Inclusão impulsiona o crescimento do setor automotivo.

Thuanney Castro une forças com a AMMA – Associação Brasileira das Mulheres do Mercado Automotivo

AMMA – Associação Brasileira das Mulheres do Mercado Automotivo

O setor automotivo ainda está longe de ser um ambiente de igualdade de gênero. Atualmente, as mulheres representam apenas 6% da força de trabalho desse mercado.

Embora esse espaço seja limitado, resultado de uma herança histórica excludente, as profissionais do ramo já começam a sentir os ventos da mudança. Da indústria à reparação, há cada vez mais exemplos de mulheres que não apenas desempenham suas funções com excelência, mas também se engajam em discussões para abrir caminho para que outras ocupem esses mesmos espaços no futuro.

Um dos frutos mais recentes desse movimento é a AMMA (Associação Brasileira das Mulheres do Mercado Automotivo), iniciativa lançada na Automec 2025, que nasceu para unir forças, inspirar trajetórias e transformar o setor por meio de uma perspectiva mais inclusiva, colaborativa e plural.

“O setor começou a fazer perguntas. Começou a escutar. E nós já tínhamos as respostas e os projetos. A AMMA é a convergência de trajetórias maduras e de um contexto que, agora, está mais preparado para reconhecer que a presença feminina não é exceção”, afirma Carla Norcia, comunicadora e uma das idealizadoras da iniciativa.

Carla explica que, para alcançar seus objetivos de promover inclusão e fortalecer o setor, a organização aposta numa atuação descentralizada, articulando-se com diversos elos da cadeia, além de manter diálogo constante com outras entidades representativas, como a Aliança Aftermarket Automotivo.

“Visualizamos diversas possibilidades de colaboração, como capacitações conjuntas, eventos com foco em diversidade e campanhas de comunicação com impacto social. Somos vozes interdependentes e complementares, e quando falamos juntas, vamos mais longe”, destaca.

Para conhecer os ideais, planos e ações concretas da AMMA, confira a íntegra da entrevista a seguir.

Novo Varejo – Qual é o principal objetivo da criação da AMMA (Associação Brasileira das Mulheres do Mercado Automotivo)?

Carla Norcia – A AMMA surgiu para unir forças e dar visibilidade a uma presença que já é real no setor automotivo: a das mulheres que atuam com competência em todas as etapas da cadeia. Nosso propósito é ampliar essa representatividade de forma construtiva, criando pontes entre talentos, experiências e oportunidades — da operação à liderança, da oficina à indústria, da comunicação à gestão. Mais do que promover inclusão, queremos colaborar para o fortalecimento do setor como um todo, contribuindo para um ambiente mais inovador. Sabemos que muitos avanços só foram possíveis graças ao diálogo aberto e ao apoio de quem acredita na força da diversidade.

A AMMA chega com respeito, atenção e compromisso para valorizar quem já está, preparar quem está chegando e caminhar junto com profissionais e empresas que desejam construir um mercado automotivo cada vez mais forte, representativo e sustentável.

Novo Varejo – O que motivou vocês a acreditar que este é o momento certo para reafirmar oficialmente a presença das mulheres no setor?

Carla Norcia – Essa resposta vem de muitos encontros e escutas. Sempre estivemos em ambientes majoritariamente masculinos e sempre entregamos com excelência, porém com pouca visibilidade coletiva. O que mudou? O setor começou a fazer perguntas. Começou a escutar. E nós já tínhamos as respostas e os projetos. A AMMA representa a convergência de trajetórias maduras e um contexto que está mais preparado para reconhecer que a presença feminina não é exceção. O momento certo é agora porque não estamos mais pedindo espaço: estamos construindo espaços juntos.

Novo Varejo – Você percebe que o mercado amadureceu nos últimos anos em relação à igualdade de gênero?

Carla Norcia – Sim. O amadurecimento está evidente no discurso, no aumento da presença feminina em cargos técnicos e estratégicos, e na abertura para o diálogo. Ainda enfrentamos desafios culturais, barreiras invisíveis e desigualdades de remuneração e oportunidades. A boa notícia é que hoje temos mais dados e uma vontade coletiva maior de promover mudanças. O amadurecimento está em andamento — e a AMMA existe para acelerar esse processo.

Novo Varejo – Quais ações a AMMA planeja para o segundo semestre de 2025?

Carla Norcia – Vamos expandir. Já lançamos oficialmente nosso modelo associativo, com benefícios concretos para as associadas, que crescem a cada mês. Temos edições planejadas do AMMAcast, nosso podcast; o AMMATalks, aulas híbridas; já lançamos quatro e-books; mantemos o Clube do Livro e nove grupos ativos na Comunidade AMMA. Além disso, participamos de artigos, palestras e eventos. Cada ação é pensada para gerar rede, pertencimento e resultados.

Novo Varejo – Em quais elos do mercado a AMMA deve concentrar a maior parte de suas ações? Existe algum segmento onde a igualdade de gênero já se destaca?

Carla Norcia – Na verdade, todos os elos. Não há uma área que demande mais atenção que outra, pois todas possuem suas demandas. Toda mulher do mercado automotivo, independentemente de sua área de atuação, será impactada pela AMMA em algum momento, já que em todos os setores existem barreiras — muitas vezes invisíveis — e, consequentemente, oportunidades para harmonização.

Novo Varejo – Como a AMMA pretende se articular com outros grupos de representatividade, como a Aliança Aftermarket Automotivo?

Carla Norcia – A Aliança é um movimento de alta relevância, importância e articulação institucional. As pautas da Aliança são também pautas da AMMA. Ambas estão inseridas no mercado e nossos objetivos precisam ser convergentes, pois viemos somar forças. Já mantemos diálogo aberto com lideranças da Aliança e enxergamos várias possibilidades de colaboração, como capacitações conjuntas, eventos com foco em diversidade e campanhas de comunicação com impacto social. Somos vozes interdependentes e complementares, e quando falamos juntas, vamos mais longe.

Novo Varejo – Quais fatores influenciaram sua decisão de assumir uma liderança no setor, além da comunicação?

Carla Norcia – A AMMA não surgiu agora, ela já tem 25 anos. Era um projeto antigo dos meus tempos na corporação, quando eu não me sentia representada e fiquei praticamente sozinha no mercado por muito tempo. Naquela época, fui promovida, recebi um grande desafio e, ao mesmo tempo, engravidei; ainda passei dois meses em uma experiência internacional, o que impossibilitou tocar o projeto, que acabou guardado. Com o tempo, as vivências, aprendizados e uma escuta aprimorada me fizeram perceber que o momento havia chegado naturalmente. Cansada de apenas contar histórias, decidi passar da narração para a transformação. Compartilhei a ideia com Talita Peres e tivemos um “match” instantâneo. Talita trouxe Simone de Azevedo Franzo, e juntas estamos reunindo as mulheres do mercado automotivo. Entendemos que não precisamos ficar nos bastidores e podemos contribuir para a trajetória de outras profissionais. Não foi uma decisão de ego, mas de compromisso e propósito. Estamos fazendo isso por aquelas que conhecemos bem, por similaridade. Se queremos um setor mais plural, colaborativo e positivo, é preciso assumir essa responsabilidade. Apenas começamos e já não estamos mais sozinhas.