O Incrível Desaparecimento da Força de Trabalho

O Sumiço Surpreendente da Mão de Obra

Escassez de mão de obra qualificada preocupa o setor automotivo, mesmo com desemprego em baixa histórica

A primeira quinzena de outubro foi marcada por uma agenda intensa de eventos do setor automotivo. No pós-venda e aftermarket, dois encontros ganharam destaque: o Seminário da Reposição Automotiva, realizado no dia 7, e o Fórum da Qualidade do IQA, no dia 9. Ambos reuniram líderes, empresários e executivos da indústria, promovendo debates sobre inovação, qualidade e gestão.

Entre as apresentações e conversas informais durante os eventos, um tema se destacou: a crescente dificuldade das empresas em contratar e reter profissionais qualificados. A preocupação foi recorrente tanto nos painéis oficiais quanto nas discussões paralelas, revelando uma ansiedade comum entre gestores de todos os segmentos da cadeia automotiva.

Dificuldade de contratação é realidade em todos os setores

De acordo com um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) realizado no fim do ano passado, 57% das empresas dos setores de comércio, serviços, indústria e construção relataram dificuldades para contratar ou manter profissionais. Em alguns segmentos, os números são ainda mais altos: varejo ampliado (77,3%), indústria (76,8%) e serviços (76,5%).

Apesar do alerta, o debate também traz um ponto positivo. O mercado de trabalho brasileiro vive um momento histórico: no segundo trimestre de 2025, a taxa de desemprego caiu para 5,8%, o menor índice já registrado. Mas isso não significa simplesmente que faltam profissionais porque “todos já estão empregados”. A questão é mais complexa — e multifatorial.

A nova dinâmica do trabalho

Uma parte significativa dessa mudança está relacionada às políticas de assistência social, que se consolidaram como um pilar permanente do Estado brasileiro. Qualquer tentativa de reduzir esses programas tem resistência social e política. Além disso, cresce o número de pessoas que conciliam atividades informais com benefícios governamentais, vivendo entre a formalidade e a flexibilidade.

Por outro lado, as estratégias de Recursos Humanos precisam evoluir para acompanhar essa nova realidade. O mesmo estudo da FGV apontou que muitos profissionais recusam voltar ao trabalho presencial ou rejeitam propostas salariais quando encontram formas mais lucrativas de renda fora da CLT, especialmente em trabalhos por aplicativo — como os de transporte e entrega.

Empresas precisarão se reinventar

O tema é complexo e instigante, ultrapassando os limites da gestão empresarial e adentrando a esfera sociológica e comportamental. Historicamente, a relação entre capital e trabalho sempre esteve em disputa. No momento atual, o poder de decisão parece pender para o lado dos trabalhadores, que escolhem onde, como e em que condições desejam atuar.

Gostem ou não, as empresas terão que se reinventar para atrair e reter talentos, repensando propostas de valor, benefícios, cultura organizacional e propósito. O desafio não é apenas econômico — é humano, estrutural e, sobretudo, estratégico para o futuro da indústria automotiva.