O ideal é que o líder concilie o seu próprio perfil com a cultura organizacional da empresa. E não faltam dicas para isso
A liderança faz a diferença nas empresas, é o que motivará e incentivará os colaboradores no dia a dia e também a alcançar os objetivos traçados. O empreendedor Danilo Mendes, sócio e cofundador da Martello Educação Financeira, explica que quando se fala em liderança, existem muitos estudos e linhas que apontam os diferentes perfis. “Em geral, esses perfis são agrupados por características, como: tomada de decisão, estímulos, participação e comunicação com a equipe”.
Ele cita que entre os principais tipos de líderes estão o autocrático, o liberal, o democrático, o paternalista, o técnico e o líder carismático/motivador (ver Box). Mendes também participou da 6ª temporada do reality Shark Tank Brasil, criado pela Nippon TV no Japão, quem tem como objetivo ajudar os empreendedores a tirarem suas iniciativas do papel.
CEO da Incentivar, Rodolfo Carvalho, esclarece que a liderança pode ser algo que nasce com a pessoa, como um dom, ou pode surgir no dia a dia de trabalho, na construção de relações, especialmente se o profissional está sempre buscando se aperfeiçoar no âmbito profissional e pessoal. “De acordo com as suas características comportamentais e habilidades, um líder reconhece o perfil de liderança ideal ao conciliar o seu próprio perfil com a cultura organizacional da empresa. É a troca de energia entre a empresa e as pessoas que dela fazem parte que faz com que a atuação de um líder se torne cada vez mais eficiente, apresentando os melhores resultados junto ao time”.
Ele destaca que a troca entre colaboradores e líderes é maior na liderança democrática e a equipe pode influenciar nas tomadas de decisões e nos processos operacionais. “Valorizando o ponto de vista do profissional que está no dia a dia da operação cria-se um ambiente saudável e transparente, em que colaboradores não têm receio de compartilhar informações e opiniões essenciais. É importante deixar claro que o líder democrático não terceiriza decisões. A palavra final será dele. Por isso, para ser um líder deste tipo não basta apenas ouvir, é preciso ter firmeza e assertividade”, ressalta.
Diferentes segmentos
Questionados se os perfis de liderança mudam conforme a área de atuação, Mendes diz que os profissionais que escolhem determinadas áreas possuem algumas características em comum e, por consequência, têm necessidades específicas. Para exemplificar, ele cita os profissionais de áreas de criação artística, em geral, eles demandam de mais liberdade e informalidade, um ambiente leve e flexível, e os da área de Direito, mais formais e rígidos.
Segundo ele, o importante é a adaptação. “O líder precisa adaptar o seu perfil, ou estar em um ambiente e com uma equipe no qual consiga explorar as suas maiores capacidades para trazer mais resultados. Dificilmente um líder com perfil autocrático terá bons resultados em uma área de criação, por exemplo”.
O perfil de liderança varia de acordo com o setor de atuação, mas ele também pode mudar ao longo do tempo, já que uma empresa é um ente vivo. “Missão, visão e valores são elementos mais estáveis, porém cada novo líder que chega terá a sua leitura desses itens. Atitudes e resultados devem ser objetivamente mensurados. Quando há inteligência de dados envolvida no processo fica muito mais fácil para as empresas entenderem o perfil de seus funcionários e tomarem decisões que mantenham a empresa no rumo estrategicamente definido por suas maiores lideranças”, explica Carvalho.
Pontos de atenção
Para não comprometerem a motivação dos colaboradores, Mendes destaca dois pontos: seja o exemplo e se importe genuinamente com as pessoas. “Para motivar, o líder precisa entender o perfil de cada membro da equipe, conhecer os motivadores de cada um e ser um intermediário para defender os objetivos da empresa e dos liderados. Muitos líderes falham em pender muito para um desses dois lados”.
Segundo ele, ser autoritário e centralizador, não dar o exemplo, não conhecer seu perfil e capacidades, não conhecer o perfil de seus liderados e falta de gestão: não têm, não acompanham ou ignoram as metas estabelecidas, são alguns pontos delicados que geralmente a maioria dos líderes comete.
