As vendas de pneus no mercado brasileiro fecharam outubro em queda. Foram comercializadas 3,4 milhões de unidades, recuo de 7,4% em relação ao mesmo mês de 2023 — o que representa mais de 280 mil pneus a menos. No acumulado de janeiro a outubro, o volume chegou a 33,5 milhões de unidades, queda de 3,2% frente ao mesmo período do ano passado, consolidando uma redução superior a 1 milhão de pneus.
O principal fator de pressão é o mercado de reposição, que encolheu 6,7% no ano. O desempenho positivo das montadoras, com alta de 4,1% no período, não foi suficiente para compensar as perdas.
“O retrato do ano é muito ruim para a indústria, especialmente pelo acirramento da concorrência com pneus importados, que seguem entrando no país a valores muitas vezes inferiores ao custo de produção”, afirma Rodrigo Navarro, presidente da ANIP. “Estamos trabalhando de forma propositiva para enfrentar as ameaças de perda de investimentos, empregos e de desorganização do ecossistema produtivo no Brasil”, completa.
Navarro destaca que o setor busca condições de competição alinhadas às principais economias. “Estamos olhando para o que México, Estados Unidos e Europa vêm fazendo: exigir condições isonômicas de atuação no Brasil, tanto para fabricantes quanto para importadores — o que envolve não apenas custos e preços, mas também cumprimento de normas ambientais e de conformidade técnica.”
Desempenho por segmento
Na categoria de pneus de passeio, as vendas totais caíram 2,7% nos dez primeiros meses do ano. O mercado de reposição recuou 6,6%, enquanto as entregas às montadoras cresceram 4,9%, único movimento de alta nesse grupo.
No segmento de carga, a retração no acumulado do ano foi de 5,5%. As vendas para montadoras caíram 0,6% e o mercado de reposição recuou 7,4%.
Entre os pneus para motocicletas destinados à reposição, o cenário também é negativo: queda de 11,7% em relação ao mesmo período de 2023.
Efeito na cadeia produtiva
A retração das vendas já começa a atingir a cadeia de insumos, que envolve produtores de borracha natural, fabricantes de químicos, têxteis e aço — um ecossistema que gera mais de 500 mil empregos indiretos no país. “As dificuldades enfrentadas estão criando um problema sistêmico no Brasil e podem levar à desindustrialização e à perda de empregos”, avalia Navarro.
Para José Fernando Benesi, presidente da Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (Abrabor), o momento é de forte apreensão para o campo. “A entrada intensa de pneus importados, muitas vezes em condições desleais, como mostram as ações antidumping do governo, impacta diretamente a indústria e se reflete no produtor”, afirma. “Esse desafio significa perda de espaço da indústria nacional e, consequentemente, queda significativa na demanda por borracha natural brasileira”, alerta.
Benesi reforça que o efeito é estrutural: “Quando a indústria nacional de pneus é afetada dessa forma, toda a cadeia fica comprometida. O produtor rural, que vive do cultivo da seringueira e do manejo sustentável da floresta, já sente os efeitos da retração e se preocupa com a viabilidade da manutenção dessas indústrias no país. Precisamos de ações urgentes e estamos ao lado da indústria nacional para construir soluções em conjunto.”
Outubro em relação a setembro
Na comparação com outubro de 2023, as vendas totais de pneus recuaram 7,4%. De acordo com o balanço da ANIP, houve perda de volume tanto no mercado de reposição, com queda de 4%, quanto no atendimento às montadoras, que encolheu 13,4%.
Já na comparação com setembro deste ano, o quadro é um pouco menos pressionado. As vendas totais cresceram 8,7%, impulsionadas pelo mercado de reposição, que avançou 15,3%. As entregas às montadoras, porém, tiveram leve retração de 2,3%.
“Tivemos algum alívio em relação a setembro, mas o quadro geral do ano segue de muita dificuldade para os fabricantes nacionais, que enfrentam concorrência desleal dos importados”, resume Navarro.















