Pela primeira vez em seus 88 anos de história, a Volkswagen encerrou a produção de veículos em uma fábrica localizada na Alemanha. A unidade afetada é a famosa Gläserne Manufaktur (Fábrica Transparente), em Dresden, no leste do país. Na terça-feira, 16 de dezembro de 2025, o último carro — um ID.3 GTX vermelho — saiu da linha de montagem, marcando o fim definitivo da montagem automotiva no local.
A decisão, embora simbólica, reflete os desafios profundos enfrentados pela maior montadora europeia: queda nas vendas na China e na Europa, impacto de tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos, custos elevados na Alemanha e uma transição para veículos elétricos mais lenta do que o esperado. Thomas Schäfer, CEO da marca Volkswagen, admitiu que a medida “não foi tomada de ânimo leve”, mas era “absolutamente necessária do ponto de vista econômico”.
História da Fábrica Transparente
Inaugurada em 2001 (ou 2002, dependendo das fontes), a Gläserne Manufaktur foi concebida como uma vitrine tecnológica da Volkswagen. Com paredes de vidro que permitiam aos visitantes observar o processo de montagem, o local produziu inicialmente o luxuoso sedã Phaeton — um modelo topo de linha que até chegou a ser usado pelo Papa em 2006. Após o fim do Phaeton em 2016, a fábrica se reinventou como símbolo da eletrificação, produzindo o e-Golf e, mais recentemente, o elétrico ID.3.
Ao longo de suas mais de duas décadas de operação, a unidade fabricou menos de 200 mil veículos — um volume modesto comparado às centenas de milhares anuais da matriz em Wolfsburg. O último ID.3 produzido foi assinado por todos os funcionários e permanecerá exposto no local como lembrança.
Cerca de 230 funcionários estavam empregados na fábrica no momento do encerramento. Acordo com os sindicatos garante que não haja demissões compulsórias: eles receberão opções de indenização, aposentadoria antecipada ou transferência para outras unidades da Volkswagen na Alemanha.
O prédio não será abandonado. A partir de 2026, após reformas, a Gläserne Manufaktur será transformada em um campus de inovação, em parceria com o governo do estado da Saxônia e a Universidade Técnica de Dresden (TU Dresden). O foco será em tecnologias do futuro: inteligência artificial, robótica, microeletrônica e design de chips. A Volkswagen investirá cerca de €50 milhões nos próximos sete anos, e a universidade ocupará quase metade das instalações. O local também manterá funções como centro de entregas de veículos e atração turística.
O fechamento de Dresden é parte de um plano amplo de reestruturação da Volkswagen, acordado com sindicatos, que prevê a redução de até 35 mil postos de trabalho na Alemanha até 2030 e corte na capacidade produtiva. A empresa enfrenta prejuízos trimestrais — o primeiro em anos —, pressão por investimentos simultâneos em motores a combustão (que duram mais do que o previsto) e elétricos, além de concorrência feroz dos chineses no segmento EV.
Esse evento histórico sinaliza tempos difíceis para a indústria automotiva alemã, tradicional pilar da economia do país. Enquanto a Volkswagen se reinventa focando em software e tecnologias avançadas, o fechamento da primeira fábrica doméstica em quase nove décadas serve como alerta para os desafios da transição energética global.












