Dívidas e inadimplência das famílias diminuem em novembro

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), registrou em novembro a primeira queda do endividamento das famílias após nove meses seguidos de alta. O recuo é leve, de 0,3 ponto percentual, mas indica um pequeno alívio às vésperas do fim do ano, ainda distante, porém, de uma reversão consistente da pressão sobre o orçamento doméstico. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (4).

A fatia de famílias endividadas passou de 79,5% em outubro, o maior nível desde 2010, para 79,2% em novembro, voltando ao patamar de setembro. Mesmo assim, continua acima dos 77,0% observados em novembro do ano passado.

A inadimplência também cedeu: a proporção de consumidores com contas em atraso caiu de 30,5% para 30,0%, retornando ao nível de julho, mas ainda acima dos 29,4% de um ano antes. Já a parcela de famílias que afirmam não ter condições de pagar as dívidas atrasadas recuou de 13,2% para 12,9%, o menor índice desde agosto e igual ao de novembro de 2024.

“Mesmo com taxas de juros ainda elevadas, a pesquisa aponta melhora tanto na percepção quanto na estrutura das dívidas. O fim de ano é um momento de mais gastos e compras ligadas às celebrações, mas também de 13º salário e reorganização financeira”, avalia o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

Na análise do grau de endividamento, diminuiu a fatia de famílias que se consideram “muito endividadas”, para 16,0%, e aumentou a das que se veem como “pouco endividadas”, para 32,8%. Em contrapartida, a proporção de lares com dívidas há mais de um ano subiu pelo terceiro mês consecutivo, chegando a 32,1%.

Menos devedores

A inadimplência mais longa também deu sinais de acomodação. A parcela de famílias com contas em atraso há mais de 90 dias caiu de 49,0% para 48,5%, o menor nível desde agosto, o que reduz parcialmente o efeito dos juros acumulados sobre o estoque de dívidas.

Entre os consumidores com maior comprometimento de renda, houve recuo depois de dois meses de alta: o percentual dos que destinam mais da metade do que ganham ao pagamento de dívidas passou de 19,1% para 18,8%. A maioria (56,7%) continua com entre 11% e 50% da renda comprometida, resultando em um comprometimento médio de 29,5% em novembro.

Preço do crédito

No mercado de crédito, o quadro ainda pede cautela. A taxa de inadimplência de 90 dias nas operações com recursos livres para pessoas físicas atingiu 6,7% em outubro, o que equivale a R$ 159 bilhões em atraso – o maior volume da série histórica. A expansão das concessões de crédito livre em 12 meses desacelerou de 14,3% em abril para 10,3% em outubro, reflexo da combinação de juros altos com menor demanda das famílias por financiamento.

Por faixa de renda, o endividamento recuou na maior parte dos grupos, com queda mais forte entre famílias com renda acima de 10 salários mínimos. O segmento entre 5 e 10 salários mínimos foi o único a registrar alta no mês. Já a inadimplência diminuiu em todas as faixas de renda, com maior redução entre famílias que ganham entre 3 e 5 salários mínimos. Esse mesmo grupo também liderou a queda na parcela dos que dizem não ter condições de pagar dívidas em atraso, sinalizando um esforço adicional para regularizar pendências.

O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, lembra que o comércio é diretamente impactado pelo acesso ao crédito, mesmo que isso traga risco de maior endividamento. “O brasileiro aproveita a Black Friday para economizar nos presentes de fim de ano, pagando as faturas dessas compras com a segunda parcela do 13º. Isso funciona como um antídoto para o altíssimo nível de inadimplência e de juros, principalmente no cartão de crédito, que pode dobrar o valor de uma dívida em poucos meses”, destaca.

Fechamento do ano

De acordo com projeções da CNC, mesmo com o recuo esperado para dezembro, 2025 deve terminar com famílias significativamente mais endividadas (alta de 2,4 pontos percentuais) e mais inadimplentes (alta de 0,5 ponto percentual) do que no fim de 2024. O cenário mantém o crédito caro e o risco de inadimplência no centro da agenda econômica de 2026.