Demanda por mecânicos aumenta com retomada do movimento nas oficinas após agosto difícil

Alta na procura por mecânicos marca recuperação das oficinas após agosto desaquecido

Motoristas mantêm carros por mais tempo diante da alta de preços, impulsionando demanda por mecânicos e serviços de reparo

Com o aumento expressivo nos preços dos carros novos, muitos motoristas preferem manter seus veículos atuais por períodos mais longos. Como consequência, houve um crescimento notável na demanda por serviços de reparo automotivo, levando oficinas a contratar mais profissionais para atender a essa necessidade crescente.

Segundo dados de outubro de 2025, fornecidos pela Oficina Brasil, a atividade nas oficinas de reparação renovou seu ritmo em setembro, com alta de 1,6% na procura por serviços, revertendo a queda de 3% registrada no fim de agosto. A recuperação, no entanto, tem sido gradual, com crescimento modesto de 0,74% nas semanas subsequentes. Esse movimento está parcialmente ligado à sazonalidade, pois agosto costuma ser mês de contenção de gastos pelas famílias, que adiam manutenções veiculares.

Demand for mechanics rises as workshops recover after a tough August

Reativação da demanda em setembro

Com a retomada da rotina em setembro, a manutenção acumulada é retomada, e muitos começam a preparar seus veículos para viagens de fim de ano, o que estimula a procura.

“Esse comportamento é recorrente — os clientes muitas vezes deixam os consertos para agosto e voltam em setembro para resolver os problemas pendentes. Ainda que haja essa recuperação, o mercado merece cautela, pois as variações semanais permanecem significativas e o desempenho geral está próximo da média histórica,” explica André Simões, diretor da Oficina Brasil.


Impacto do aumento nos preços dos veículos

Outro fator que impulsiona essa tendência é a alta de 30% no preço dos carros em um único ano, que incentiva os consumidores a priorizarem a manutenção de veículos usados. Isso elevou o número médio mensal de automóveis atendidos nas oficinas de 80 em 2020 para 122 em 2024 — um crescimento de 52,5%.

Dados do setor pelo Oficina Brasil e Sindipeças apontam que o mercado gerou R$ 256,7 bilhões em 2024, com crescimento de 13,3% sobre o ano anterior, e projeção de alta adicional de 5% para 2025.


Tempo de posse dos veículos e crescimento do segmento

Antes da pandemia, o tempo médio de permanência do carro com o mesmo dono era de 7,5 anos; agora, subiu para 11,8 anos, o que aumenta a demanda por manutenção preventiva ao longo da vida útil.

O segmento movimenta cerca de R$ 60 bilhões apenas em peças técnicas e lubrificantes, sem contar funilaria, pneus, pintura e mão de obra, com crescimento superior a 50% nos últimos quatro anos.

Desde 2019, o preço dos carros novos subiu 85%, fomentando rápida expansão no setor de reparações e maior necessidade por mão de obra especializada.


Tecnologia e qualificação para profissionais

Com a ascensão dos veículos híbridos e elétricos, dominar novas tecnologias virou diferencial para os profissionais da área.

“É fundamental que os técnicos em reparação automotiva estejam preparados para acompanhar as mudanças do mercado, com conhecimento técnico e foco em segurança,” afirma Sandra Nalli, CEO e fundadora da Escola do Mecânico, empresa de impacto social que forma e emprega especialistas para o setor.


Crescimento do mercado de trabalho automotivo

No primeiro trimestre de 2025, dados do Caged indicam que cerca de 654 mil empregos foram criados no Brasil em diversos setores, incluindo a reparação automotiva, um dos segmentos com maior dificuldade para seleção de profissionais.

Fundada em 2011, a Escola do Mecânico já formou mais de 120 mil alunos e possui 45 unidades próprias e franqueadas pelo país. Em 2021, recebeu aporte de R$ 1 milhão do Yunus Corporate — conhecido como “banco dos pobres” por financiar negócios sociais — sendo um dos raros empreendimentos femininos a conquistar esse investimento.

Sandra também desenvolveu os aplicativos “Emprega Mecânico” e “Emprega+” para enfrentar o déficit crônico de mão de obra qualificada.

“Nosso objetivo é ampliar a base de usuários em 50% até o início do próximo ano. Cerca de 30% dos formados pela Escola — aproximadamente 40 mil profissionais — já foram inseridos no mercado de trabalho. Entre abril de 2018 e abril de 2025, a plataforma registrou mais de 80.485 profissionais, com 11.904 empresas anunciando vagas, 19.264 oportunidades e 224.129 candidaturas,” conta Sandra, que é natural de Mogi Mirim (SP) e acumula mais de 30 anos no setor.


Resultados econômicos e perspectivas

Em 2024, a Escola do Mecânico gerou receita de R$ 62 milhões, com previsão de alcançar R$ 82 milhões em 2025. O volume de matrículas deve crescer 32% este ano.