O debate sobre a redução das emissões de carbono no transporte foi destaque em um painel promovido pelo Sistema Transporte na Estação do Desenvolvimento, espaço dedicado à discussão de iniciativas do setor durante a COP 30, em Belém (PA).
Vander Costa, presidente do Sistema Transporte, ressaltou que a transição para um transporte de baixo carbono depende da cooperação entre governo, iniciativa privada e sociedade civil. Segundo ele, o Estudo de Coalizão para Descarbonização dos Transportes tem papel estratégico nesse processo, mas o avanço só será possível com políticas integradas e investimentos contínuos em tecnologia e infraestrutura. “Não dá para falar em descarbonização sem abordar logística, planejamento e financiamento. Nosso objetivo é garantir uma transição justa, com segurança energética e sem perder competitividade”, afirmou.
Costa destacou ainda que a coalizão marca um novo momento de colaboração multissetorial, reunindo empresas, representantes do poder público e academia em torno de ações concretas para redução de emissões. Ele reforçou o potencial do Brasil como líder em soluções sustentáveis, graças à matriz energética limpa e à capacidade de inovar em biocombustíveis e transporte verde. “O transporte é motor do desenvolvimento, mas precisa ser também vetor de sustentabilidade. O desafio é equilibrar esses dois lados, e isso só se faz com políticas de Estado, olhando para o longo prazo”, completou.
O estudo aponta três medidas centrais para acelerar a transição: ampliar o uso de biocombustíveis e energia elétrica nos diferentes modais, fortalecer a infraestrutura de recarga e abastecimento sustentável e renovar a frota nacional com foco em eficiência energética.
Nesse contexto, Vander Costa defende a criação de um IPVA progressivo, com alíquotas mais altas para veículos mais poluentes e redução de impostos para modelos elétricos, híbridos ou movidos a biocombustíveis. “A ideia não é punir quem polui, mas premiar quem faz escolhas sustentáveis. É um caminho de incentivo, não de penalização”, disse, ressaltando que mecanismos econômicos são essenciais para dar escala às políticas de descarbonização.
Miguel Setas, CEO da Motiva, destacou que adotar critérios de eficiência e emissões no sistema tributário aproxima o Brasil das melhores práticas internacionais. Daniela Mignani, diretora executiva do CEBDS, reforçou a importância da previsibilidade regulatória para atrair investimentos e garantir a participação do setor privado na transição. Para ela, a cooperação técnica e a troca de experiências entre países e setores são fundamentais. “O transporte sustentável pode ser um diferencial competitivo para o Brasil, atraindo investimentos e gerando empregos de qualidade”, avaliou.
Daniela também enfatizou a necessidade de alinhar políticas públicas e compromissos empresariais, destacando que a coalizão oferece um espaço inédito de diálogo. “É fundamental que as ações de descarbonização tenham metas claras e mecanismos de monitoramento. Só assim o setor vai avançar de forma transparente e efetiva”, afirmou.
O painel teve mediação de Ana Patrizia Lira, diretora-executiva da ANPTrilhos, e contou ainda com Fábio Guido (Itaú Unibanco) e Bruno Temer (Michelin), que trouxeram visões sobre integração de políticas de transporte, energia e inovação tecnológica no enfrentamento das mudanças climáticas.
O Estudo Coalizão dos Transportes pela Descarbonização é uma iniciativa inédita do Sistema Transporte — formado pela CNT, SEST SENAT e ITL — em parceria com Motiva (novo nome do Grupo CCR), CEBDS e o Observatório Nacional de Mobilidade Sustentável do Insper. O trabalho envolveu 50 empresas, entidades e organizações da sociedade civil, e integra a pauta levada à COP 30.
O documento apresenta um plano com 90 alavancas para reduzir as emissões do setor em até 68% nos próximos 25 anos, com foco em três frentes: maior equilíbrio entre os modais, priorizando a expansão do transporte ferroviário, hidroviário e cabotagem; adoção em larga escala de biocombustíveis como etanol, biodiesel e SAF (combustível sustentável de aviação); e eletrificação, incluindo tecnologias Power-to-X e hidrogênio verde.
As projeções indicam que a evolução modal pode cortar até 290 MtCO₂e até 2050; o uso de biocombustíveis pode adicionar 25 bilhões de litros anuais à matriz energética; e a eletrificação pode atingir até 50% da frota leve, com impactos ambientais e econômicos positivos.
As medidas foram baseadas em diagnósticos técnicos, modelagens econômicas e consultas a especialistas, que identificaram o potencial de redução de emissões e os principais desafios do setor, como a dependência do modal rodoviário e dos combustíveis fósseis. O objetivo é orientar o Brasil para avançar de forma coordenada rumo à neutralidade climática.
“O estudo mostra como o setor tem potencial e propósito na transição energética do país, com propostas de investimentos voltadas à expansão de corredores ferroviários e hidroviários, modernização portuária e incentivo à intermodalidade, integrando modais física e tecnologicamente. A expectativa é que as medidas possam atrair R$ 600 bilhões em investimentos para o Brasil”, destacou Costa.
O Sistema Transporte, que já participou de edições anteriores da conferência — incluindo painel sobre hidrogênio verde na COP 28, em Dubai, e presença ativa nas Blue e Green Zones da COP 29 —, assume agora um papel ainda mais relevante. Pela primeira vez, terá um espaço próprio: a Estação do Desenvolvimento, na Green Zone, onde promoverá debates e rodadas de negócios focados em soluções para a mobilidade sustentável e logística nacional. Também terá presença inédita na Blue Zone, para articulações multissetoriais com entidades e representantes do governo. A programação inclui ainda atividades culturais e apresentações artísticas.
Como articulador estratégico e multissetorial, o Sistema Transporte reforça seu papel na transição energética brasileira, promovendo diálogo, unindo diferentes agentes econômicos e transformando a complexidade da descarbonização em oportunidades concretas. “O grande desafio é fazer convergir tantos agentes com interesses diversos para uma agenda comum de descarbonização. O Sistema Transporte contribui com o diálogo ao transitar por todos esses ambientes e conhecer a linguagem técnica, econômica e social do setor”, concluiu Vander Costa.

















