Enquanto em 2024 o volume de vendas do varejo cresceu 4,7% — o melhor desempenho desde 2012, segundo o IBGE —, a projeção para 2025 é bem mais moderada: alta de 1,9%. A desaceleração reflete o esfriamento gradual da economia, tendência que deve se estender pelo menos até o primeiro trimestre de 2026.
A avaliação é de economistas e empresários que participaram da reunião de Avaliação da Conjuntura Econômica promovida pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP), no fim de novembro. A pedido da entidade, os nomes dos participantes não foram divulgados.
Na visão dos economistas presentes, a expectativa inicial era de que o chamado varejo restrito encerrasse 2025 com crescimento de 2%. A projeção foi ajustada para 1,9% diante dos sinais mais claros de perda de fôlego no consumo. Mesmo assim, o grupo avalia que o varejo vem se mostrando resiliente, sustentado principalmente pela melhora da renda.
Já o varejo ampliado, que inclui materiais de construção, automóveis e autopeças, enfrenta um cenário mais difícil por depender mais diretamente do crédito. “O setor sente os efeitos da taxa Selic elevada por um período prolongado, o que freia a concessão de crédito”, observou um dos economistas.
Para 2026, a expectativa é de que a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais coloque mais dinheiro em circulação. Mas o alto nível de endividamento das famílias deve limitar esse impacto. A leitura dos participantes da reunião da ACSP é que boa parte dessa renda adicional será usada para quitar dívidas, e não para impulsionar o consumo.
Além disso, a desaceleração do mercado de trabalho e o calendário eleitoral tendem a aumentar a incerteza sobre o desempenho do comércio varejista nos próximos anos.
Indústria perde ritmo
A indústria também entra em marcha mais lenta. Depois de registrar alta de 3,1% na produção em 2024, o setor deve crescer cerca de 1,5% em 2025. “No quarto trimestre de 2024, a indústria cresceu 3,2%, mas agora, no terceiro trimestre, o índice está praticamente zerado, em 0,02%”, afirmou um representante do setor industrial.
Segundo ele, quem puxa o resultado é a indústria extrativa, que cresceu 4,1% de janeiro a setembro deste ano, contra apenas 0,5% da indústria de transformação. Mesmo assim, há preocupação com os efeitos do chamado “tarifaço de Trump” sobre as exportações de matérias-primas. Segmentos como metais (-6,1%) e madeira (-14%) já sentem o impacto.
As indústrias têxtil e calçadista também estão entre as mais afetadas pelas tarifas. O quadro se agrava com o elevado endividamento de várias empresas desses segmentos. Outro ponto crítico é a perda de verticalização da cadeia produtiva, com escassez de fornecedores nacionais de matérias-primas e maior dependência de insumos importados, o que torna essas indústrias mais vulneráveis a choques externos.
A taxa de juros elevada continua sendo um entrave importante para o setor industrial, especialmente para os segmentos mais intensivos em investimento. Um exemplo citado na reunião foi o de bens de capital: entre agosto e setembro de 2024, a produção chegou a crescer 14%, mas no terceiro trimestre de 2025 registrou queda de 2,4%. “O custo do crédito pesa diretamente sobre esses setores”, reforçaram os especialistas.
Apesar da desaceleração e do impacto das tarifas impostas pelo governo Trump, as exportações seguem cumprindo um papel relevante para a indústria extrativa e de transformação, com aumento de cerca de 6% no volume exportado no ano. Um dos fatores foi a alta de 41% nas exportações para a Argentina, de janeiro a outubro, fortalecendo o desempenho em um dos principais mercados parceiros do Brasil.
Agronegócio em alta, mas sob pressão
A agricultura deve crescer 7,8%, impulsionada sobretudo pela produção de grãos. A safra de soja 2025/26 deve chegar a 177 milhões de toneladas. Mesmo com esse avanço, empresários do setor manifestam preocupação com a irregularidade das chuvas em regiões como o Centro-Oeste, o que pode comprometer produtividade e até inviabilizar parte da safra.
Outro ponto de atenção é a margem de lucro apertada. Produtores que trabalham com áreas arrendadas enfrentam custos mais altos e maior risco financeiro, o que vem elevando o endividamento no campo.
A queda no preço da saca de soja agrava o cenário. “A saca, que chegou a R$ 180, hoje está em cerca de R$ 110. Isso frustrou muitos produtores, travou investimentos e aumentou o endividamento. Muitas empresas do setor estão em recuperação judicial”, relatou um representante do agronegócio.
Ele também chamou atenção para a ausência de um sistema robusto de seguros agrícolas no Brasil, comparável ao modelo norte-americano, que ofereça proteção efetiva — sobretudo aos pequenos produtores — contra eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.
Ainda assim, a área plantada deve continuar em expansão, alcançando 84,4 milhões de hectares em 2025, alta de 3,3% em relação a 2024, segundo a Conab.
Perspectivas para 2026
Eleições, juros ainda elevados e o alto grau de endividamento de empresas e famílias formam um quadro mais desafiador para 2026, na avaliação de empresários e economistas ouvidos pela ACSP.
Para 2025, a expectativa é de um crescimento do PIB em torno de 1,5%. A inflação deve encerrar o ano em cerca de 4,40%, recuando para 4,20% em 2026, o que sugere um processo lento de redução da taxa básica de juros.
Os participantes da reunião de Avaliação da Conjuntura também projetam um déficit nominal em torno de 9,6% do PIB em 2025, ponto que acende um sinal de alerta sobre a condução da política fiscal e a capacidade do governo de administrar as contas públicas em um ambiente já marcado por incertezas.
















