Durante live, Marco Flores falou sobre o cenário atual, a inflação para os varejistas e o envelhecimento da frota
No final de julho, Marco Flores, fundador da 2D Consultores, empresa especializada no setor de reposição automotiva, presente em 15 estados do País, foi o entrevistado do editor Silvio Rocha na live intitulada “O balanço do 1º semestre e perspectivas para a reposição automotiva em 2022”.
Durante o encontro, entre outros temas, ele falou sobre os impactos da inflação para os varejistas; de que forma a desaceleração das vendas de usados no primeiro semestre deste ano afetará a reposição automotiva, depois de um recorde histórico de vendas em 2021, e o quanto a frota reparável nunca foi tão alta. Confira a seguir algumas das colocações de Flores:
Cenário

Segundo Flores, apesar de o planeta viver um momento inflacionário como há décadas não vivia, “é um dos poucos casos da história da economia em que a inflação mundial acontece naturalmente em todos continentes e países extremamente relevantes para a economia mundial”, analisou, acrescentando que no mercado de reposição o impacto não é tão sentido como em outros setores.
“Eu sempre repito que nós do segmento de reposição automotiva somos muito privilegiados por trabalharmos em um mercado cuja demanda acontece compulsoriamente. Ela não pergunta ao proprietário de um Monza qual é o seu saldo bancário, qual foi a variação cambial, o que aconteceu com a Bolsa de Valores, ou como está o índice de desemprego. Pois, se embreagem do seu Monza quebrar ele precisará trocá-la”.
De acordo com ele, neste mercado compulsório a substituição das peças acontece em um primeiro momento por desgaste, produto de uma revisão ou de um reparo específico, por isso, os impactos são muito menores. “Óbvio que o mercado passa por um momento de desconforto, mas a léguas se comparado a outros mercados”, ressaltou.
Resultados
Sobre o primeiro semestre, ele disse que o resultado não foi confortável. “Este período se equipara ao faturamento de cinco meses do ano e o segundo semestre, em média, a sete meses. Eu não acredito que este ano irá performar desta forma. No primeiro semestre, tivemos aumentos pesados, de 14,5% de juros acumulados”. Aumento que ele esclareceu que é diferente, dependendo do produto e que o varejista não pode olhar somente para o resultado (R$ em vendas).
Assista à entrevista completa
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Ilustração
Para ilustrar, flores usou como exemplo um caso hipotético do preço de um radiador, que custava R$ 170,00 ao varejista em janeiro de 2020, e hoje, R$ 270,00, um aumento de 60%. “Se o varejista faturava R$ 1 milhão em radiadores naquele período de 2020 e agora fatura R$ 1,4 milhão, está correto dizer que o faturamento aumentou 40%, porém, ele deveria faturar R$ 1,6 milhão para acompanhar o aumento. O que eu vejo é uma perda mercadológica clara neste exemplo específico”.
Recorde de vendas e desaceleração
Pela primeira vez na série histórica, 2021 foi o ano em que o Brasil mais comercializou veículos seminovos, ultrapassando a marca de 15 milhões de unidades. Por três anos consecutivos, este volume esteve na casa de 14,5 milhões. Já no primeiro semestre deste ano, a queda foi de 18,5% em relação a igual período do ano passado, somando cerca de 6,8 milhões de unidades vendidas.
Com este resultado, Flores expôs que voltamos ao patamar de 2013. “Pela primeira vez na série histórica, deixamos de vender quase 1,3 milhão de veículos seminovos, o que é muita coisa, e essa desaceleração terá afetação no segmento de reposição automotiva. Apesar de o mercado ter tido uma redução de 18,5%, ainda assim, a massa de veículos usados comercializados, em média neste ano, foi de 1,020 milhão/mês”.
Manutenção
Respondendo a uma pergunta de um participante da live, “se a queda nas vendas dos usados, aliada ao aumento da idade dos veículos em circulação, é positiva ou não para o setor de reposição?”, Flores avaliou ser ótima para este momento de alta taxa de juro, a taxa Selic está em 13,75% ao ano. “Predominantemente, os veículos são comprados a prazo e com a Selic tão alta, a sua especulação vai somente para o mercado financeiro e não retorna para nenhuma atividade econômica. E o consumidor perde muito com os juros”.
Ele ressaltou que a postergação da troca do veículo não significa que o atual será descartado ou que não será feita a sua revisão. “Até porque, o modal coletivo não funciona. O Brasil só tem metrô em 9 capitais e o que se vê com o modal de ônibus, nem se fala. Como brasileiros, nós temos que nos virar e a impressão que eu tenho é que o trânsito só piora, o que aumenta o desgaste dos veículos. A malha rodoviária não se expande, mesmo o mercado colocando 2 milhões de novos veículos circulando neste ano, com a perspectiva de chegar a 2,4 milhões”.
Mercado de novos
No primeiro semestre deste ano, segundo a Anfavea, 1,09 milhão de veículos saíram das linhas de montagem, incluindo todas as categorias. “A expectativa era de 60 a 70 mil a mais, o que não aconteceu, pois as montadoras pararam por cerca de 20 dias no primeiro semestre, por falta de insumos. A Anfavea acredita que conseguirá produzir neste ano 2,4 milhões de unidades, o que é um bom número”, comentou.
Menos veículos novos em circulação, após o período de garantia, significa menos demanda futura para o mercado de reposição. Os impactos de imediato são com a queda nas vendas dos seminovos. “O que afeta diretamente o nosso segmento é a movimentação de veículos usados e a desaceleração média de vendas, de 18,5%, no primeiro semestre deste ano, terá consequências”. De acordo com Flores, a frota nacional nunca esteve tão mal, o percentual reparável nunca foi tão alto e a frota nacional nunca esteve tão envelhecida, hoje com quase 10,3 anos de uso.