Após um hiato de sete anos, o Salão do Automóvel de São Paulo volta ao calendário oficial em novembro e retoma também um dos seus papéis mais marcantes desde 2010: ser a porta de entrada das marcas chinesas no mercado brasileiro.
Na edição de 2025, o novo pavilhão do Anhembi recebe, entre 22 e 30 de novembro, BYD, Caoa Chery, Denza, GAC, Geely, GWM, Leapmotor, Omoda & Jaecoo, entre outras. São justamente algumas das fabricantes que vêm surfando a onda da eletrificação e, com isso, ganhando espaço nas ruas brasileiras – e não só nelas.
Como já mostramos no Novo Varejo Automotivo, a expansão dos carros “nascidos e criados” na China está longe de ser um fenômeno restrito ao Brasil. Trata-se de um movimento global. Se em 2010 o grande diferencial dessas marcas era o preço, hoje elas se apresentam com tecnologia embarcada, design competitivo e desempenho para enfrentar qualquer concorrente.
Os valores continuam agressivos, mas já não são o argumento central. Voltamos ao tema motivados por um fato que reforça a percepção de ameaça competitiva: em entrevista recente ao programa CBS Sunday Morning, da TV norte‑americana CBS, o CEO da Ford, Jim Farley, foi direto ao ponto ao dizer que os fabricantes chineses podem “nos tirar todos do negócio”.
A frase pode soar exagerada à primeira vista, mas traduz a preocupação do principal executivo de uma das maiores montadoras do mundo, com mais de 120 anos de história. Farley afirmou que a capacidade produtiva já instalada na China é suficiente para abastecer todo o mercado da América do Norte. Segundo ele, os veículos elétricos produzidos no país representam “uma ameaça existencial” para a indústria automotiva dos Estados Unidos. Como resposta, a Ford reorganizou suas operações e criou uma divisão específica para elétricos, a Model E.
Farley também resgatou uma comparação que fala alto à memória do setor. Nos anos 1980, os Estados Unidos assistiram à invasão dos compactos japoneses, que tomaram uma fatia relevante do mercado local. Para o executivo, o cenário atual é semelhante, “mas turbinado”. A diferença, explica, está justamente na escala: a indústria chinesa tem hoje capacidade para atender sozinha todo o mercado norte‑americano. “O Japão nunca teve isso. Portanto, é um nível completamente diferente de risco para o nosso setor.”
As declarações do CEO da Ford poderiam ser reproduzidas por praticamente qualquer executivo de montadora ocidental. O projeto de expansão da China é global e atinge os principais segmentos da economia. Na indústria automotiva, o país avançou em escala, abrangência e qualidade a ponto de desafiar diretamente a hegemonia das marcas tradicionais. E a tendência é de intensificação desse movimento nos próximos anos.
Ao falar sobre a trajetória recente da Ford, Jim Farley foi categórico: “Percorremos uma jornada muito humilhante em termos de qualidade e custo. Se perdermos essa disputa, não teremos futuro na Ford.”















