Lucas Torres [email protected]
No último dia 16 de agosto, alguns dos principais líderes
da reposição automotiva nacional anunciaram um pacto para
unir elos como varejo, distribuição e reparação em defesa de
pautas comuns ao aftermarket.
Um dos objetivos do movimento é que a união entre Sincopeças
Brasil, Sindirepa Brasil, Conarem e Andap fortaleça o setor
nas mesas de negociações junto aos poderes públicos.
Com a equipe já estabelecida para defender os interesses
da reposição, os líderes das entidades que assinaram o
documento conhecido como Carta de Fortaleza aguardam
agora a definição dos ocupantes das cadeiras no Executivo
e no Legislativo a partir do próximo ano, definições que
ocorrerão após as eleições gerais de outubro.
A fim de compreender as preferências e as prioridades
dos componentes da aliança de Fortaleza nas próximas
eleições, nossa reportagem conversou com Ranieri Leitão
(Sincopeças), Antonio Fiola (Sindirepa) e José Arnaldo
Laguna (Conarem).
Reforma tributária e contenção da corrupção são
prioridades do mercado. Educação também foi citada
O primeiro debate presidencial, realizado em 28 de agosto, deixou
claro que as eleições do Executivo serão marcadas por questões
que muitas vezes passarão à margem de uma conversa propositiva
para o país.
Todas estas distrações, porém, não têm apreendido atenção
dos líderes do aftermarket. Prova disso é o fato de Leitão e Fiola
apontarem para questões práticas e objetivas quando questionados
sobre as principais pautas das eleições que se aproximam.
“Talvez a pauta mais importante é que exista, realmente, uma
grande reforma tributária capaz de deixar uma condição melhor
para as empresas funcionarem por aqui”, opinou Ranieri Leitão.
O anseio do presidente do Sincopeças Brasil foi compartilhado por
Antonio Fiola que, atendo-se a uma preocupação com os atuais
indicadores econômicos, acrescentou o controle da inflação e a
promoção de uma agenda que estimule o crescimento econômico
como fundamentais para quem assumir o país a partir de 2023.
Como fonte propulsora para alcançar estes objetivos, o líder
do Sindirepa Brasil destacou a possibilidade de um retorno do
Ministério da Indústria, Comércio e Desenvolvimento.
Além da pauta econômica, outro tema que ganhou a atenção dos
líderes do aftermarket foi a corrupção, uma praga recorrente em
investigações e acusações desde os primórdios da República e que,
nas últimas duas décadas, esteve no centro da cobertura midiática
com assuntos como Mensalão e Orçamento Secreto. Esta é,
segundo Leitão, uma pauta universal. “Precisamos de transparência
e do fim da corrupção. Seja quem for o eleito, precisamos que seja
dado o exemplo do Executivo para o Brasil todo e, inclusive, para o
mercado”, apontou o líder do Sincopeças-BR.
Voz integrante da Carta de Fortaleza, José Arnaldo Laguna,
presidente do Conarem, enfatizou a educação como pilar
fundamental de um país mais produtivo e eficiente sob o ponto de
vista econômico.
O líder afirmou que um dos maiores exemplos desta necessidade
está na dificuldade das empresas para a contratação de mão de
obra qualificada, o que obriga a iniciativa privada e entidades como
a que preside a criar programas de formação próprios.
“Precisamos de uma formação melhor em todas as escalas. Os
jovens têm de sair da escola sabendo ler, escrever e interpretar.
Além disso, é preciso que haja a valorização do ensino técnico como
um todo. Afinal, além de existir uma demanda para estes postos,
eles precisam ser percebidos como tão atrativos quanto algumas
vagas tradicionais que exigem curso superior”, refletiu Laguna.
Right to Repair é bandeira da Carta de Fortaleza e
será alvo de negociação com o Legislativo
Para além das pautas mais amplas, que afetam o país como um
todo, questionamos os líderes das entidades do aftermarket
nacional participantes da reportagem sobre o tema prioritário do
momento para a aliança formada em Fortaleza.
Em tom uníssono, Antonio Fiola e José Arnaldo Laguna apontaram
para a necessidade de criar uma legislação que garanta o direito aos
profissionais e oficinas independentes de repararem automóveis e
máquinas em geral.
Expandindo o tema, Laguna destacou a importância desta garantia
não apenas para a sobrevivência de uma cadeia mais competitiva,
mas também para a manutenção da saúde da frota nacional.
“Todos os players do mercado sabem que nossos reparadores
mais qualificados estão na manutenção independente. Em geral,
os profissionais das concessionárias são treinados para fazer
trabalhos mais simples, dentro da garantia. Agora, na hora de
identificar os problemas e encontrar soluções diversas, a reparação
independente possui mão de obra mais habituada a resolver
defeitos complexos”.
Mostrando compreensão realista do funcionamento atual da
cadeia de autopeças, Laguna compartilhou que o tema do Right
to Repair foi um dos motivos de entidades ligadas à indústria,
como o Sindipeças, não terem se comprometido com a Carta
de Fortaleza. Segundo ele, a indústria de autopeças tem ligação
comercial estreita com as montadoras, players que lideram alguns
dos movimentos de ‘bloqueio’ de acesso a informações cruciais.
“Sabemos que elas não podem se envolver nestes temas e
entendemos isso. Porém, estamos de braços abertos para nos
juntarmos em pautas com as quais compartilhamos interesse”,
concluiu Laguna