Quatro projetos de descarbonização e digitalização da cadeia automotiva vão mobilizar, nos próximos três anos, R$ 210 milhões em investimentos de empresas do setor pelo Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover), ligado ao Nova Indústria Brasil, do governo federal. Os recursos, operados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), vão apoiar o desenvolvimento de tecnologias inéditas no país para motores a etanol, produção de aço, sensores radar automotivos e aplicações de grafeno.
Os projetos foram selecionados na chamada “Projetos Estruturantes” de Embrapii e SENAI. O anúncio ocorre nesta quinta-feira (4), pela Plataforma Inovação para a Indústria. Dos R$ 210 milhões, 85,5% são recursos não reembolsáveis do Mover e 14,5% correspondem à contrapartida das empresas.
Os quatro projetos reúnem grandes fabricantes automotivos e siderúrgicos – como Volkswagen, Stellantis, General Motors, Hyundai, Toyota, Usiminas e CSN –, além de startups e instituições de ciência e tecnologia (ICTs). A linha de Projetos Estruturantes se diferencia pela complexidade e pelo potencial de impacto das soluções, que devem ser desenvolvidas em até 36 meses, sempre por consórcios formados por pelo menos cinco empresas, em parceria com unidades Embrapii e Institutos SENAI de Inovação.
O diretor-geral do SENAI, Gustavo Leal, destaca que a lógica é apoiar alianças setoriais, e não apenas demandas individuais. “A chamada é voltada a projetos de P&D de alta complexidade, com foco em futuro, capazes de mudar o patamar da indústria brasileira por meio da nacionalização de tecnologias para descarbonização da cadeia automotiva, um desafio global do setor. Estamos falando de um domínio tecnológico que o Brasil ainda não tem e que será desenvolvido de forma colaborativa para manter a competitividade da nossa indústria”, afirma.
Para o presidente da Embrapii, Alvaro Prata, o resultado é um exemplo direto de política pública convertida em capacidade tecnológica. “Estamos falando de R$ 210 milhões direcionados à criação de tecnologias inéditas no Brasil, com grande impacto na competitividade da indústria e na redução de emissões de gases de efeito estufa em áreas estratégicas para o futuro da mobilidade”, avalia.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, reforça o papel do Mover na articulação do ecossistema. “Este é um excelente exemplo de como o Mover estimula o investimento em todo o ecossistema de inovação brasileiro, com foco em eficiência energética, descarbonização e soberania tecnológica. Temos grandes montadoras, startups e ICTs reunidas em projetos de alta relevância, a partir da parceria do MDIC com SENAI e Embrapii, fundamental neste e em outros programas da Nova Indústria Brasil”, diz.
CONHEÇA OS PROJETOS APROVADOS
1. Motor a etanol de alta eficiência
O objetivo é desenvolver motores a etanol de alta eficiência para veículos leves, combinando alta taxa de compressão, combustão ultrapobre e ignição distribuída via pré-câmara. O escopo inclui simulações, otimização de pistões, estratégias de combustão acelerada, calibração de ignição e injeção, desenvolvimento de sistemas virtuais de comando de válvulas e criação de um bloco de motor mais resistente e sustentável.
– ICTs proponentes: Instituto SENAI de Inovação (ISI) em Manufatura Avançada e Microfabricação (SP) e Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA – SP) – ICTs participantes: ISI em Processamento a Laser (SC) e ISI em Engenharia de Estruturas (PR) – Empresas: Volkswagen, Stellantis, General Motors, Hyundai, CNH, Tupy, MWM Tupy, Horse, Mahle, Schaeffler, AVL, Dirac e Liconic – Valores: R$ 48,8 milhões (R$ 44 milhões do Mover + R$ 4,8 milhões de contrapartida)
2. Redução de emissões de CO₂ na cadeia automotiva via descarbonização siderúrgica – aço de baixa pegada de carbono
O projeto mira a redução de emissões de CO₂ da cadeia automotiva por meio da descarbonização do processo siderúrgico. Serão testados o uso de hidrogênio como agente redutor, matérias-primas renováveis e diferentes rotas de processo em unidades de bancada e piloto, incluindo alto-forno experimental e simulador de redução direta. A iniciativa prevê criar uma infraestrutura inédita no hemisfério sul para tecnologias alinhadas às metas globais de sustentabilidade.
