Mais da metade das empresas (58%) do varejo paulistano ainda não utilizam ferramentas de Inteligência Artificial (IA) e tampouco possuem planos para adotá-las a curto prazo. Essa informação é resultado de um estudo com 300 negócios na capital paulista realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
Esse cenário se deve, principalmente, ao fato de que a maior parte desse ambiente empresarial é composta por Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPMEs), que, ao contrário das grandes corporações, estão incorporando essas tecnologias de forma gradual.
Entre as MPMEs, o percentual que ainda não utiliza IA chega a 62,4% [tabela 1]. Por isso, a FecomercioSP destaca a necessidade de ampliar a disseminação de informações e a capacitação sobre as oportunidades que a tecnologia oferece. Paralelamente, é essencial estabelecer uma regulação equilibrada que traga vantagens efetivas para os negócios.
Isso, contudo, não significa falta de interesse: o estudo mostra que seis em cada dez empresas (57%) buscam informações frequentes sobre IA em diversos canais — desde redes sociais (21%) até cursos online (13%) e consultorias (8,3%) [tabela 2]. Essa busca é compreensível, já que quase um terço (29,3%) dos entrevistados aponta a falta de conhecimento como principal obstáculo para a adoção dessas ferramentas [tabela 3].
[TABELA 1]
Sua empresa já utiliza alguma solução baseada em IA?
Fonte: FecomercioSP
PLN EM DESTAQUE
Como esperado, as tecnologias de IA mais utilizadas — ou ao menos consideradas — pelos varejistas paulistanos são as de Processamento de Linguagem Natural (PLN), que permitem gerar conteúdo rapidamente a partir de comandos, como o ChatGPT, da OpenAI, ou o Copilot, da Microsoft. Ferramentas de PLN são citadas por 39% dos entrevistados, seguidas por chatbots ou assistentes virtuais (33%).
Esse predomínio se explica pela acessibilidade dessas soluções, que muitas vezes possuem versões gratuitas e são de fácil aplicação no dia a dia.
[TABELA 2]
Onde a sua empresa costuma buscar informações ou apoio sobre IA?
Fonte: FecomercioSP
PEQUENAS E GRANDES EMPRESAS
Os dados da FecomercioSP também evidenciam diferenças significativas entre pequenas e médias empresas e as grandes no uso da IA. Enquanto as MPMEs ainda buscam formas de integrar a tecnologia em suas operações, as grandes empresas já contam com estruturas mais consolidadas.
Por isso, enquanto os negócios menores recorrem principalmente a conteúdos online para aprender sobre IA, as maiores tendem a buscar suporte de fornecedores de tecnologia (18%) e consultorias especializadas (12%).
Há, entretanto, desafios comuns a empresas de todos os portes, como os custos elevados para adoção da IA, apontados por 11,2% das pequenas e médias e 14% das grandes; e a falta de conhecimento interno para implementação e uso das ferramentas (29,2% e 30%, respectivamente). Em contrapartida, as grandes dispõem de mais tempo para evoluir nessa área em comparação às pequenas [tabela 3].
[TABELA 3]
Qual é o principal desafio hoje para adotar ou ampliar o uso de IA?
Fonte: FecomercioSP
IMPACTO NO MERCADO DE TRABALHO
Quatro em cada dez empresas esperam que a IA provoque uma transformação nas funções do mercado de trabalho, principalmente exigindo novas habilidades. Esse sentimento é ainda mais forte entre as grandes empresas, com 46% acreditando nessa mudança [tabela 4], enquanto entre as MPMEs o índice é de 38,8%.
[TABELA 4]
Como você acredita que a IA impactará os empregos nos próximos cinco anos?
Fonte: FecomercioSP
A percepção geral sobre a tecnologia é positiva — 43% dos empresários acreditam que ela trará mais oportunidades de crescimento para pequenos e médios negócios. Contudo, há diferenças entre os portes, com as grandes empresas sendo mais otimistas.
A expectativa é que esse impacto seja mais perceptível em áreas como Marketing e Vendas (47%) e Atendimento ao Cliente (25%). Entre as empresas maiores, há também uma maior percepção dos efeitos em processos logísticos (16%) e desenvolvimento de produtos (10%).
IA NÃO PODE SER IGNORADA
A FecomercioSP identifica que a adoção da IA no varejo reflete um cenário típico de tecnologias emergentes: há reconhecimento do impacto, mas também existem barreiras reais, como desconhecimento técnico, falta de profissionais qualificados e custos elevados. Ainda assim, o poder transformador da tecnologia é inegável, pois ela otimiza processos, acelera decisões, personaliza atendimentos e automatiza tarefas rotineiras com rapidez e precisão inimagináveis até pouco tempo atrás.
Por isso, adotar IA de forma precipitada e sem planejamento não é o caminho ideal. Segundo a FecomercioSP, em alguns casos, entrar mais tarde nessa jornada pode ser vantajoso, permitindo lidar melhor com os desafios e aproveitar soluções mais maduras, com custos menores e riscos reduzidos.
No entanto, a situação pode se agravar caso os negócios não avancem nessa transformação. Empresas que resistem às novas tecnologias tendem a perder espaço, relevância e conexão com os clientes — especialmente em mercados cada vez mais exigentes, digitais e personalizados. Por isso, capacitar equipes, redesenhar processos e investir em conhecimento sobre IA se torna cada vez mais essencial.
LOJA DO FUTURO
A FecomercioSP atua fortemente nesse sentido. Em parceria com o Sebrae, o projeto Loja do Futuro oferece ao empresariado paulista ferramentas para fortalecer a gestão dos negócios, promovendo digitalização, inovação e melhor acesso aos mercados consumidores.
De março a outubro de 2024, o programa contou com a participação de mais de 3,2 mil empresas em cerca de 80 eventos de lançamento, realizados em parceria com sindicatos do comércio varejista locais. Desse total, mais de 1,8 mil empresas aderiram ao Loja do Futuro, com previsão de um aumento médio de 12,2% no faturamento.
Inspirado nas tendências das últimas edições das feiras NRF (Nova York, EUA) e Euroshop (Düsseldorf, Alemanha), o programa prepara varejistas para os desafios e oportunidades do mercado atual, com foco na integração entre os canais físicos e digitais. Todo esse conteúdo está disponível em material digital de apoio para o ambiente virtual.
