Nesse quesito, Carvalho ressalta que os líderes precisam estar sempre atentos ao seu papel dentro da organização. “Cada equipe é única, porém identifico alguns erros mais comuns, cometidos tanto por líderes veteranos quanto por novatos, e que podem comprometer o trabalho de toda uma equipe. Talvez os dois principais sejam: não deixar claro para o colaborador o que é esperado dele e não dar a atenção devida ao engajamento e à motivação”.
Para ele, mais importante do que um time ser reconhecido por suas atitudes, ações e metas cumpridas, é explicitar o valor que a empresa percebe em cada resultado trazido pelo colaborador. “Quando montamos um programa de Incentivo aqui na Incentivar, prezamos muito pelo acompanhamento. Ao mesmo tempo em que o gestor deve seguir de perto os resultados de seus colaboradores para poder ser um mentor construtivo, o próprio colaborador deve poder acompanhar o progresso de suas entregas de maneira clara e objetiva e, principalmente, mensurável”, afirma.
Envolvimento
Como todos nós estamos constantemente nos aprimorando, para os líderes não seria diferente. A primeira dica de Mendes é focar nas pessoas, pois não existe empresa que se inicie ou funcione sem elas. “Simon Sinek, um grande nome do empreendedorismo e liderança mundial, diz: se você não entende de pessoas, não entende de negócios. Uma boa forma de focar nas pessoas é ter empatia! E isso não é simplesmente “se colocar no lugar do outro”, porque muitas vezes somos incapazes de nos livrar de nossos julgamentos, crenças, valores, histórias e experiências. Ser empático é ser capaz de ter um interesse genuíno, de criar um vínculo verdadeiro”.
Outra dica dele é não deixar o poder subir à cabeça e desenvolva continuamente suas habilidades técnicas e comportamentais em programas específicos para aperfeiçoamento de líderes.” Mapeie seu perfil e trabalhe nos gaps e pontos de melhoria, sem deixar de fortalecer o que já faz bem. Estabeleça metas SMART (específicas, mensuráveis, atingíveis, realistas e relevantes, temporais). Para isso, você precisa conhecer o potencial de sua equipe e usar isso para defender e atingir os interesses da companhia”.
E tão importante quanto é acompanhar os resultados da equipe ante as metas estabelecidas, com formas efetivas e consistentes para medição. “Para isso eu sugiro duas ferramentas que são mais utilizadas: KPI (Key Performance Indicators) ou OKR (Objectives and Key Results)”, especifica Mendes.
Carvalho sugere engajar a equipe e empoderar o gestor através da inteligência de dados, presente em todas as soluções da Incentivar. “O participante tem suas metas em mãos, em um aplicativo fácil de usar, e ao atingir os melhores resultados, ele é premiado (produtos em marketplaces, viagens, experiências, etc.). O gestor, por outro lado, tem autonomia para acompanhar resultados e criar novas metas e ações sempre que julgar necessário. Cada empresa pode criar suas ações de incentivo, de acordo com as suas necessidades, inclusive contratando a parte de comunicação e engajamento conosco”, conclui.
Uma boa comunicação
Na visão do empresário João Pelegrini, do Grupo Pelegrini, em Uberlândia (MG), o principal de uma empresa é ter uma boa comunicação e os processos bem definidos; definir quem faz o quê. “Aqui, nós fazemos reuniões constantemente. O diálogo transparente e a verdade fazem com que o clima na empresa seja agradável e você seja entendido com as suas diretrizes. A partir do momento em que se tem essa comunicação, o líder passa a ter segurança e, com isso, ele transmite ao seu imediato a tranquilidade para exercer a sua função”.
Pelegrini enfatiza que liderança é ter todo o clima organizacional definido e, ao mesmo tempo, constância de propósitos na rotina de trabalho. “A partir do momento em que você foge dessa rotina, o líder fica um pouco aquém”. E, principalmente, a pessoa ter o perfil de liderança. “Delegar é importante, mas para quem delegar é o grande segredo do negócio. Às vezes, a pessoa tem uma posição na hierarquia, mas não dá abertura ao diálogo. Isso não é só de cima para baixo, mas de baixo para cima, ela também é muito bem aceita; é o que faz o sucesso de um negócio”.