– ICTs proponentes: ISI em Metalurgia e Ligas Especiais (MG) e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT – SP) – ICTs participantes: ISI em Processamento Mineral (MG) – Empresas: Usiminas, CSN, Stellantis, Mercedes-Benz, IBAR, Nissan e Iveco Group – Valores: R$ 76,8 milhões (R$ 59,8 milhões do Mover + R$ 17 milhões de contrapartida)
3. ADAS com sensor radar nacional: implantação de planta piloto e nacionalização tecnológica
A proposta é desenvolver uma solução nacional de sistema ADAS (sistemas avançados de assistência ao condutor) com radar automotivo de médio e longo alcance, reduzindo a dependência externa e fortalecendo a soberania tecnológica. O projeto inclui o desenho de uma arquitetura aberta e segura, instalação de uma planta piloto para produção e testes, integração com câmeras para funções como frenagem automática e controle de cruzeiro, além da entrega de protótipos funcionais com foco em futura industrialização.
– ICTs proponentes: ISI em Tecnologia da Informação e Comunicação (PE) e Instituto de Pesquisas Eldorado (SP) – ICTs participantes: ISI em Sistemas Embarcados (SC) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE – PE) – Empresas: Stellantis, Volkswagen, Krah, Valeo, TE Connectivity, Tron, Volkswagen Truck & Bus, Macieiras Labs Ltda. e Onmotus Engenharia Ltda. – Valores: R$ 41,9 milhões (R$ 37,6 milhões do Mover + R$ 4,3 milhões de contrapartida)
4. Hub do Grafeno: novas tecnologias para descarbonização da indústria automotiva
O projeto vai estruturar um hub tecnológico nacional dedicado ao desenvolvimento e validação de nanocompósitos de polímeros virgens e reciclados com grafeno, voltados a componentes automotivos mais leves e sustentáveis. Estão previstas uma infraestrutura piloto para síntese e funcionalização de grafeno, definição de rotas nacionais de produção, metodologias de dispersão, validação em protótipos, análises de ciclo de vida e integração com a cadeia automotiva para acelerar a chegada dessas soluções ao mercado.
– ICTs proponentes: ISI em Materiais Avançados e Nanocompósitos (SP) e Centro de Tecnologia em Nanomateriais e Grafeno (CTNano – MG) – ICTs participantes: ISI em Manufatura Avançada e Microfabricação (SP), ISI em Eletroquímica e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar – SP) – Empresas: Toyota, Volkswagen, General Motors, Ford, Caio, Hyundai, Mahle, Plascar, Dinaco, Planet Color, Wise Plásticos, Sulbras Moldes e Plásticos, Ipol Nanotecnologia, Nanum Nanotecnologia, Montana Química, UrbMining, Hexographene e Degrad – Valores: R$ 42,2 milhões (R$ 38 milhões do Mover + R$ 4,2 milhões de contrapartida)
HISTÓRICO DAS CHAMADAS
Esta é a terceira chamada de Projetos Estruturantes do SENAI no âmbito do Mover. A primeira, lançada em 2023, em parceria com a Embrapii, selecionou três projetos. A segunda, em 2024, em parceria com o Fundepar, aprovou outros dois. Os cinco projetos das edições anteriores podem ser consultados em mover.senai.br.
Nesta nova rodada, sete propostas foram submetidas e habilitadas, somando pedidos de R$ 358,9 milhões em apoio do SENAI e da Embrapii – quase o dobro do montante disponível. O volume demonstra o interesse e a aderência de empresas e ICTs ao modelo de Projetos Estruturantes.
A dinâmica funciona da seguinte forma: o SENAI abre a chamada na Plataforma Inovação para a Indústria, e as empresas inscrevem propostas em aliança com, no mínimo, outras quatro empresas e um Instituto SENAI. Os projetos devem partir de níveis intermediários de maturidade tecnológica – entre os TRLs 3 e 5 – e chegar pelo menos ao TRL 6. A escala TRL (Technology Readiness Levels), criada pela NASA, varia de 1 (observação de princípios básicos) a 9 (comprovação em ambiente operacional real).
FORMAÇÃO DA ALIANÇA ESTRUTURANTE
– Participações obrigatórias: 1 indústria proponente + 4 ou mais indústrias participantes + 1 Instituto SENAI coordenador + 1 unidade de outra ICT coordenadora – Participações opcionais: outros Institutos SENAI, outros financiadores, startups, universidades e ICTs – Valor por projeto: de R$ 10 milhões a R$ 60 milhões – Configuração 5 empresas + 2 ICTs: exige 20% de contrapartida das empresas – Configuração 5 empresas + 2 ICTs + 2 startups: contrapartida empresarial reduzida a 10%
Os projetos têm prazo de até 36 meses para execução.
















