A CLEPA, associação europeia que representa os fornecedores automotivos, uniu-se a outros 29 signatários do setor para pedir à Comissão Europeia a revisão das normas de CO₂ da União Europeia para veículos de passeio e comerciais leves, de forma a reconhecer oficialmente os combustíveis renováveis ao lado da eletrificação. A entidade reforça o apoio à mobilidade elétrica como eixo central da descarbonização, mas alerta que excluir os combustíveis renováveis da regulação de CO₂ pode frear investimentos e comprometer as metas climáticas.
Entre as propostas centrais, o grupo sugere permitir que o uso de combustíveis renováveis conte para as metas de redução de CO₂ em veículos novos, introduzir um Fator de Correção de Carbono que reflita a participação crescente desses combustíveis na matriz energética europeia e classificar veículos abastecidos exclusivamente com combustíveis renováveis como de emissão zero – o que abriria espaço para sua introdução no mercado já antes de 2030. Os signatários também pedem uma definição única, em nível europeu, para “combustível renovável” e uma trajetória de longo prazo, previsível, para o aumento progressivo das exigências de redução de CO₂.
Segundo a declaração, essas medidas são decisivas para garantir segurança regulatória, destravar investimentos e ampliar a produção de combustíveis renováveis em toda a Europa. Integrar esses combustíveis à regulamentação de emissões de CO₂ para veículos leves é visto como fundamental não apenas para atingir as metas climáticas com maior eficiência, mas também para sustentar a inovação, a capacidade industrial e a competitividade de toda a cadeia de fornecimento automotivo.
Um setor automotivo forte e apoiado de forma estratégica é apontado como condição básica para que a Europa mantenha sua posição frente a outras regiões. Com até 75% do valor dos componentes de veículos gerado dentro do continente, a indústria de autopeças e sistemas automotivos desempenha um papel central no crescimento econômico e na preservação de centenas de milhares de empregos. Porém, um estudo da consultoria Roland Berger sobre criação de valor na Europa acendeu um alerta: o futuro dessa indústria-chave está sob pressão.
O próximo “Pacote Automotivo” da Comissão Europeia, previsto para 10 de dezembro, é tratado como um ponto de inflexão para a adoção de medidas capazes de reforçar as cadeias de suprimentos e a competitividade. Sem uma reação rápida, a Europa corre o risco de perder parte de sua base industrial, com impacto direto sobre empregos e sobre a liderança em mobilidade limpa e inovação. Hoje, o continente enfrenta uma desvantagem de custos de até 35% em comparação com outras regiões, impulsionada por aumentos em materiais, energia e mão de obra, somados a regulações ambientais e de carbono mais rigorosas. Se nada mudar, a criação de valor em autopeças pode cair 23% até 2030, com cerca de 350 mil empregos em risco.
Para reverter a deslocalização da produção e proteger postos de trabalho na indústria, a CLEPA defende uma ação política estratégica, que inclua uma regulação de CO₂ neutra em relação às tecnologias, aberta a múltiplas soluções de baixa emissão – como veículos elétricos a bateria, hidrogênio e combustíveis sustentáveis. Exigências de conteúdo local são vistas como uma alavanca para desenvolver ecossistemas regionais, apoiados por incentivos direcionados, investimentos em infraestrutura e qualificação de mão de obra.
Na visão da associação, a Europa precisa agir rápido para preservar seu papel como polo automotivo competitivo e autossuficiente. “Com o Pacote Automotivo da Comissão previsto para 10 de dezembro, é essencial que ele inclua medidas robustas, incluindo requisitos de conteúdo local, para ajudar a manter o valor na Europa. A inação acarreta o risco de perdas de empregos ainda maiores e de uma erosão ainda maior da força industrial”, afirmou Benjamin Krieger, secretário-geral da CLEPA.

















