O Brasil enfrenta desafios técnicos, econômicos e regulatórios para acelerar a transição para a mobilidade elétrica. Apesar de sua importância como fabricante e mercado consumidor, menos de 7% dos veículos licenciados em 2024 são elétricos. O estudo Mobilidade Elétrica: experiência internacional e condições de contorno para sua difusão no Brasil, elaborado pela Thymos Energia — uma das maiores consultorias especializadas no setor elétrico do país — revela que o avanço da eletromobilidade traz novas demandas e requer adaptações no sistema para suportar o aumento do consumo de energia.
O levantamento identifica as principais barreiras para a difusão da mobilidade elétrica no Brasil e apresenta um roadmap de soluções, além de analisar tecnologias concorrentes aos veículos elétricos. A pesquisa baseia-se em experiências internacionais de países das Américas, Europa e Ásia, como Brasil, China, Alemanha, Estados Unidos e Chile, destacando a necessidade de abordagens integradas.
Para Luiz Vianna, COO da Thymos Energia, modernizar a infraestrutura elétrica é fundamental para apoiar a eletrificação da frota nacional. Isso exige digitalização das redes, descentralização da geração e adoção de tecnologias inovadoras. “É preciso investir em carregamento inteligente e no intercâmbio de energia entre veículos e a rede. A evolução da eletromobilidade demanda planejamento, integração e investimentos coordenados entre poder público, indústria automotiva, empresas de energia e consumidores. Trata-se de uma transformação profunda do setor elétrico nacional”, afirma.
O estudo também aponta que o modelo tarifário brasileiro precisa ser revisado. As metodologias tradicionais de remuneração das distribuidoras não atendem às novas demandas da eletromobilidade. “É necessário desenvolver soluções regulatórias que considerem receitas por serviços de plataforma, mecanismos de ajuste de desempenho das distribuidoras e maior flexibilidade tarifária”, explica Luiz Vianna. Tarifas específicas, que levem em conta o horário de recarga e a autonomia dos veículos, são essenciais para garantir o uso eficiente da rede e incentivar a adoção pelos consumidores.
Eletromobilidade no Brasil – Em 2024, menos de 7% dos veículos vendidos no país foram elétricos. Embora ainda representem uma pequena parcela do setor automotivo nacional, a frota elétrica cresceu 85% em relação a 2023, indicando um estágio inicial da transição, mas com grande potencial de expansão.
Um exemplo importante é a eletrificação de frotas coletivas, estratégia fundamental para cidades sustentáveis. Atualmente, cerca de 1.000 ônibus elétricos circulam em 18 municípios brasileiros, o que corresponde a menos de 1% do total de ônibus coletivos. Em resposta, o Governo Federal lançou em 2024 um plano nacional de incentivo à eletromobilidade no transporte coletivo, em parceria com a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe). Cidades como São Paulo, Curitiba e Brasília já implementaram iniciativas pontuais, introduzindo ônibus elétricos em corredores estratégicos. São Paulo, por exemplo, estuda a criação de Zonas de Baixa Emissão (ZBE), onde apenas veículos limpos poderão transitar nos centros urbanos.
Sustentabilidade – O estudo da Thymos também destaca os impactos ambientais da eletromobilidade, especialmente o descarte de baterias. Para evitar passivos ambientais futuros, sugere-se a criação de uma cadeia nacional de reciclagem de baterias de íon-lítio, incluindo centros de processamento. Essa iniciativa reduziria a dependência da exportação de resíduos, fomentaria a economia circular, geraria empregos e estimularia a inovação tecnológica.
“A eletromobilidade não é apenas uma tendência de mercado, mas uma parte central da transição energética que exige planejamento integrado, regulamentação moderna e visão ambiental. O setor elétrico está no centro dessa transformação e precisa agir rapidamente para implementar as mudanças necessárias”, analisa Victor Ribeiro, consultor estratégico e membro da equipe responsável pelo estudo na Thymos Energia.
Cenário global – A eletrificação do transporte avança de forma consistente no mundo. Além de carros, ônibus, vans e motocicletas elétricas ganham espaço em centros urbanos. Em 2023 e 2024, as vendas globais de veículos elétricos atingiram 14 e 17 milhões de unidades, respectivamente. A China lidera, representando cerca de 60% das vendas mundiais e 76% do mercado global em outubro de 2024. O país também se destaca em infraestrutura de recarga, produção de baterias e eletrificação de frotas pesadas, como caminhões e ônibus.
Na Europa, a Alemanha se destaca por sua política nacional robusta e coordenada para eletrificação do transporte coletivo, com subsídios, isenção de impostos sobre veículos e uma infraestrutura pública densa e interoperável. O mapeamento da consultoria, com base em projeções da Agência Internacional de Energia (IEA), aponta que os ônibus elétricos devem representar 30% da frota vendida globalmente até 2035, considerando as políticas atuais. Na América Latina, o Chile possui a maior frota de ônibus elétricos, com cerca de 2.600 unidades, seguido pela Colômbia, com 1.700.
















