E conta com o público masculino. “É um movimento de união”, diz Ana Jarrouge
No setor de transporte rodoviário de cargas poucas são as mulheres em cargos de liderança e menos ainda, na área de operações (ver Box). Para valorizar as mulheres que já trabalham nesse setor e também para atrair novos talentos, em 2020, foi criado o Movimento Vez e Voz do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (SETCESP), liderado por Ana Carolina Ferreira Jarrouge, que também é a presidente Executiva do sindicato.

Ana Carolina começou a trabalhar no setor aos 16 anos de idade, na Transportadora Ajofer, fundada pelo seu avô e pelo seu pai, em Santo André (SP). Nesse ano, a Ajofer completa 50 anos de atividades e seu pai, Antônio de Oliveira Ferreira, foi presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do ABC e sempre a incentivou a participar das entidades.
“O meu pai me levou para um grupo de jovens empresários, comecei a participar desse grupo e a viajar muito pelo País. Eu percebi mais ainda como o setor ainda era muito masculino”, afirma. Por seis anos, ela foi coordenadora nacional da Comissão de Jovens Empresários e Executivos – COMJOVEM e em 2019, saiu para assumir a presidência Executiva do SETCESP. Foi lá que nasceu a ideia de criar o Movimento Vez e Voz.
Mas antes disso, no SETCESP, ela participou do grupo Influenciadores do Transporte (IT), que tinha como objetivo sair um pouco fora da caixa e mostrar para a sociedade a importância do setor. “Nesse grupo que eu participo junto aos meus assessores, começamos a falar sobre o que poderíamos fazer para as mulheres. Adorei a ideia, eu sempre fui uma das pioneiras nas entidades, hoje eu estou na Federação e na Confederação dos Transportes em Brasília”.
Nascia, assim, o Movimento Vez e Voz. “Não se trata de um clube da Luluzinha, mas sim um movimento de união. Precisamos dos homens para fazer a inserção das mulheres, a ideia não é competir, é compartilhar, somar. Todos são convidados para participar. Hoje, as empresas não podem se dar ao luxo de desperdiçar um talento que tenha no mercado, inclusive em vagas de motorista, tem várias empresas que estão satisfeitas com as mulheres no volante, elas têm resultados excepcionais”, explica.
O Movimento
No período da pandemia, as reuniões foram online e foram firmadas muitas parcerias, tanto com empresas de transportes de cargas, como também com montadoras, fornecedores e outras instituições e entidades de classe, e ele ganhou um portal exclusivo: https://www.vezevoz.org/
O primeiro encontro presencial foi em março deste ano, onde foram apresentados os objetivos do Movimento. “Ele aconteceu no mês das mulheres e foi um sucesso”, ressalta Ana Carolina. Agora, o foco é a formatação de grupos de trabalho. “Vamos criar grupos de trabalho justamente para ajudar as empresas a se tornarem mais abertas para receberem as mulheres em áreas que identificamos por pesquisas que são deficitárias, principalmente a operacional e a de alta liderança”.
A ideia é disponibilizar para as empresas um guia de boas práticas. “Sobre como introduzir as mulheres de uma maneira adequada nas empresas, como tornar isso possível. Tem que ter infraestrutura, conscientizar os outros motoristas para ela ter um ambiente agradável e acolhedor, para isso, tem que ter treinamento com todos”, explica.
Também por outras ações, como em eventos e lives, abordar temas que são sensíveis às mulheres. “Como a questão da maternidade, a violência doméstica, o assédio sexual e moral. São vários temas que orbitam no nosso ambiente feminino que as mulheres querem discutir e encontrar maneiras de enfrentá-los. Queremos ajudar as empresas sobre esses temas que são tão importantes”, afirma.
Valorização
O Movimento extrapola os limites das empresas transportadoras de cargas. “O objetivo é valorizar as mulheres que já trabalham
no setor rodoviário de cargas e mostrar para a sociedade que é um setor de oportunidades, com a capacidade de atrair e ter um plano de carreira adequado para elas. Um caminho para mostrar que elas podem vir trabalhar no nosso segmento, principalmente na função de motorista”.
Liderança
Ana Carolina conta também que está nos planos a realização de um evento sobre liderança nas entidades de classe, neste ano. “São pouquíssimas mulheres que atuam nas entidades do setor e a gente precisa atrair mais mulheres, pois é onde vamos defender o nosso segmento, afinal, somos mais da metade da população. Temos que estar representadas”, conclui.
Presença feminina
No quadro geral das transportadoras rodoviárias de cargas, as mulheres representam 24%, sendo que 32% estão nos cargos de alta liderança e apenas 1% na função de motoristas das operações. Fonte: Instituto Paulista de Transporte de Cargas (IPTC).