Impacto do Tarifaço de Trump: Oportunidade para o Brasil Expandir Comércio

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Reforma da Postura Comercial do Brasil

Agenda de reforma da sua postura comercial no mundo (Crédito: FecomercioSP)

As tarifas de 50% sobre quase metade das exportações brasileiras para os Estados Unidos, que entram em vigor nesta quarta-feira (6), podem representar uma oportunidade para o País implementar uma ampla agenda de reforma em sua postura comercial global. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), este é um momento oportuno para ampliar a presença do Brasil nas cadeias globais de valor e se inserir com maior força no comércio internacional, adotando uma postura oposta à dos EUA, reduzindo tarifas e flexibilizando burocracias.

A abertura comercial beneficiaria empresas, consumidores e, consequentemente, a economia brasileira, que ganharia em competitividade e dinamismo, além de se tornar mais atraente para investimentos internacionais. Atualmente, o início da tarifação marca um período de incertezas, pois as taxas sobre quase 60% dos produtos nacionais afetarão indústrias e cadeias produtivas já consolidadas no Brasil.

Essa avaliação é compartilhada por especialistas renomados nas relações Brasil-EUA, como o economista Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial, baseado em Washington. Em live realizada na última sexta-feira (1º) pela FecomercioSP, ele destacou que o País deve avançar nas discussões para melhorar sua competitividade internacional. “Os níveis de proteção comercial — tarifária e não tarifária — não têm sido benéficos para a economia brasileira. Não devemos abandonar o debate sobre as vantagens de um programa unilateral de abertura comercial e redução tarifária”, afirmou.

A FecomercioSP vem debatendo há bastante tempo [veja as propostas aqui] os avanços possíveis nessa agenda, junto ao setor público, sociedade civil e empresários, entendendo que isso não é apenas uma reação às políticas da Casa Branca, mas sim um passo fundamental para o desenvolvimento nacional. Há quase 50 anos, a participação do Brasil no mercado internacional é pequena, representando cerca de 1,5% do comércio global. Segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil foi o 24º maior exportador de bens em 2023 e ocupa a 27ª posição em importações, mesmo sendo o nono maior PIB do mundo.

Uma agenda robusta também reduziria a dependência brasileira em relação à China e aos Estados Unidos, que são os destinos de mais de 40% das exportações nacionais. Caso o País já tivesse implementado algumas dessas propostas e possuísse uma ampla rede de acordos de livre-comércio, os impactos das tarifas seriam significativamente menores.

Além de ideologias

Mesmo com a entrada em vigor das tarifas, a FecomercioSP acredita que a resposta deve ser pragmática. A entidade alinha-se ao posicionamento de Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (Irice) e ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, que também participou da live.

Barbosa ressaltou que a relação entre Brasil e EUA continuará sólida desde que o Brasil mantenha foco em questões de longo prazo e adote uma postura firme. “Precisamos de uma declaração pública forte e ações coerentes, demonstrando que nosso posicionamento é independente.”

Em consonância com especialistas como Barbosa, a FecomercioSP reforça que as negociações sobre tarifas não podem ser conduzidas de forma ideológica no âmbito diplomático. Decisões estratégicas e de grande impacto devem ser tomadas com diálogo e construção de consensos. “É necessário separar a escalada político-diplomática da escalada comercial”, destacou Barbosa durante a discussão na live. “A negociação não pode ficar refém desses impasses. Além das diferenças ideológicas entre os governos, precisamos estabelecer canais de comunicação.”

Impactos reduzidos, mas significativos

Há consenso de que as tarifas impostas pelos EUA terão um impacto menor do que o inicialmente previsto, devido à extensa lista de isenções — por exemplo, peças de avião e suco de laranja. Segundo Canuto, o efeito negativo no PIB brasileiro deve ficar em torno de 0,9%. “É muito menor do que seria se as tarifas de 50% incidissem sobre todos os produtos. O impacto é negativo, mas não desastroso”, observou.

Thiago de Aragão, diretor de Estratégia da consultoria Arko Advice, destacou que produtos críticos para os EUA, como café e carne, ficaram fora da lista como estratégia do governo Trump para manter o ímpeto das negociações. “Ele gosta de fechar acordos em um jogo de soma zero, onde precisa apresentar uma vitória. Como alguns setores têm grande influência no governo brasileiro, excluir esses produtos aumenta a urgência para negociar.”

Nesta nova etapa da ordem mundial, reduzir tarifas de importação, simplificar regulamentações e promover maior inserção internacional da economia brasileira são princípios fundamentais que devem guiar o País — e que também sustentam as propostas da FecomercioSP.