A transformação digital foi tema de um dos painéis do 3º Encontro da Indústria de Autopeças, realizado pelo Sindipeças, no dia 20 de junho. Os participantes Luiz Gustavo Mwosa, presidente da Paranoá e fundador da DataWake; Marcos Oliveira, presidente e CEO da Iochpe Maxion, e Ricardo Teixeira Avila, diretor de Operações (COO) da Sabó, contaram como foi e continua sendo o processo de transformação digital em suas empresas. Renate Fuchs, diretora da Accenture Strategy & Consulting, falou como chegar à inteligência da operação. A mediação do painel foi feita por Maurício Muramoto, diretor de Inovação do Sindipeças.
A começar por Renate Fuchs, ela expôs que ainda há uma certa dificuldade em visualizar em tempo real a performance das operações e tomar a decisão correta e no momento certo. “Ainda existe um desafio em relação à produtividade da nossa força de trabalho, em como aumentar essa produtividade ainda mais, junto à tecnologia. E um ponto crítico é que as empresas, cada vez mais, estão tentando capturar os dados de forma correta. Mas, a questão é como utilizá-los da melhor forma e ter a possibilidade de entender falhas nas máquinas de maneira mais rápida e até preditiva. E como garantir o melhor nível de inventário e trabalhar novas demandas por produtos, principalmente novas peças e novos SKUs”.
Cereja do bolo
De acordo com Renate, com o acesso a dados em tempo real e com bons dados, é possível trabalhar a cereja do bolo: a inteligência da operação. “Podemos utilizar os dados e criar algoritmos e insights, que levarão a operação para um lugar de mais alta performance. Aqui, começamos a falar de gestão de ativos, preditiva, prescritiva, e em como se cria um digital clean da fábrica, possibilitando novos formatos e novas demandas. E em como trabalhar o centro de excelência de dados que trará já importantes tomadas de decisões na fábrica”.
O caminho – Luiz Gustavo Mwosa contou como eles criaram um modelo, um mindset digital, a partir do que não queriam. “Quando começamos a transformação digital, em 2017, era desbravar um caminho que não sabíamos aonde iria dar. O que nos norteou no começo foi saber o que não queríamos. Para nós, a robotização extrema, a substituição de pessoas por robôs, não é sustentável no Brasil. Já sofremos com plantas (fabris) que eram altamente automatizadas e não tivemos muito sucesso com isso”.
O segundo ponto colocado por ele foi sobre sobrecarregar as pessoas com informações. “Se pegar a força da 4ª Revolução Industrial e extrair os dados e jogar em tempo real para as pessoas, só aumentará a angústia e a ansiedade delas, pois não somos feitos para processar uma quantidade de dados tão grande. E também não é substituir a caneta pelo tablet”.
Para Mwosa, digitalização é extrair e saber utilizar os dados. “É digitalizar atividades humanas, máquinas antigas e novas, que por mais que tenham CLP (Controladores Lógicos Programáveis), não estão digitalizadas no nosso conceito. Se digitaliza, os dados são extraídos em tempo real e se jogar em um banco de dados, aí que vem o lance de criar vários algoritmos para o que é mais importante: informação para ação, o que interessa às pessoas é o que elas têm que fazer agora”.
Network de digital champions
A Iochpe Maxion é uma multinacional brasileira, com 32 fábricas em 14 países, 17 mil colaboradores e mais de 40 clientes espalhados no mundo, entre montadoras e do setor de aftermarket. Conforme Marcos Oliveira, presidente e CEO da empresa, a transformação digital não era por uma questão de tecnologia. “Mas sim para sermos mais eficientes e respondermos mais rápidos às necessidades de nossos clientes e do mercado. E para integrarmos as novas tecnologias que estão chegando e as que estamos desenvolvendo nas fábricas e, com isso, agregar valor na cadeia automotiva”.
Pela complexidade da operação e para envolver os times dos diferentes países, o esforço inicial foi o processo de educação, treinamento e comunicação nas 32 fábricas, para quem pudessem criar uma visão compartilhada e objetiva. “E com o desafio maior, pois além dos diferentes processos nas diferentes fábricas, nós temos fábricas de cinco e dez anos e fábricas de 40 e 50 anos em produção. Nós temos uma grande diversidade de tecnologia em nossas fábricas”.
O passo seguinte foi a criação de um network de digital champions nas fábricas globais, de líderes do ponto de vista de desenvolvimento e implementação, e que, ao mesmo tempo, compartilham experiências entre as diferentes fábricas. “Esse processo foi muito importante, com a participação de líderes de diferentes níveis na organização e que procuram ajudar na priorização e na organização das atividades de digital transformation da companhia. Esse processo é evolutivo, vem crescendo em termos de integração do que é uma fábrica digital”.
E como Oliveira disse antes, as 32 fábricas não são similares, não estão no mesmo patamar e elas também têm necessidades diferentes, foi estabelecida uma fábrica piloto, na já existente fábrica na Turquia. “Onde procuramos integrar todos os elementos de uma digital factory para a produção de rodas de alumínio poder experimentar e implementar de forma organizada e programada tudo o que temos do ponto de vista de digital transformation. Nas outras 31 fábricas, nós vimos que as necessidades eram diferentes. Mas, a mesmo tempo, avançando com a digitalização em processos que eram mais críticos”, concluiu.
Competitividade
Ricardo Teixeira Avila, diretor de Operações (COO) da Sabó, disse que o trabalho de transformação digital na companhia já vem desde 1980. “Esse processo vem em uma jornada muito natural para o nosso negócio, que é rodada da competitividade. Não estamos indo pela tecnologia simplesmente por ela, mas realmente focando muito nos nossos processos de custos, nas nossas soluções de portfólio de produto e, principalmente, de qualidade”.
É com esse trabalho iniciado na década de 1990, a Sabó incluiu sistemas de informação no contexto de integração. “A partir de 1998, a Sabó optou pela instalação de seu ERP e, com essa solução, nós viemos graduando a disponibilidade de recursos dele”.
Avila também falou sobre sistemas dedicados. “Nós tivemos uma experiência muito interessante ao implantar um sistema integrado de manutenção, mas que não era integrado, era absolutamente isolado. O que foi muito bacana ao longo dessa jornada, para de fato transferir toda a gestão de ativos para um sistema integrado. Viemos fazendo isso em vários passos nessa jornada de competitividade”.