirmam que não conseguirão pagar as dívidas atrasadas; já entre os que ganham mais de dez salários, esse percentual é de 5,3%.
Para o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, nem mesmo o bom momento do mercado de trabalho tem sido suficiente para frear a inadimplência, pressionada pela alta dos juros. Ele ressalta que o comércio já sente os efeitos da desaceleração nas vendas, enquanto as famílias buscam ajustar seus orçamentos para enfrentar o cenário atual. A CNC destaca que as promoções da Black Friday e a proximidade do Natal devem impulsionar as vendas, mas alerta para o impacto dos juros elevados: o efeito “bola de neve” das dívidas não será resolvido apenas com o aumento do consumo sazonal.
A pesquisa da CNC é realizada em todas as capitais e no Distrito Federal, com cerca de 18 mil consumidores entrevistados.

















