Em entrevista, Jim Farley, CEO global da Ford, fala sobre a revolução dos carros definidos por software

Em entrevista, Jim Farley, CEO global da Ford, fala sobre a revolução dos carros definidos por software


Em uma entrevista exclusiva ao No Lucro, Jim Farley, CEO global da Ford e um dos nomes mais influentes da indústria automotiva mundial, detalha por que vê o atual momento como o mais transformador da história do setor. O executivo analisa o avanço dos veículos definidos por software, a disputa tecnológica entre montadoras e os caminhos da eletrificação que devem moldar o futuro da mobilidade.


Farley afirma que a indústria vive uma ruptura inédita. “Temos veículos definidos por software, pela primeira vez. Nossos arquitetos elétricos podem criar um software que transforma um veículo num dispositivo digital comum. Ele tira fotos, mas também existe um risco social e geográfico de uma máquina inteligente que trafega por aí. Então, a política dos carros está prestes a mudar completamente, porque ela é definida por software.”

O executivo também destaca que a transição ambiental exige uma visão mais ampla do que o mercado imaginava no início da eletrificação. “Pensávamos que seria só de híbridos ou totalmente elétricos, mas agora vemos tantas soluções individuais e parciais. E, claro, é um produto emocional. Gosto de dizer que não vendemos xampu, mas um produto de forte apelo emocional.”

Na conversa com o apresentador Phelipe Siani, Farley comenta a pressão competitiva das montadoras chinesas, em especial a BYD, e como isso influenciou decisões estratégicas da Ford. “A BYD trabalha há 20 anos em carros 100% elétricos. Eles são inteligentes, focados e atuam globalmente. E eles querem nosso mercado. A única maneira de enfrentá-los é fazer do nosso jeito. Para competirmos no mercado dos EUA, criamos um grupo de trabalho na Califórnia para formar e testar as pessoas.”

O CEO reforça que a reinvenção da Ford passa pela capacidade de direcionar recursos de forma estratégica. “Meu trabalho é alocar capital, talento e capital para fazer as escolhas certas, para reinventar a empresa.” Ele lembra que a força da marca está em seu legado e em sua especialização. “Estamos no mercado há 125 anos e somos a única montadora que nunca faliu. Nós fazemos caminhões, veículos comerciais e produtos de apelo emocional. Podemos envolver software e serviços nisso, mas esse é o básico do nosso negócio.”

Crítico à complacência, Farley diz que o desconforto é parte essencial da evolução. “Aprendi que, sempre que você se sentir confortável, é melhor dar uma olhada para trás.” Ele também fala sobre a dualidade da percepção pública sobre a marca. “A Ford é estranha, porque as pessoas pensam em veículos baratos como o Modelo T ou um Ka, mas também não temos problemas em vender um supercarro.”
O episódio com Jim Farley já está no ar. Na TV, a edição completa, com 47 minutos, será exibida no sábado, às 23h30, na CNN Brasil.