Apenas 44% das empresas têm hoje medidas de adaptação climática em prática, embora a maior parte das organizações que lideram a agenda de gestão climática já mapeie os impactos do aquecimento global sobre seus negócios. O dado é do estudo Global Climate Action Barometer, da EY. Segundo o levantamento, 92% das companhias ouvidas avaliam, de forma qualitativa ou quantitativa, os riscos físicos do clima para suas operações. Sem ações concretas de adaptação, porém, essas empresas ficam expostas a interrupções profundas em suas atividades, algo que preocupa investidores e demais stakeholders.
“Eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes, podem levar desde à paralisação temporária de uma fábrica até a total interrupção ou destruição de operações, comprometendo severamente os resultados de negócio”, afirma Leonardo Dutra, sócio-líder de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade da EY Brasil. “Por isso, é fundamental que esses riscos sejam corretamente mapeados e, tão importante quanto isso, mitigados com medidas de adaptação climática”, acrescenta. Nesse processo, as empresas precisam traduzir o risco climático em impacto financeiro para planejar investimentos eficazes em adaptação e fortalecer a resiliência de suas operações.
O estudo ouviu 857 empresas de 50 países e 13 setores econômicos, selecionadas por sua liderança em ambição climática, qualidade de divulgação e gestão de risco climático. Os resultados refletem as iniciativas das organizações destacadas na edição 2024 do Global Climate Action Barometer, também da EY.
Entre as empresas que já adotam medidas de adaptação, as ações mais comuns são controle de temperatura em instalações, presente em 37% da amostra, e construção de muros de contenção para proteção contra inundações pluviais e fluviais, implementada por 24%. O levantamento mostra ainda que a profundidade da análise de risco está diretamente ligada ao nível de ação: companhias que realizam avaliações quantitativas de risco são 35% mais propensas a divulgar medidas de adaptação do que aquelas que se limitam a análises qualitativas.
Do ponto de vista setorial, mineração e construção se destacam como os segmentos com maior probabilidade de divulgar medidas de adaptação a riscos físicos. “Isso se deve à forte exposição de seus modelos de negócios a danos de infraestrutura provocados por eventos climáticos extremos e por inundações associadas à elevação do nível do mar”, explica Dutra.
Investimento em descarbonização
O estudo aponta ainda que, como parte de uma estratégia mais ampla de resiliência, muitas empresas estão acelerando seus planos de descarbonização para reforçar competitividade e robustez dos negócios em um cenário de transição climática.
“Elas estão avançando sem esperar pela definição completa de metas regulatórias de emissões. É necessário, porém, que esses parâmetros surjam o quanto antes, para que seja possível avaliar se os esforços proativos das empresas são suficientes para gerar o impacto real necessário”, conclui Dutra. A ausência de estruturas sólidas de governança — sobretudo na alocação de capital, definição de metas e monitoramento de resultados — também acende um sinal de alerta entre investidores quanto à credibilidade, no longo prazo, das estratégias e compromissos ligados à descarbonização.

