E não se esquecer da motivação. “Os parâmetros, métodos e objetivos nos apoiam para criar incentivos e também motivação, as pessoas precisam de algo a mais para se motivarem diariamente e não só a mesma coisa. Temos que estar sempre buscando novas oportunidades”, afirma.
Liderança feminina
Sócia e diretora Administrativa da Auto Peças e Oficina Auto Elétrica Donires, em Porto Alegre (RS), Veni Dolejal Goulart traz em sua bagagem muito do que aprendeu com liderança na Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul, onde trabalhou por 19 anos como gerente administrativa. “Eu liderei uma equipe muito grande de 60 homens e 7 secretárias. Levei dois anos para formar uma equipe, a qual nos olhávamos, nos entendíamos e a coisa funcionava muito bem”, recorda-se.
Dessa experiência, ela coloca em prática na empresa a motivação e o encorajamento. “O que batemos muito na tecla é o atendimento, a cordialidade e em tratar todos igualmente, isso funciona muito bem e a cordialidade é incrível. As pessoas são carentes, se elas chegam para buscar uma peça e estão indecisas, a gente ajuda, dá uma opinião, um sorriso, e quando vemos, elas ficam muito agradecidas. É isso que procuramos transmitir no dia a dia”.
O seu perfil é falar o que pensa e o que acha para a equipe. “Eu também sei ouvir, o que é muito importante, saber ouvir e conversar sobre os conflitos e motivar a equipe. As pessoas precisam ter muita força, medo é o inimigo da nossa vontade. Devemos seguir em frente, se acreditamos nas nossas ideias e na nossa visão”.
Como diretora suplente do Sincopeças-RS, para a gestão 2022 a 2026, Veni também tem como meta colocar mais mulheres no sindicato, “isso faz a diferença. Eu quero manter esse foco na liderança, criar, fortalecer e ativar algum departamento”. Também nessa nova gestão, ela coordenará um comitê para mulheres, cujo objetivo é a troca de conhecimento e informações entre as profissionais do setor, e claro, o foco também será temas sobre liderança.
Da mesma forma, “quando comecei era muito preconceito por eu ser mulher, nós temos muita força e se temos isso, objetivo e acreditamos, temos que colocar em prática, planejar, estudar e ir. O que não pode é empacar, ficar com medo, na indecisão, isso não existe. Procuro passar isso para o pessoal, nada de indecisão se achar que está difícil, pare um pouco, respire, tome um ar e volte com garra”, diz.
Perfis
Líder autocrático: Centralização total pelo poder, coerção, exposição. Os liderados trabalham por medo de punição ou medo da demissão.
Líder liberal: Tem a total confiança na equipe como base. O líder com esse perfil promove a liberdade aos liderados para que tomem o que acreditam ser as melhores decisões.
Líder democrático: Um equilíbrio onde existe um pouco do liberalismo, mas não o controle total de suas atividades. Existe a figura presente do líder, que tem as rédeas das situações e atua mais incisivamente quando necessário.
Líder paternalista: Cria um forte vínculo e até mesmo causa uma identificação pessoal, gerando um comportamento ambíguo confuso e delicado. Assim como um pai, pode adotar uma figura muito liberal e permissiva com alguns, enquanto autoritário e punitivo com outros.
Líder técnico: Geralmente traz resultados para a companhia pelo seu desempenho técnico e tem a confiança dos superiores e equipe, mas nem sempre é capaz de lidar com pessoas.
Líder carismático/motivador: Tornam o ambiente leve, conquistam a confiança dos colaboradores e conseguem gerir com bom humor, sempre prezando pelo bom relacionamento com todos, sejam superiores, pares de trabalho ou abaixo. Eles lideram através do exemplo. É preciso um cuidado para não cair no liberalismo.