CNC: Inadimplência atinge maior nível desde setembro de 2023

CNC: Inadimplência alcança pico desde setembro de 2023

Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor – CNC

A inadimplência do consumidor atingiu seu maior nível desde setembro de 2023, alcançando 30,2% da população brasileira. É o que revela a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em julho, o índice subiu 0,5 ponto percentual, acompanhado pelo aumento no percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas dívidas, que chegou a 12,7% (+0,2 p.p.). Desde dezembro de 2024, esse percentual não era tão elevado.

O estudo também indicou que o endividamento se manteve praticamente estável, em 78,5%, com avanço de 0,1 ponto percentual em relação ao mês anterior. Além disso, observou-se a continuidade, pelo sétimo mês consecutivo, da tendência de redução nos prazos para pagamento, com as dívidas com prazo superior a um ano chegando a 31,5%. Em contrapartida, houve aumento no comprometimento de curto prazo.

Esses resultados alertam especialmente para as dificuldades enfrentadas por famílias de renda baixa e média, bem como pelo público feminino, que apresentaram piora tanto no endividamento quanto na inadimplência. Há um ano, a inadimplência era de 28,8%, com 11,9% dos entrevistados declarando incapacidade de pagamento.

“O aumento do número de famílias que já não conseguem pagar suas dívidas, junto à estagnação do endividamento, indica que os brasileiros estão no limite de sua capacidade para assumir novas dívidas. A redução dos prazos evidencia um uso cada vez mais cauteloso do crédito. Esse comportamento requer atenção das autoridades para evitar estagnação no comércio e nos serviços”, afirma José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac.

Contas em atraso por mais tempo

De acordo com o levantamento, o tempo de inadimplência aumentou em julho, com 47,5% dos consumidores com contas atrasadas nessa situação há mais de 90 dias. Apesar disso, houve melhora no percentual de famílias que comprometem mais da metade da renda com dívidas, que passou de 19,2% para 18,9% no mês. Outra notícia positiva é a queda do comprometimento médio dos ganhos familiares para 29,4%.

O cartão de crédito permanece como principal meio de endividamento (84,5%), embora tenha recuado 1,5 ponto percentual em relação a 12 meses atrás. Já os carnês ganham espaço, sendo a segunda modalidade mais usada, com 16,8%, superando o crédito pessoal, que aparece com 10,6%.

“Observamos famílias brasileiras cada vez mais conscientes em relação ao crédito. Isso fica evidente na redução do comprometimento médio da renda e na diminuição da parcela de famílias que consomem mais da metade dos ganhos com dívidas. A queda no uso do cartão de crédito e o avanço dos carnês indicam uma busca por modalidades menos onerosas e com maior previsibilidade de pagamento”, analisa Fabio Bentes, economista-chefe da CNC.

Perfil dos endividados

A faixa de renda entre 3 e 5 salários mínimos foi a que apresentou maior aumento tanto no endividamento quanto na inadimplência. Em um ano, o número de endividados nesse grupo cresceu 1,7 ponto percentual, alcançando 81,3%, enquanto a inadimplência subiu 1,6 ponto percentual, chegando a 28,7%. Entre os que declararam não ter condições de pagar, o aumento foi de 2 pontos percentuais, atingindo 12%.

Na análise por gênero, o endividamento entre mulheres caiu 0,2 ponto percentual em relação a julho de 2024, totalizando 79,1%, embora tenha aumentado 0,9 ponto percentual em um mês. A inadimplência feminina cresceu 1,4 ponto percentual, chegando a 30,7%, com 12,4% declarando não ter condições de pagar (+0,3 p.p. na variação anual). Por outro lado, o percentual de homens sem condições de quitar as dívidas atrasadas alcançou 12,8%, 1,1 ponto percentual acima do registrado há um ano.

Perspectivas para os próximos meses

Apesar dos indicadores elevados, a CNC projeta que o endividamento deve começar a desacelerar nos próximos meses. A expectativa é que a combinação de juros elevados e o aumento da inadimplência leve as famílias a adotarem uma postura mais cautelosa em relação ao crédito. Ainda assim, a entidade prevê que 2025 encerrará com níveis maiores de endividamento (+1,1 p.p.) e inadimplência (+1,4 p.p.) em comparação ao final de 2024.