A virada para 2026 chega carregada de mudanças estruturais para o varejo brasileiro. De um lado, a Reforma Tributária entra na fase prática, com novas regras para emissão de documentos fiscais e a necessidade de empresas do Simples Nacional decidirem, ainda em 2025, se adotarão o regime híbrido a partir de 2027. De outro, o ambiente econômico continua pressionado por juros altos, inflação resistente e instabilidade externa, o que mantém o consumo sob cautela. Nesse contexto, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) alerta: será fundamental combinar planejamento tributário rigoroso com disciplina financeira para atravessar o ano com segurança.
Os temas foram detalhados na reunião de novembro do Conselho do Comércio Varejista da Entidade, com apresentações de Sarina Manata e Fábio Pina, assessores da FecomercioSP.
Sarina lembrou que 2026 marca o início da transição da Reforma Tributária, com a aplicação das alíquotas-teste de 0,9% para a CBS e 0,1% para o IBS. A partir de 1º de janeiro, todos os documentos fiscais passam a ser exclusivamente eletrônicos — incluindo exportações e importações — e devem obrigatoriamente conter os campos relativos a esses dois novos tributos. A ausência dessa informação levará à rejeição automática das Notas Fiscais Eletrônicas (NF-e) já em 5 de janeiro, o que pode interromper operações de varejo. “O empresário precisa tratar 2026 como um ano de implementação de fato. A fiscalização será eletrônica, automática e instantânea. Quem não se ajustar corre o risco de paralisar a emissão fiscal”, afirmou.
NF-e simplificada e cClassTrib
A assessora também ressaltou que operações presenciais entre empresas deixarão de aceitar NFC-e, passando a exigir NF-e modelo 55. Está prevista uma versão simplificada desse modelo, mas ainda não há definição técnica.
Outro ponto crítico é a revisão urgente do cadastro de produtos, já que os códigos fiscais também serão alterados. O CST será complementado pelo Código de Classificação Tributária (cClassTrib), de seis dígitos, que indicará de forma objetiva o enquadramento da operação com base na LC 214/2025. Qualquer erro impedirá a emissão da nota. Sarina reforçou que o ambiente fiscal será totalmente parametrizado e auditável em tempo real, o que exige preparação prévia minuciosa.
Simples Nacional
Sarina destacou ainda o funcionamento do regime híbrido do Simples Nacional, que permitirá recolher IRPJ, CSLL e CPP pelo sistema atual e IBS/CBS de forma separada. A opção pode ser especialmente vantajosa para empresas que investem em bens de capital e para pequenos mercados e farmácias, segmentos que devem se beneficiar de reduções relevantes de IBS/CBS no regime regular.
ICMS-ST
Outro tema em debate foi a exclusão de produtos do ICMS-ST. Como IBS e CBS não adotam o mecanismo de Substituição Tributária, o Estado de São Paulo começou a enxugar o número de itens sujeitos a esse regime. A partir de 2026, 130 produtos deixam de integrar a ST, como medicamentos, bebidas alcoólicas, lâmpadas e itens domésticos. As empresas que desejarem aproveitar créditos precisarão fazer o levantamento de estoque em 31 de dezembro deste ano. Quem optar por não utilizar esses créditos fica dispensado da apuração.
Conjuntura econômica mantém sinal de alerta para 2026
Na sequência, Fábio Pina apresentou o cenário esperado para o varejo em 2026. Segundo ele, “nada muda em relação ao quadro do segundo semestre”, com um ambiente ainda desafiador, desaceleração do setor e economia operando sob juros elevados. Com a Selic mantida em 15% ao ano, o crédito, os investimentos e o consumo seguirão pressionados, mesmo com alguma perda de ritmo da inflação. “A atividade continua em nível alto, mas os indicadores já mostram perda de fôlego. Para o comércio, isso significa um consumidor mais cauteloso e um empresário que precisa ser mais conservador em custos e estoques”, explicou.
Pina observou que, embora os dados do mercado de trabalho ainda indiquem saldos positivos, isso não representa uma expansão robusta. Em muitos casos, as novas vagas apenas substituem empresas que fecharam, evidenciando a fragilidade do ambiente de negócios. Ele também chamou atenção para o impacto adicional das tarifas impostas pelos Estados Unidos às exportações brasileiras, fator que tende a aumentar a volatilidade cambial. “A volatilidade do câmbio vira custo, e custo vira preço. Isso afeta toda a cadeia e reduz a previsibilidade para o empresário”, afirmou.
Para 2026, o assessor projeta um ano de incerteza mais elevada por conta do calendário eleitoral e de um quadro fiscal pressionado. A expectativa é de crescimento modesto, sustentado principalmente pelo gasto público, com desaceleração do mercado de trabalho e investimento privado ainda dependente do nível de confiança. “A orientação é reforçar o caixa, cuidar do giro dos estoques e planejar mês a mês. Será um ano que exigirá mais prudência do que ousadia”, concluiu.
A mensagem final, comum aos dois assessores, é clara: a combinação entre a implementação da Reforma Tributária e um cenário econômico desafiador torna a organização prévia indispensável. O varejista que revisar processos, atualizar sistemas e reforçar o planejamento financeiro estará em posição muito melhor para atravessar 2026 sem sobressaltos — seja ele uma oficina, uma autopeças, uma concessionária ou um grande grupo do setor automotivo.














