A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 15% ao ano, continua pressionando a economia e isolando o Brasil no cenário internacional quando o assunto são os juros reais. Essa é a avaliação da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Ricardo Alban, presidente da CNI, critica a manutenção de uma política monetária considerada excessivamente restritiva. “A Selic está freando a economia além do necessário, já que a inflação segue em trajetória de queda. Os juros atuais impõem custos desnecessários, ameaçando o mercado de trabalho e o bem-estar da população. Além disso, o Brasil mantém a segunda maior taxa de juros real do mundo, penalizando de forma dura o setor produtivo”, afirma.
Uma pesquisa inédita da CNI aponta que 80% das indústrias consideram a taxa de juros elevada como o principal obstáculo para obtenção de crédito de curto prazo. Para financiamentos de longo prazo, 71% dos empresários veem a Selic como a principal barreira.
Além disso, as empresas enfrentam o impacto do aumento recente das alíquotas do IOF, que dificulta ainda mais o acesso ao crédito e reduz investimentos. Segundo o levantamento, quase metade das indústrias consultadas desistiu de contratar ou renovar crédito, ou diminuiu o volume solicitado após o reajuste do IOF.
Brasil na contramão do mundo
Alban destaca que a decisão do Copom vai na direção oposta ao movimento global de redução dos juros. Nos Estados Unidos, por exemplo, o banco central reduziu a taxa básica em 0,25 ponto percentual na última reunião. “O Brasil perde mais uma oportunidade de baixar a Selic sem pressionar o câmbio ou a inflação, já que o diferencial de juros entre Brasil e EUA aumentou ainda mais”, completa.
Para o presidente da CNI, o Banco Central precisa iniciar um ciclo de cortes de juros já na próxima reunião, marcada para 10 de dezembro. Ao mesmo tempo, ele defende um pacto nacional para o ajuste das contas públicas, com redução de despesas, criando condições para uma trajetória consistente de queda dos juros.
Selic no maior patamar em quase 20 anos
A Selic está no nível mais alto em quase duas décadas. Considerando a inflação esperada para os próximos 12 meses, de 4,06%, a taxa de juros real gira em torno de 10,5% ao ano — cerca de 5,5 pontos percentuais acima da taxa neutra, estimada em 5% ao ano pelo próprio Banco Central.
Segundo a CNI, a taxa básica de equilíbrio deveria estar em 11,9% ao ano, considerando as expectativas de inflação. Ou seja, os juros atuais estão 3,1 pontos percentuais acima do necessário para controlar a inflação sem prejudicar o crescimento econômico.
Crédito mais caro e atividade econômica desaquecida
A Selic elevada tem encarecido o crédito. Dados do Banco Central mostram que a taxa média cobrada das empresas em linhas de recursos livres subiu de 20,6% ao ano, em setembro de 2024, para 24,5% ao ano em setembro de 2025.
Para o consumidor, a taxa média das operações de crédito passou de 52,3% para 58,2% ao ano no mesmo período, considerando apenas recursos livres. Esse encarecimento não só reduz o consumo, mas também eleva a inadimplência das famílias junto ao sistema financeiro, que saltou de 3,7% para 4,8%.
O alto custo do financiamento, aliado à fragilidade financeira de empresas e consumidores, impacta diretamente a atividade econômica. O PIB cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre de 2025, bem abaixo do avanço de 1,3% registrado no primeiro trimestre.
Os dados parciais de julho e agosto não trazem perspectivas melhores, sugerindo um crescimento ainda menor do PIB no terceiro trimestre. O IBC-Br, indicador do Banco Central que antecipa o desempenho do PIB, ficou 0,1% abaixo do registrado em junho, último mês do segundo trimestre.
Inflação com sinais favoráveis
Os números mostram que a manutenção da Selic não condiz com o atual cenário inflacionário. O IPCA, principal índice de preços do país, segue em queda: o acumulado em 12 meses passou de 5,5% em abril para 5,2% em setembro.
Essa desaceleração é puxada, em parte, pela queda dos preços dos alimentos nos últimos quatro meses e pela desaceleração dos preços de bens industriais, que passaram de alta de 4,1% para 3,2% no período. A valorização do real contribuiu para esse movimento.
As expectativas para a inflação ao final de 2025 também vêm sendo revisadas para baixo, passando de 5,6% em abril para 4,5% no fim de outubro, segundo o Relatório Focus. Para 2026, 2027 e 2028, as projeções seguem em queda, situando-se atualmente em 4,2%, 3,8% e 3,5%, respectivamente, reforçando o cenário de melhora à frente.















