Por Marcelo Gabriel – head do After.Lab [email protected]
Há quase um ano que estamos trazendo mensalmente as comparações das pesquisas MAPA e ONDA, realizadas de forma ininterrupta pelo after.lab desde o começo da pandemia, sobre quatro dimensões dos varejistas de autopeças: quebra ou ruptura no abastecimento, variação de preços, variação nas vendas e variação nas compras.
E todos os meses comparamos o mesmo mês em anos diferentes para avaliar o que mudou e o que permaneceu em relação à percepção dos empresários do varejo. Vale lembrar que a coleta de dados é feita semanalmente com 100 responsáveis por compras nas lojas de todo o Brasil, com amostra distribuída proporcionalmente pelo tamanho da frota em cada região.
Desta forma temos uma amostra mensal de 400 entrevistas, com empresários diferentes, o que garante um nível de confiança de 95% e um intervalo de confiança de 4,86 pontos percentuais, dentro das melhores práticas internacionais de pesquisa de mercado. Apenas para relembrar a metodologia de coleta de dados, os empresários são solicitados a avaliar os resultados da semana em que a coleta de dados é feita com os resultados da semana anterior, e indicar o percentual de variação em relação a cada uma das dimensões pesquisadas. Os resultados consolidados do mês são tabulados e analisados estatisticamente, e analisados na edição impressa do Novo Varejo Automotivo, que você está lendo neste momento.
A interpretação dos gráficos é bastante simples. As linhas verticais em vermelho indicam a variação mensal de cada uma das dimensões, sendo que o círculo representa a média, e os extremos (linhas horizontais vermelhas) a variabilidade em desvio-padrão (neste caso menos um desvio-padrão em relação à média e mais um desvio-padrão em relação à média). As siglas representam cada uma das regiões brasileiras (N=Norte, NE=Nordeste, S=Sul, SE=Sudeste e CO=Centro-Oeste) e a sigla BR representa os dados agregados em nível Brasil. Um linha horizontal tracejada em azul é desenhada em relação à média do Brasil para fins de comparação dos resultados regionais com o resultado nacional. Dito isso, vamos às análises.
ABASTECIMENTO
Podemos notar no gráfico relativo ao abastecimento que houve uma piora na percepção do empresário do comércio varejista em relação ao abastecimento em todas as regiões. Se a média Brasil em 2021 estava em -9,68%, em 2022 esta média chegou a -13,91%, ou 4,23 pontos percentuais de variação, ainda que marginalmente significante (p < ,10). Em 2021 apenas as regiões Sudeste e Norte apresentaram desempenho melhor que o agregado Brasil em relação à quebra ou ruptura de abastecimento, fenômeno que se repetiu em 2022 apenas na região Sudeste. Nossa hipótese para explicar esta realidade está ligada a questões logísticas, e à proximidade dos centros de distribuição que permitem uma reposição de estoque mais rápida na região Sudeste em detrimento das demais regiões, mas é apenas uma hipótese. A região Centro-Oeste foi a que apresentou maior variação na comparação entre os meses de maio de 2021 e maio de 2022, passando de -10,65% para -17,84%, com uma diferença estatisticamente significante (p < ,05).
PREÇO
Na análise da variação do preço, é importante destacar que a diferença no agregado Brasil é invariante entre os anos. Se em 2021 a média mensal de variação percebida de preço foi de 5,20%, em 2022 foi de 5,13%, ou 0,7 pontos percentuais Interessante notar que, apesar de um aumento superior à média Brasil nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste em maio de 2022, os limites superiores de maio de 2021 já apontavam uma variação na direção e sentido das variações aferidas em maio de 2022.
VENDAS
Em relação à variação percebida nas vendas, em maio de 2021 no agregado Brasil a queda reportada foi de -0,52% e em maio de 2022 foi de -1,66%, ou 1,14 pontos percentuais, sendo que em maio de 2021 apenas as regiões Sudeste e Nordeste apresentaram variação maior que o Brasil e demais regiões. Na região Norte a diferença nas vendas entre os meses de maio de 2021 e 2022 foi estatisticamente significante (p< ,05), saindo de um patamar positivo em 2021 para um patamar negativo em 2022, com uma flutuação de quase 5 pontos percentuais. O destaque em 2022 fica com a região Nordeste, que apresentou a maior variação negativa nas vendas, com quase 5% de queda, enquanto as demais regiões variaram ao redor do agregado Brasil.
COMPRAS
Na avaliação da variação das compras entre maio de 2021 e maio de 2022 no agregado Brasil chama a atenção a pouca variabilidade de 2021 em comparação a 2022, cuja diferença é marginalmente significante (p< ,10). As respectivas médias foram -0,26% em 2021 contra -2,70% em 2022, ou 2,44 pontos percentuais. Também é interessante verificar que em 2021 quase todas as regiões apontavam uma variação nas compras muito próxima da variação do agregado país, com exceção da região Norte, e que em 2022 foi a região Nordeste que apresentou o pior desempenho em relação às demais regiões, sendo que Norte, Centro-Oeste e Sul apresentaram resultados positivos em relação à média de variação nas compras.
CONCLUSÃO
Estamos diante de novas notícias pouco positivas em relação à pandemia do COVID-19, muito embora minha opinião pessoal é a de que iremos conviver para sempre com este vírus assim como convivemos com o vírus influenza (causador da gripe) e teremos que nos vacinar constantemente a partir das mutações sofridas pelo vírus, do mesmo modo que nos vacinamos contra a gripe. As questões de abastecimento global, inflação, guerra na Ucrânia, têm contribuído para a construção deste clima de incerteza que estamos vivendo, como se o ano de 2020 ainda não tivesse terminado. Mas levando em consideração as conversas que tenho tido com empresários e executivos do mercado de reposição, as dificuldades enfrentadas ao longo dos últimos 2,5 anos serviram para desenvolver novas formas de atuação e uma resistência a crises que sempre foi marca registrada do nosso setor. Investimentos seguem sendo anunciados, grupos internacionais continuam investindo na abertura de filiais, fabricantes de peças mantém o lançamento de produtos, uma rotina próxima do que fazíamos antes de março de 2020, agora dentro do “novo possível”, com o avanço do home office, das reuniões mediadas pela tecnologia, etc. O que fica, entretanto, é a certeza inequívoca de que estamos no mercado correto.
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