Escassez de mão de obra qualificada domina debates no 11º Fórum da Qualidade Automotiva do IQA
O 11º Fórum da Qualidade Automotiva do IQA, realizado no dia 9 de outubro em São Paulo, reuniu especialistas e líderes do setor automotivo para discutir tendências, inovação e qualidade na indústria.
Um dos destaques do evento foi o debate sobre a crescente dificuldade na contratação de profissionais qualificados no mercado de reposição automotiva (aftermarket) — um tema que vem ganhando relevância mundial.
Desafio global e contexto brasileiro
A falta de mão de obra especializada não é exclusividade do Brasil. Países em todo o mundo enfrentam dificuldade para atrair e reter talentos em funções técnicas essenciais para o funcionamento das economias.
No aftermarket automotivo brasileiro, o problema se intensificou após a pandemia e é amplificado por fatores demográficos e sociais, como:
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A redução da migração para grandes centros urbanos — São Paulo, por exemplo, perdeu cerca de 170 mil habitantes entre 2010 e 2022; 
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O envelhecimento populacional — a proporção de pessoas em idade ativa deve cair de 78% em 2022 para 67% em 2050; 
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E a queda na adesão dos jovens às carreiras técnicas. 
Principais insights do debate
O presidente da Conarem (Conselho Nacional de Retíficas de Motores), José Arnaldo Laguna, destacou que a falta de profissionais vem de antes da pandemia, resultado das mudanças populacionais e do desinteresse crescente por ocupações industriais.
“A população está envelhecendo, os jovens não buscam mais profissões técnicas, e os programas de assistência social, ainda que importantes, muitas vezes desestimulam a formalização. Dos 6,48 milhões de beneficiários, 3,75 milhões estão em idade ativa, mas apenas 1,51 milhão estão empregados”, apontou.
Laguna acrescentou que os salários do setor industrial perderam espaço frente aos serviços, e muitos profissionais capacitados têm optado por trabalhos informais ou por aplicativos, em busca de mais flexibilidade.
Juventude e atratividade da profissão
Entre 2006 e 2024, a participação dos jovens na indústria caiu mais de 26%. Para os especialistas, reverter esse cenário requer reposicionar a imagem do setor automotivo, evidenciando o uso crescente de tecnologia nas oficinas e centros de distribuição.
“É preciso mostrar que a reparação automotiva é uma profissão moderna, conectada e com boas oportunidades de crescimento”, ressaltaram os debatedores.
Mercado e remuneração
As ocupações alternativas, como motoristas e entregadores de aplicativos, oferecem rendimento imediato mais alto, o que dificulta a atração e a permanência de profissionais no aftermarket.
Mesmo assim, 63% dos formandos do Senai (2018–2022) ingressaram no mercado formal, e 6% se tornaram microempreendedores individuais (MEIs), demonstrando que há espaço para crescimento estruturado.
Macrotendências e soluções propostas
| Tendência do setor | Ação recomendada | 
|---|---|
| Aumento da complexidade dos veículos | Treinar equipes e investir em equipamentos modernos | 
| Escassez de mão de obra qualificada | Incentivar certificações e programas de capacitação | 
| Baixa adesão dos jovens ao setor | Valorizar a profissão e criar programas de engajamento | 
Fonte: Aliança Aftermarket Automotivo Brasil
Soluções e colaboração setorial
O fórum contou com uma mesa-redonda com representantes de Abipeças, Sindipeças, Sindirepa Brasil, Sincopeças-SP, ANDAP e Sicap, que discutiram formas colaborativas de enfrentar o déficit de profissionais.
Principais conclusões:
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Promover o setor: comunicar melhor o potencial tecnológico e as oportunidades de carreira no aftermarket; 
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Abrir as portas da indústria: realizar visitas técnicas e programas de vivência em oficinas e empresas; 
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Construir planos de carreira: demonstrar crescimento e estabilidade no longo prazo; 
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Usar a estrutura existente: transformar distribuidores e centros atacadistas em polos de treinamento; 
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** integrar instituições** como Senai e Senac para oferecer formações acessíveis em todo o país; 
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Capacitar para o digital, com ênfase em análise de dados e habilidades tecnológicas, além da formação técnica tradicional; 
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Reconhecer o aprendizado prático, como o obtido nas oficinas; e 
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Reforçar o ensino técnico, área em que o Brasil ainda está atrás dos países desenvolvidos. 
Durante os painéis, frases marcantes resumiram o desafio:
“Hoje, quem trabalha numa oficina está matriculado em uma escola de oito horas diárias.”
“O acesso à informação é mais difícil do que parece – e a falta dela desestimula os jovens.”
“Precisamos glamorizar as profissões automotivas, mostrando que são tão técnicas e valorizadas quanto as digitais.”
Caminhos para o futuro
Com a aceleração das novas tecnologias, mudanças geracionais e modelos de negócio cada vez mais digitais, os líderes da indústria concordam: o futuro do aftermarket depende de colaboração, comunicação e inovação contínua.
O evento reforçou a importância da formação técnica, da retenção de talentos e da revalorização do trabalho manual especializado, como pilares de uma indústria automotiva brasileira mais competitiva e sustentável.
 
			















