A inadimplência atingiu 30,4% das famílias brasileiras em agosto de 2025, o maior índice desde o início da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada desde 2010 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Além disso, o percentual de famílias sem condições de quitar suas dívidas atrasadas subiu para 12,8%, o maior valor registrado desde dezembro de 2024.
Segundo José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, o avanço da inadimplência indica que o nível atual de endividamento está começando a ultrapassar a capacidade de pagamento das famílias. “Isso ocorre especialmente em um cenário de crédito mais caro e prazos mais curtos, representando um importante sinal de alerta para a economia doméstica”, destaca.
O endividamento também seguiu em alta pelo sétimo mês consecutivo, alcançando 78,8% dos lares — o maior índice desde novembro de 2022. Apesar disso, houve melhora na percepção dos consumidores: a parcela que se considera “muito endividada” caiu para 15,4%, enquanto aumentou o grupo que se vê como “mais ou menos endividado” (29,9%).
“O crescimento contínuo da inadimplência reforça a importância de iniciativas voltadas à educação financeira e ao uso consciente do crédito”, afirma Fabio Bentes, economista-chefe da CNC. Conforme projeções da entidade, espera-se um aumento de 3,1 pontos percentuais no endividamento e de 1,6 pontos percentuais na inadimplência até o final do ano.
Famílias comprometem menos renda com dívidas
Um dos poucos indicadores positivos foi a redução do comprometimento médio da renda com dívidas, que passou de 29,6% em agosto do ano passado para 29,3% — o menor nível desde maio de 2019. Também caiu a parcela de famílias que destinam mais da metade da renda para o pagamento de dívidas, de 18,9% para 18,6% no período.
A Peic ainda evidencia que o endividamento tem ocorrido em prazos cada vez mais curtos. O percentual de famílias com dívidas superiores a um ano caiu pelo oitavo mês consecutivo, para 31,0%. Por outro lado, aumentou o número de compromissos com prazo entre três e seis meses, elevando a pressão sobre o orçamento no curto prazo.
Em relação ao tipo de dívida, o cartão de crédito permanece predominante, sendo utilizado por 84,5% dos endividados. No entanto, os carnês continuam ganhando espaço, mantendo-se como a segunda modalidade mais comum, com crescimento de 0,9 ponto percentual em relação ao ano anterior.
Maior inadimplência entre famílias com renda mais alta
A inadimplência cresceu principalmente entre famílias com renda acima de três salários mínimos, especialmente no grupo que recebe mais de 10 salários, que apresentou aumento de 1,4 ponto percentual no percentual de famílias sem condições de quitar dívidas atrasadas. Já o endividamento avançou com mais intensidade entre lares com renda entre 3 e 5 salários mínimos, que registraram alta de 2,6 pontos percentuais nos últimos 12 meses.
Na análise por gênero, as mulheres foram as mais impactadas: a inadimplência entre elas subiu 1,9 ponto percentual em comparação a agosto de 2024, acompanhada por um aumento das dificuldades de pagamento. Entre os homens, houve leve queda neste indicador, embora o nível de endividamento permaneça elevado.
















