Na abertura do 14º Seminário Internacional Frotas & Fretes Verdes (F&FV), realizado na última quinta-feira (6/11), Igor Calvet, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e presidente de honra do evento, destacou a vantagem competitiva do Brasil na transição energética. Segundo Calvet, “o setor de transporte responde por cerca de 13% das emissões de CO₂ no país, mas contamos com 90% da matriz elétrica e 50% da matriz energética de fontes renováveis. Esse é um diferencial estratégico — o desafio é transformar esse potencial em resultados econômicos e ambientais concretos”.
O evento, promovido pelo Instituto Besc de Humanidades e Economia, reuniu em São Paulo lideranças empresariais, autoridades públicas e especialistas para debater os rumos da transição energética e da descarbonização da mobilidade. Realizado na sede da FIESP, o seminário reforçou o papel do Brasil como referência global em eficiência logística, inovação e infraestrutura verde.
Adriano Rishi, presidente da Cummins Brasil, enfatizou a importância da pluralidade tecnológica para avançar na descarbonização do transporte. “A transição energética não será linear. Exige colaboração, inovação e pluralidade tecnológica — combinar diferentes soluções é o que vai acelerar o processo e ampliar o impacto positivo no setor”, afirmou.
Renata Isfer, presidente-executiva da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), apontou o biometano como peça-chave para a descarbonização da frota pesada. Rafael Cervone, vice-presidente da FIESP e presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), defendeu o fortalecimento do financiamento verde e da governança setorial. Daniel Randon, presidente da Randoncorp, completou ressaltando que a sustentabilidade precisa ser transversal, “integrando indústria e logística sob uma mesma estratégia de inovação e eficiência”.
Infraestrutura resiliente e financiamento sustentável
O primeiro painel técnico, mediado por Ramon Alcaraz, CEO da JSL, abordou os desafios estruturais na cadeia logística, políticas públicas, regulação e financiamento verde. Participaram Danielle Bernardes (CNT), Edson Dalto (BNDES), Ricardo Portolan (Marcopolo) e Marisa Barros (Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de SP).
Danielle Bernardes apresentou um panorama da infraestrutura rodoviária nacional, destacando que apenas 12,4% da malha é pavimentada, enquanto 65% das cargas ainda circulam por rodovias. “Nos últimos dez anos, a malha pavimentada cresceu só 2%, enquanto a frota aumentou 46%. Essa defasagem eleva o custo do frete em até 32% e aumenta as emissões e os índices de acidentes”, explicou.
Edson Dalto, do BNDES, ressaltou a importância de incorporar resiliência climática nos projetos de infraestrutura. Segundo ele, “cada dólar investido em obras que consideram adaptação climática gera uma economia de até nove dólares no futuro”. Dalto defendeu que o financiamento à infraestrutura deve incluir, de forma estrutural, ações para mitigar e adaptar-se às mudanças climáticas, diante da frequência crescente de eventos extremos.
Ricardo Portolan destacou o papel do transporte coletivo na redução das emissões, mencionando o avanço da Marcopolo em soluções elétricas, híbridas e a gás. Marisa Barros encerrou o painel apresentando as políticas públicas do governo paulista, com destaque para incentivos ao uso do biometano — como a isenção de IPVA para veículos a GNV e biometano até 2029 — e o potencial produtivo do estado, estimado em 6,4 milhões de m³ por dia.
Integração como caminho
O evento reforçou que a descarbonização do transporte depende menos de uma “revolução tecnológica” isolada e mais de uma coordenação sistêmica entre infraestrutura, financiamento e inovação. Com uma matriz elétrica limpa e uma base industrial consolidada, o Brasil se posiciona como laboratório global de soluções multitecnológicas, capaz de unir sustentabilidade e competitividade. O sucesso, porém, dependerá da capacidade de transformar esse potencial em políticas, investimentos e parcerias de longo prazo, garantindo previsibilidade e escala à transição energética no país.
A íntegra da transmissão do evento está disponível no canal oficial do Instituto Besc: https://www.youtube.com/live/7aXeG2lj3gM

















