Setor varejista projeta fim de ano moderado diante de redução nas vagas temporárias

Comércio impulsiona criação de 91 mil vagas formais no primeiro semestre

 

Mercado de trabalho dá sinais de desaquecimento, mas varejo e logística sustentam contratações de fim de ano

Com taxa de desemprego em 5,6% — o menor nível desde o início da série histórica do IBGE em 2012 — e o número de trabalhadores autônomos crescendo 28% entre 2019 e 2025, alcançando 32 milhões de pessoas, o mercado de trabalho brasileiro começa a mostrar sinais de desaceleração.

De acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), até agosto, o saldo líquido de empregos temporários e intermitentes caiu 21% em relação ao mesmo período de 2024. Foram registradas 914 mil admissões e 855,5 mil desligamentos, resultando em um saldo de 58,5 mil novas vagas, ante 74,7 mil no ano anterior.

Especialistas apontam que essa moderação na geração de empregos se deve a fatores como o baixo desemprego estrutural, que eleva a rotatividade e encarece contratações, o crescimento do trabalho autônomo, que reduz o número de profissionais disponíveis para vínculos formais, e o aumento dos custos operacionais, impulsionado pela inflação e pela desaceleração econômica.

O resultado é um mercado que ainda contrata, porém com menor margem para crescimento líquido.

Indústria em queda e comércio mais resiliente

Segundo Paula Montagner, subsecretária de Estatísticas e Estudos do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, o principal fator para o saldo negativo é a indústria:

“O setor industrial fez menos contratações neste ano em comparação ao anterior”, explica.

Em 2024, a indústria havia registrado saldo positivo de 5,7 mil vagas, enquanto neste ano o número caiu para 5,2 mil, uma redução de 8,7%.

Já o comércio apresentou melhora, com saldo negativo de 3,7 mil trabalhadores em 2024 e 2,3 mil em 2025, o que representa queda de 37,8% no déficit.

Montagner atribui o avanço à resiliência do setor varejista e ao aquecimento dos últimos meses do ano, impulsionado por datas sazonais como Dia das Crianças, Black Friday, Natal e Ano Novo. De setembro a dezembro do ano passado, o comércio criou 5,9 mil empregos temporários, com 16 mil contratações e 10 mil desligamentos.

Fim de ano com mais cautela no varejo

Para 2025, as projeções são mais conservadoras. Segundo estimativa do Sindilojas-SP, o varejo deve abrir 25 mil vagas temporárias no período de fim de ano — uma queda de 14% em relação a 2024, quando foram criadas 29 mil oportunidades entre outubro e novembro.

A desaceleração reflete o enfraquecimento das vendas do varejo na transição do primeiro para o segundo semestre.

A cidade de São Paulo deve concentrar cerca de 7 mil dessas vagas, o equivalente a 28% do total nacional. Em dezembro de 2024, o faturamento do comércio paulistano ficou 19% acima da média anual, segundo balanço do setor.

As principais oportunidades estarão em lojas de roupas, calçados, artigos de viagem e acessórios (40%), seguidas pelos supermercados (25%). As funções mais demandadas continuam sendo vendedores e atendentes, que responderão por metade das contratações.

“Ainda haverá um volume relevante de contratações, mas em um nível menor que nos últimos anos, por causa do cenário econômico mais desafiador para o consumidor”, afirma Aldo Nuñéz Macri, presidente do Sindilojas-SP.

A taxa de efetivação dos temporários no início de 2026 deve se manter em torno de 10%, o mesmo índice de 2024. Grandes redes, como Americanas (5.000 vagas), Centauro (1.000) e Ri Happy (1.300), já anunciaram processos seletivos para oportunidades de final de ano.

Logística e e-commerce impulsionam contratações temporárias

O crescimento do comércio eletrônico continua aquecendo o setor de logística, que vem registrando forte aumento na demanda por trabalhadores temporários durante o fim de ano. Entre 2017 e 2024, o número de auxiliares de logística temporários aumentou 4.229%, passando de 1.000 para 46.600 — um reflexo direto do avanço do e-commerce.

“Nem todas as regiões do Brasil têm centros comerciais populares como a 25 de Março, em São Paulo. Por isso, grande parte das compras acontece online, o que aumenta a demanda por mão de obra logística”, explica Paula Montagner.

No ano passado, a Amazon abriu 6.500 vagas temporárias para atender à Black Friday e às festas de fim de ano. Já em 2025, a Shopee anunciou 10.000 vagas, entre temporárias e permanentes, para reforçar as operações no mesmo período.

O cenário indica que, embora o ritmo de expansão do emprego formal tenha diminuído, o mercado de trabalho segue dinâmico, impulsionado por nichos estratégicos como o varejo e o e-commerce, que continuam sendo importantes canais de geração de renda e oportunidade no Brasil.