Setor de biocombustíveis apresenta Carta de Belém na COP30 e sugere multiplicar por quatro os combustíveis sustentáveis até 2035

Setor de Biocombustíveis Propõe Quadruplicar Combustíveis Sustentáveis até 2035 na COP30 com a Carta de Belém

Documento celebra 50 anos do Proálcool e propõe diretrizes para transformar metas climáticas em ações concretas em setores como aviação, navegação e indústria pesada

O setor brasileiro de biocombustíveis apresenta na COP30 a Carta de Belém, um documento que propõe um esforço internacional coordenado para quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, seguindo recomendações da Agência Internacional de Energia (IEA). O texto é assinado por entidades como Anfavea, Bioenergia Brasil, Instituto MBCBrasil e UNICA, responsável pela condução do trabalho.

A Carta de Belém faz um diagnóstico direto: o mundo está atrasado na descarbonização da mobilidade e dificilmente cumprirá as metas do Global Stocktake sem combinar eletrificação, combustíveis sustentáveis e novas rotas tecnológicas. O documento destaca o Brasil como exemplo prático dessa convergência. Após cinco décadas de políticas como o Proálcool e o RenovaBio, o país consolidou uma das matrizes energéticas mais limpas entre as grandes economias, com 29% de bioenergia e 20% de outras fontes renováveis. Em 2024, a oferta de bioeletricidade chegou a 21.000 GWh, o equivalente a 4% do consumo nacional.

“O etanol é uma tecnologia comprovada, escalável e integrada às cadeias produtivas. O Brasil mostrou que é possível descarbonizar gerando emprego e competitividade”, afirma Evandro Gussi, presidente da UNICA. “A Carta de Belém traduz esse aprendizado em diretrizes para que outros países possam avançar com segurança e velocidade.”

Além do papel do etanol, o documento destaca a importância da complementaridade entre combustíveis sustentáveis e eletrificação. Segundo o texto, especialmente em países com forte base agrícola e infraestrutura de recarga limitada, a combinação entre híbridos flexfuel, etanol, biometano e eletricidade é a rota mais eficiente para reduzir rapidamente as emissões na frota leve. “A aposta em diferentes tecnologias é o melhor caminho para acelerarmos a descarbonização. Os biocombustíveis são aliados fundamentais nessa jornada, como já mostra o Brasil, e permitem a redução imediata das emissões, com impacto real no transporte leve e pesado”, destaca Igor Calvet, presidente da Anfavea.

O potencial de expansão do biometano no Brasil também ganha destaque. Utilizando resíduos agrícolas e urbanos, o país poderia produzir até 120 milhões de Nm³ por dia, volume suficiente para substituir 60% do diesel consumido no transporte nacional. O documento classifica o biometano como combustível de baixa ou até negativa intensidade de carbono, aplicável ao transporte pesado, logística, indústria e, na forma de BioLNG, à navegação.

“A Carta de Belém consolida a mensagem que estamos levando ao mundo: os biocombustíveis são parte estratégica da solução climática do Brasil. O setor está unido para mostrar que etanol, bioenergia e combustíveis de baixa emissão já entregam resultados concretos em descarbonização, desenvolvimento regional e segurança energética. Este é um momento decisivo para afirmar o Brasil como líder global em energia limpa — e estamos apresentando essa visão de forma clara, integrada e propositiva”, afirma Mário Campos, presidente da Bioenergia Brasil e da SIAMIG Bioenergia.

No cenário internacional, a carta dialoga com avaliações de organismos globais sobre o papel dos combustíveis sustentáveis. Reforça análises da IEA, da ICAO e da IMO de que combustíveis sustentáveis — líquidos, gasosos e derivados de hidrogênio — serão decisivos para reduzir emissões na aviação, navegação e indústria pesada. O documento lembra que cerca de 70 países já adotam mandatos mínimos de mistura e que a expansão dessas rotas precisa gerar benefícios sociais: emprego no campo, renda em regiões produtoras e fortalecimento de cadeias de valor de baixo carbono. Para os signatários, reconhecer esses co-benefícios é essencial para uma transição energética justa e inclusiva.

“A Carta de Belém é a prova de que a liderança climática do Brasil não se baseia apenas em visões de longo prazo, mas em 50 anos de resultados concretos. Aprendemos no campo e na indústria que a descarbonização eficaz é aquela que também gera emprego e fortalece a economia. Nossa mensagem ao mundo é que não existe solução única. A rota brasileira, que une o sucesso do etanol, o potencial do biometano e do biodiesel, e o avanço da bioeletrificação, é um caminho testado e disponível para acelerar a transição global de forma justa, imediata e pragmática”, afirma José Eduardo Luzzi, presidente do Instituto MBCBrasil.

A carta estima que a transição exigirá entre US$ 29 e 30 trilhões até 2030, defendendo que até US$ 1,3 trilhão sejam direcionados a combustíveis sustentáveis em países em desenvolvimento. O texto apoia o Compromisso de Belém – Belém 4x e pede previsibilidade regulatória e financiamento acessível. Para os signatários, a experiência brasileira coloca o país em posição de influenciar uma transição global mais rápida e inclusiva — com o objetivo de reduzir emissões de forma efetiva, ampliar a segurança energética e garantir que os benefícios da descarbonização alcancem tanto economias avançadas quanto nações em desenvolvimento.